14 de Julho de 1986
No fim das contas ela não começou a me odiar, embora isso nem sempre fosse uma dádiva. Demonstrava avanços sutis para seu pai, que aos poucos confiava mais em mim. O que também não era uma dádiva. Genevieve aparecia em minha casa quase todos os dias para o chá da tarde, na maior parte das vezes trazendo pães, sucos e guloseimas, pois sabia que eu não fazia questão de comprá-las.
— Eu já disse que você não pode simplesmente ficar aparecendo em minha casa, Genevieve.
— Chaaaaato. Seu mordomo não vê problema em me deixar entrar.
— As pessoas podem pensar...
— Que eu sou uma aluna muito, muito dedicada, já que elas conseguem ver meu avanço. Ontem toquei Tchaikovsky para papai, ele ficou tão orgulhoso que me mandou te trazer essa cesta de café da manhã.
— Já pensou em ser atriz? Eu aprecio o gesto, mas você ainda não pode aparecer assim do nada.
Seis meses. Era o que faltava para eu completar dezoito anos. Eu e Genna estávamos nessa rotina há dois anos e meio e eu ainda me surpreendia por ela saber fingir tão bem.
— Já, eu iria adorar poder viver a vida de várias pessoas. Me dê um bom motivo para não vir aqui.
— Eu poderia estar pelado. Ou acompanhado. Ou ambos.
— Aposto que você é virgem.
— Esse tipo de conversa realmente não é apropriada para...
— A filha de um Duque — ela caçoou e pegou um chocolate de dentro da minha cesta, jogando os pés por cima de um dos braços da poltrona e deitando as costas no outro. — Você é, não é?
— Não. E não sei como isso pode ser pertinente para você.
— Com quem foi?
— Não te interessa. Não vou sair expondo a vida das pessoas por aí.
— Que bom. Guardar esse segredo é o mínimo que eu esperaria de você, na verdade.
Uma pausa. Normalmente tínhamos silêncios confortáveis, mas não dessa vez.
— O que aconteceu, Genna?
Ela suspirou. Péssimo sinal.
— Se você pudesse ser qualquer pessoa no mundo, quem você seria, Timmy?
— Não sei. Algum rockeiro famoso, talvez.
— Você gostaria de seguir carreira na música?
— Sim. Eu toco violão e guitarra, canto também. Tem alguns meses que me reúno com uns caras e... Sei lá.
— Você nunca me fala nada sobre você, mas sabe minha vida toda.
— Não é minha culpa de você ser uma tagarela.
— Vocês tem músicas próprias?
— Algumas.
Em pouco tempo nós dois estávamos sentados no tapete do meu quarto, as letras escritas por mim espalhadas pelo quarto enquanto ela lia. Um violão estava apoiado em minha perna e Genevieve me pedia para tocar uma após a outra.
— São todas lindas, Timmy. Tenho certeza de que fará o maior sucesso.
— Estamos conseguindo um bom dinheiro tocando em bares e casas de show, espero que algum olheiro nos veja em algum momento.
— Acho que posso te ajudar com isso, se você quiser. Tenho conhecidos em algumas gravadoras grandes, posso comentar que meu professor de música vai tocar em algum lugar e você faz o resto.
Eu a encarei por alguns segundos sem dizer nada e deixei o violão de lado, limpando as mãos suadas na calça jeans.
— Faria isso por mim?
— Mas é claro que sim. Eu gosto de você, lembra? Você é meu amigo.
Não contive o impulso de abraçá-la, o impacto nos lançando ao chão. Ri do grito agudo de Genna e ela logo me acompanhou. O riso morreu quando os olhares se encontraram. Cada centímetro do meu corpo cobria o dela, grudando-a contra o tapete turco, uma das peças caríssimas dos tempos de sucesso de tia Janete.
Senti os dedos de Genna em minhas costas, caminhando para baixo de minha camiseta. Minha respiração vacilou e eu sabia que o arrepio sentido não era apenas fruto dos dedos frios contra minha pele quente.
— Genna...
— Shhhh
— O que você está tentando fazer? — mas as pernas dela já envolviam minha cintura e meu olhar se desviava para seus lábios.
— Pelo amor de Deus, homem, cala a boca e me beija.
Então, pela primeira vez eu a beijei. E, céus, era como estar no paraíso. Deixei minhas mãos explorarem livremente seu corpo enquanto ela fazia o mesmo, alternando entre minha boca e meu pescoço quando precisava de um tempo para respirar. Apertei sua cintura tentando evitar que minhas mãos descessem mais e Genna rebolou contra meu quadril em resposta, arrancando um ofego de mim. Mordisquei seu pescoço enquanto ela tentava puxar minha camiseta para cima, conseguindo tirá-la após alguns segundos.
— Precisamos parar. — murmurei contra seus lábios, mas ela apenas abriu o botão do meu jeans, empurrando minha calça para baixo com os pés.
— Quem disse? — ela mesma arrancou o vestido azul claro, jogando-o para o outro lado do cômodo.
Eu sabia que existiam mil explicações plausíveis para que parássemos, mas nenhuma delas realmente fazia sentido em minha mente naquele momento. Não enquanto ela me beijava novamente e então me empurrava pelos ombros, me guiando para descer os beijos. E como sempre, quando se tratava de Genna, eu apenas obedeci.
Minha mente revivia a tarde anterior de novo e de novo. Jamais tinha me permitido demonstrar qualquer coisa para ela, mas quando finalmente nos beijamos, não havia outro lugar no mundo onde eu desejasse estar. Então nós nos beijamos e nos tocamos até que o ar faltasse e estivessemos ambos satisfeitos. Não saímos das preliminares, mas mesmo isso com ela era diferente e melhor.
Nesse momento eu estava com minha banda e tínhamos acabado de tocar em uma famosa casa de shows da cidade quando o homem gordo e cheio de sardas nos abordou na saída do palco.
— Vocês são bons, garotos! Vim para parabenizá-los, sou Richard Carlson. — ele estendeu a mão direita e nos entreolhamos sem palavras. Me apressei para apertar a mão do maior caçador de talentos de toda Greenderfield.
— É um prazer, Senhor Carlson. Sou Timothy Miller e esses são Paul, Andrew e Gary.
— Timothy Miller, ouvi falar de você. É professor de piano, certo?
— Nas horas vagas.
— Gostei de suas músicas, rapaz. Vocês podem passar na segunda feira no estúdio da Green Music Studios para conversarmos uma possível parceria?
— Mas é claro! — Andrew foi quem respondeu. Nenhum de nós conseguindo conter o sorriso no rosto.
Eu precisava agradecer Genna por isso e tinha muitas ideias de como fazê-lo.
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Sorrisos Quebrados
RomanceQuando um visitante inesperado surge, o Rockstar Timothy Müller acaba relembrando sobre um amor que era proibido por muitas razões, mas floresceu ao longo dos anos no coração de dois jovens. Certamente, não era o que Müller havia planejado para si...