Ao entrar na sala de aula, Nícolas e eu nos deparamos com três garotas que nos cumprimentaram de imediato, suas vozes misturando-se em um coro de simpatia.
— Oi, tudo bem? — perguntou uma delas, com cabelos ruivos e uma pele muito clara, quase tão pálida quanto a minha.
— Olá. — respondi, tentando disfarçar meu desinteresse. O que essas garotas queriam, afinal?
— Oi, tudo certo! Prazer, meu nome é Nícolas, e este aqui é o Thales, o nosso ranzinza. — Ele soltou uma risada nervosa, enquanto eu arqueava uma sobrancelha, surpreso com a descrição.
— O prazer é meu, eu sou Giulia! Essas aqui são a Marcela e a Maria de Lourdes, mas a gente a chama de Malu — explicou, apontando para as outras duas. Marcela tinha cabelos negros e cacheados, com uma pele morena que destacava sua beleza. Já Malu exibia um cabelo liso e brilhante, de um tom de mel que parecia capturar a luz da sala.
— Então vocês são novas na escola ou já estiveram aqui antes? — perguntou Nícolas, tentando puxar conversa.
— Na verdade, somos novatas. Nos conhecemos na entrada da escola e decidimos ficar juntas para nos enturmar. Sempre é complicado ser nova, né? — disse Malu, com um sorriso compreensivo.
Eu a observava, admirando a facilidade com que ela se comunicava. Como era fácil para elas se conectarem.
— Sério? — Nícolas parecia genuinamente interessado. Elas acenaram afirmativamente. — Nós também nos conhecemos no caminho para a escola. Eu acabei esbarrando no Thales.
— Não esquece de mencionar que você me derrubou! — intervi, enquanto ele riu nervosamente, coçando a cabeça.
O sinal soou abruptamente, ecoando pelo corredor.
— Viu? Vamos logo! — Eu disse, entrando na sala com Nícolas e as garotas, procurando um lugar onde pudéssemos nos sentar juntos.
Naquele dia, todos nós nos acomodamos em cadeiras próximas. Nícolas, sempre mais sociável, puxou conversa com as garotas sobre suas vidas. Giulia contou que sua família possuía uma linha de casas de festa pelo país. Marcela compartilhou que seus pais tinham alguns restaurantes na cidade, enquanto Malu comentou que seus pais eram médicos, sempre ocupados com o trabalho. Isso me fez pensar nos meus próprios pais, sempre ausentes, mergulhados em suas responsabilidades.
Quando olhares curiosos se voltaram para mim, percebi que era minha vez de falar.
— E você, Thales, conta um pouco sobre você! — disse Giulia, seu olhar animado.
— Ah, meus pais têm uma agência de modelos, bem conhecida, na verdade. Minha mãe é estilista, e meu pai coordena tudo com a equipe. — Falei, desinteressado, como se o trabalho deles não tivesse relevância na minha vida.
— Sério?! Modelo? — Malu exclamou, seus olhos brilhando. — Meu sonho é ser uma grande modelo! Desfilar em passarelas, viajar pelo mundo... isso seria tudo para mim!
— Quem sabe um dia você pode conversar com eles. Eles gerenciam campanhas com modelos jovens — eu ri, tentando compartilhar um pouco da empolgação dela.
— AHHHHHHH! — Ela parecia em êxtase, enquanto eu apenas sorri, um tanto desconcertado.
— E você, Nícolas? O que seus pais fazem? — Perguntei, mudando o foco.
— Ah, eles... — Nícolas começou, mas foi interrompido pela professora, que nos repreendeu por estarmos conversando.
A aula seguiu seu curso, e a professora, com um olhar incisivo, nos fez calar. Após a pequena interrupção, Giulia pediu nossos números e mencionou que criaria um grupo no WhatsApp com os cinco. A facilidade com que elas se socializavam era admirável. Eu sentia que essas garotas eram como um farol em um mar de incertezas, enquanto eu lutava para me adaptar.
Quando a aula acabou, nos despedimos das meninas na saída, e Nícolas e eu seguimos para a esquina onde nos encontramos mais cedo. Ao chegar em casa, meus pais estavam me esperando para o almoço — um milagre, já que quase nunca almoçamos juntos.
— Oi, meu bem! Como foi seu primeiro dia? — minha mãe perguntou, o sorriso no rosto iluminando a sala.
— Ah, foi normal, nada demais. — Respondi, enquanto me sentava à mesa. Meu prato já estava à minha espera, um gesto que sempre me trazia um conforto familiar.
— E aí, fez amigos? — meu pai perguntou, a esperança transparecendo em sua voz. Eu podia sentir a expectativa deles em relação a mim.
— Bem, acho que sim... conheci um garoto no caminho para a escola. Ele é da minha sala, e fiz amizade com mais três garotas. — Falei, fazendo aspas com os dedos ao mencionar "amizade".
— AHHHHHHHHHHHH! — Meus pais gritaram em uníssono, fazendo com que quase engasgasse com a comida.
— Meu Deus, o que foi isso, é algum bicho? — perguntei, perplexo.
— Finalmente, nosso filho fez amigos! Estou tão feliz! — disse minha mãe, com os olhos brilhando. — Você precisa marcar algo aqui em casa, para ontem meu filho. Queremos conhecer seus amigos!
— Mas... nós só trocamos números e a Giulia vai criar um grupo no WhatsApp, não é nada de mais mãe, não precisa de tudo isso... — eu tentei desviar a expectativa.
— Calma! — meu pai disse, rindo. — É um começo. E quem sabe, logo vocês estarão se divertindo juntos, isso iria ser bom.
— Ok, que seja pai pode ser... — outra vez eu tentei desviar a expectativa.
Após o almoço, passei a tarde conversando com Helena, minha prima e a única amiga em quem tinha total confiança com tudo que acontecia na minha vida. Compartilhei com ela as novidades sobre as novas amizades e como foi meu dia. Ela ficou empolgada e prometeu me visitar assim que pudesse para que falássemos pessoalmente sobre os novidades.
Depois de nossa conversa, fiz as atividades da escola e revisei um pouco do conteúdo. Porém, algo parecia inquietar minha mente. A ideia de fazer amigos, de pertencer a um grupo, era nova e estranha para mim, nunca gostei de me enturmar a regra sempre foi clara para mim "Se pode me machucar, é melhor que e afastar" eu sempre desenho uma redflag na testa de qualquer um, que faça o mínimo de atitude contraditória.
Enquanto tentava descansar, meu celular começou a vibrar. Esperei que fosse algo importante, mas eram apenas mensagens de Nícolas. O que ele queria? Se não fosse nada sério, eu certamente o faria pagar por me acordar.

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Por favor não vá
RomanceThales, um garoto de 15 anos, enfrenta a solidão e os desafios de ser um adolescente em sua nova escola. Carregando o peso de problemas pessoais que o isolam do mundo, ele acredita que este será apenas mais um ano marcado pela solidão e pela repress...