O Feitiço de Proteção

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Minerva contornou a mesa e se apressou até abraçar Olivia White fortemente.

Ginny Weasley ficara do lado, esperando ser a próxima a receber o afeto.

Hagrid caminhou até seu lugar na mesa dos professores, arrastando a cadeira, fazendo um barulho irritante e alto. A mesa, os pratos e talheres se deslocaram dramaticamente quando ele se sentou.

Voltei a minha atenção ao lugar a frente da porta e vi White retribuir o abraço. Os braços cobertos pelas mangas cumpridas de veludo preto contornaram as costas de diretora. Seus olhos com cílios grossos se fecharam sob os fios loiros da franja curta repartida ao meio.

O rosto quadrado se enterrou atrás do ombro ossudo de Minerva, se escondendo até o topo do fino nariz.

Elas se soltaram e Olivia abaixou a cabeça enquanto a diretora abraçava a amiga.

Os outros professores voltaram a conversar entre si, mas meus olhos não se moveram um milímetro sequer.

Quando percebi elas estavam vindo em direção a mesa.

Meu coração disparou novamente quando vi seus olhos se arrastarem na minha direção. E gelei quando os seus verdes esmeralda se encontraram com os meus negros.

Merlin! Aquele olhar estava me despindo como sempre fazia quando a encarava por muito tempo, mas agora era mais intenso, era diferente.

Algo no jeito dela andar, algo no jeito que encolhia os ombros ou abraçava os próprios braços me fazia paralisar.

Ela não era assim, ela não era!

A menina que agora era uma mulher, estava mudada.

O salto batendo contra o chão ao dar os passos estava me deixando zonzo.

Cerrou os punhos ao desviar o olhar e sorriu mecanicamente para Trelawney na direção contrária.

Contornou a mesa do lado que eu estava enquanto Ginny Weasley fazia o mesmo do lado oposto, assim como Minerva indicava.

Com formalidade, cumprimentou em silêncio os professores que se levantaram de prontidão.

Me levantei sentindo meus joelhos tremerem pelo nervosismo em ter minha salvadora ali.

Enquanto a via chegar cada vez mais perto, lembrei de uma aula no quinto ano, quando ela derrubara toda a poção de Malfoy propositalmente depois do Sonserino provocar Ronny Weasley e sua família.

Malfoy berrou como o garoto mimado que era, culpando a responsável que não fazia nada para esconder o que fez.

Naquele dia estava tão cansado de todas as brigas entre Grifinórios e Sonserinos que pela primeira vez cogitei tirar pontos da minha própria casa. O pensamento sessou ao perceber que só estava cogitando isso pois se tratava de uma briga envolvendo Olivia e ela era sempre tão diplomática que para fazer aquilo, Draco deveria ter merecido.

Então virei em direção a adolescente loira e esbravejei até não aguentar mais, sentindo meu rosto esquentar em vermelhidão.

Pela primeira e única vez, pude vê-la quase vacilar, quase deixar de sustentar aquele olhar  controlado e poderoso de sempre.

Falei horrores e absurdos que nem mesmo acreditava, mas falei. Nunca tive a capacidade de me desculpar.

De volta ao salão comunal, a vi estender a mão em minha direção. Hesitei. Arfei.

Olivia levemente levantou o olhar para encontrar o meu.

Senti minha expressão séria endurecer mais ainda.

Senti como se estivéssemos só nós dois novamente.

Aquele olhar estava tão mudado que eu não conseguia nem explicar o que me faziam sentir.

Me apressei a retribuir o aperto de mão e voltei a sentar e fitar a comida no meu prato.

O aperto no peito e o nó na garganta continuavam, mas por fora eu continuava sendo o tal Morcego Das Masmorras do jeito que os alunos gostavam de me chamar, pelas minhas costas.

A cadeira vazia ao meu lado foi ocupada por White que passou a refeição em silêncio assim como eu, sem desviar a atenção a nada mais que não fosse a comida.

Me lembrei do jantar de Halloween de seu terceiro ou quarto ano.

Ela e os gêmeos Weasley resolveram se vestir de Dumbledore, com direito a barba, vestimentas e óculos.

Lembro de assistir o velho diretor apreciar o que os jovens aprontaram e os fazer dar todos os doces que conseguiam para ele em troca de saírem livres de uma detenção.

No jantar, Ronny Weasley os acompanhou em uma competição ridícula de quem comia mais frango em uma única refeição enquanto eu apenas me preparava para levar às pressas para a enfermaria o primeiro que passasse mal.

White fora a segunda a desistir, depois de Fred e acompanhada de George, fazendo de Rony o vencedor. As gargalhadas dela vendo o ruivo se empenhar para ganhar a competição sobressaiam aos barulhos das conversas paralelas.

De volta ao salão comunal, via de canto de olho ela brincar distraída com o frango no prato, sem ter comido praticamente nada.

O ar estava me sufocando. Terminei a refeição e me retirei sem me despedir de ninguém.

Duas horas depois, cansado de perambular pelos aposentos, entrei na minha escura sala de aula. O frio da classe me fez sentir um arrepio. As masmorras eram o lugar mais frio do castelo.

Deixei a porta aberta e me arrastei até a carteira a frente da lousa. Me sentei, olhando o corredor escuro.

Repousei os cotovelos na mesa a minha frente e encaixei a cabeça nas mãos.

Soltei todo o ar pesadamente.

Aqueles olhos não saíam da minha mente... Aqueles tristes olhos.

O escuro e o silêncio do cômodo me ajudariam a organizar as ideias e pensamentos que pareciam querer implodir meu cérebro.

Olivia White perdera a casa que crescera e toda a família, lhe sobrando uma enorme e vazia fazenda em uma vila perto de Londres. Sabia também que ela passara um tempo na ala psiquiátrica de Saint Mungus e depois se isolara na propriedade da família, não recebendo visitas ou cartas, sem contato com o mundo externo, apenas visitando a Toca dos Weasleys uma vez ou outra.

Reconheci os passos de Minerva se aproximarem no corredor e levantei a cabeça.

Talvez ela precisasse falar comigo, talvez quisesse me revelar mais sobre minha aluna.

-Estou feliz que esteja aqui. -Sua fina voz ecoou pelo andar praticamente vazio e eu soube que ela estava acompanhada.

Me esforcei, mas não consegui ouvir a resposta de sua acompanhante.

A diretora abriu a porta dos aposentos a frente da classe que ocupava e a luz iluminou ela e White que estava ao seu lado.

Mais um abraço e Minerva aparatou.

Observei Olivia entrar nos aposentos, admirando todas as paredes a sua volta. Parecia cansada.

De repente, no meio daquele total silêncio, um barulho de aparatação se formou e eu a ouvi falar pela primeira vez.

-Estupefaça!

E uma luz clara se formou no cômodo que ela estava.

A Leoa De SnapeOnde histórias criam vida. Descubra agora