Conversas na Enfermaria

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-Ela se foi, senhor.

Virei meu rosto para o lado contrário de Potter.

Estava novamente sozinho.

Minha salvadora havia partido.

Senti um aperto no peito. Não teria mais White embaixo de minhas asas como sempre tive, acompanhada de seus amigos que só me davam trabalho e me faziam perder horas de sono para salvar suas vidas, na maioria das vezes a de Potter, mas a dela me fazia perder noites ao invés de horas, algo que eu nunca soube explicar nem a mim mesmo o porquê.

Me esforcei para manter minha expressão séria, ainda com o rosto virado, enquanto a dor da vida me atingia novamente, aquela dor que eu sempre sentia, dor em ser quem eu era, em ter feito o que eu fiz e tudo que se desencadeou após cada erro cometido.

Mais do que nunca, senti falta de Dumbledore.

Ele ao menos entenderia minha dor, ele sabia de toda a verdade, sempre soube.

Se morrer pelas minhas mãos não fosse um de seus próprios planos, ele estaria lá, ao lado da minha cama, me olhando por cima de seus óculos meia-lua enquanto acariciava a longa e branca barba.

Ele diria algo parecido com "Olá, meu jovem. Finalmente resolveu despertar " ou "Bem-vindo de volta, estava começando a me preocupar" e me daria um de seus largos sorrisos.

O que eu sentia por Dumbledore era uma mistura de ódio e afeição. Ele fora a figura paterna mais próxima que um dia eu poderia ter, mas o homem que mais me usou em seu grande plano, para o "bem maior" como costumava a dizer, sem dó e nem piedade. Não que eu merecesse outra coisa e nem que isso não fosse o que eu o prometera em troca da proteção de Lily Potter, mas de qualquer forma foi isso que aconteceu.

Fechei os olhos e os apertei, respirei fundo e tentei controlar o misto de sentimentos que estavam prestes a me invadir.

Potter pigarreou.

Como eu queria que ele fosse embora naquele exato momento! Se tivesse condições, eu mesmo o teria posto para fora.

O olhei da forma mais fria que consegui, levantando as sobrancelhas e aproximando os lábios.

Ele não se deixou abalar pela carranca, tomou coragem e encostou em minha mão na tentativa de segura-lá, mas eu a tirei instantaneamente, me espremendo ainda mais contra o encosto da maca, o olhando com olhos arregalados.

Os olhos de Lily me fitaram assustados e então intrigados. Ele parecia hesitar ao tentar falar algo. Respirou fundo e ajeitou a gola da camisa que usava.

Esse descanso do choque inicial e pausa na troca de olhares, foi o motivo que me fez abaixar a mão que estava praticamente colada ao peito e me ajeitar na cama da enfermaria. Pude sentir minha própria expressão suavizar em seguida.

O garoto respirou fundo novamente a minha frente e me encarou um pouco mais confiante.

-Obrigado por tudo o que fez por mim, Snape.

Depois de alguns momentos sem reação, acenei com a cabeça silenciosamente. Desviei o olhar dele para não mostrar como estava encabulado com a situação. - É o homem mais corajoso que já conheci.

O encarei novamente, agora com desconfiança, mas a expressão dele não me mostrava nenhum sinal de zombaria.

-Eu sinto muito, Potter- Falei rispidamente, quase sínico, para não demonstrar o sentimento oposto que me consumia naquele momento.

-Obrigado, professor.

Assenti.

O menino estendeu a mão em minha direção e eu a apertei, agora com insuspeição.

A Leoa De SnapeOnde histórias criam vida. Descubra agora