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0.9

POV Any

Chegou o dia da audiência da guarda. Tivemos algumas semanas para nos organizar e enfim esse dia veio. Confesso que estou nervosa, sei o quanto Thiago pode ser determinado e ultrapassar todos os limites quando quer algo.

Contei à Caio sobre a cláusula do testamento e ele me informou que provavelmente metade de seus bens seriam congelados até que ele tenha um herdeiro. Meu ex-marido, sem dúvidas, estava sabendo disso e essa era claramente sua motivação para ir atrás da guarda. Dinheiro, sempre foi sobre isso. Parte de mim queria tanto acreditar que uma pequena parte dele ao menos gostava de Estela, mas tenho que encarar a verdade. Não quero mesmo minha filha perto desse homem, ele claramente é uma má influência para seu caráter. Quero que Estela seja uma menina sonhadora, boa e feliz com o que é realmente importante, as pessoas, a família, os amigos e os momentos únicos da vida. Não a quero presa às coisas materiais. Detesto gente superficial.

Josh e eu nos encontramos na entrada da vara da família, nos cumprimentamos formalmente e fomos logo à sala designada. Estela é muito pequena então foi decidido que era melhor deixá-la afastada. Sugestão dos advogados de Thiago inclusive, pois sabiam que a minha filha ia desejar ficar comigo. A juíza se convenceu com a alegação e estabeleceu que seria conflituoso para uma criança essa escolha. Apesar de me prejudicar, concordo em não envolvê-la, não quero minha menina nessa briga toda.

Ainda não sei como contarei à ela sobre essa questão dos pais, imagino a confusão que isso criará em sua cabecinha e não estou pronta para tantas perguntas. Pretendo contá-la em breve, principalmente se eu conseguir a guarda unilateral.

A audiência começa e obviamente os advogados de Thiago usam todas as artimanhas possíveis. O problema é que eu e Josh somos os pais realmente, então a juíza, mesmo que inclinada para o lado do meu ex, não pode ignorar esse fato decisivo. A questão financeira novamente é comentada e antes que eu e Caio pudéssemos sequer falar algo, Josh nos surpreende alegando que sua fortuna é o suficiente para suprir milhares de filhos e que ele nos ajudaria. Fico em choque, mas muito feliz com sua atitude. Ele me ajudou mostrando não ser tão babaca quanto eu imaginava.

Obviamente não espero um centavo dele, assim como expliquei na primeira vez, mas isso é assunto para outro momento. A juíza está contra a parede e se vê impossibilitada de não me conceder a guarda unilateral. Ela concede à Thiago alguns fins de semana com visita vigiada, que ele claramente não tem interesse. Furioso, ele me olha com desdém, e sai da sala seguido por seus advogados.

Minha alegria era tanta que esse showzinho de Thiago foi irrelevante. Após o veredito abracei meu advogado e o agradeci pelo empenho em me ajudar, poucos advogados arriscariam sua reputação lutando contra todos aqueles de Thiago. Apesar de Josh não estar disposto a assumir seu papel de pai, me sinto grata à ele também, sua ajuda foi fundamental.

Semana que vem nos reuniremos uma última vez para definir os termos da tutela e finalizar os documentos.

Minha maior preocupação agora é em como contarei à Estela que o homem que ela tem como pai desde que nasceu não é, de fato, seu pai e principalmente, como direi que seu real pai não quer contato com ela. Essa situação toda me corta o coração. Espero eu que ela reaja bem e entenda que o importante é ter uma mãe que a ame muito cuidando dela. Aos poucos explicarei toda a situação, ela é muito novinha para compreender certas coisas.

Liguei para Sabi e Joalin, hoje iremos comemorar. Decidimos ir ao barzinho novo e aproveito a oportunidade e chamo Sina, Heyoon e Noah. Estela fica com os avós e aproveito a noite com meus amigos.

Foi bom demais ter esse momento de zero preocupação, me senti jovem novamente. Juntar os amigos novos aos velhos foi uma ótima ideia, todos se deram muito bem e acho que vamos formar um grupão.

Eles me fazem um bem danado.

Minha vida parece enfim estar entrando nos eixos.

Já era hora né.