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POV Josh

Lamar foi o primeiro a visitar Any enquanto eu e Sabina discutíamos quem ficaria para acompanhá-la. Acabou que ela acabou cedendo e depois dos outros dois irem vê-la, foi a minha vez. Pedi à Cecília que separasse umas coisas minhas para passar uns dias aqui e logo meu motorista as trouxe.

Entro no quarto de Any e meu coração se parte ao vê-la cheia daqueles aparelhos e fios, com a expressão antes serena, agora substituída por uma de fraqueza, aquela situação me faz ter vontade de chorar como uma criança, mas temo que não sobrou mais água no meu corpo. Aproximo uma cadeira da cama e dou um beijo delicado em sua testa a tratando como se fosse feita de cristal, prestes a quebrar com um simples toque.

Pego sua mão e distribuo ali dezenas de beijos mesmo com aquelas patifarias de hospital presas à ela. Noto seu dedo sem aliança e me entristeço ainda mais, de duas, uma, ou tiraram para a cirurgia ou ela mesma não quis mais usar depois que brigamos. Rezo para que seja a primeira opção, procuro o saco que eles colocaram as coisas dela e encontro o anel o devolvendo para onde nunca devia ter saído. Seguro a mão dela e a observo até sentir minhas pálpebras pesando e adormecer ali mesmo.

Acordo assustado um tempo depois ao escutar um bipe acelerado de uma das máquinas, chamo pela enfermeira e logo toda uma equipe adentra o quarto e pede que eu me afaste. Voltei e eles dizem que tiveram que intubá-la, pois parou de respirar por conta própria. Mando mensagem para os nossos amigos avisando sobre e volto para o meu lugar. Não pude dormir o resto da noite, temendo pegar no sono e ela precisar de mim.

No dia seguinte, todos apareceram no horário de visitas e tive que ser forte para não desabar na frente de Estela, depois de muita insistência, me fizeram ir comer e passar um tempo com a minha pequena enquanto os pais de Any foram ver a filha. Vamos esperar o estado de Any melhorar para contar para Estela sobre, é melhor pra ela não sofrer por antecedência, então quando ela perguntou pela mãe, inventei uma desculpa. 

Meus sogros não demoraram na visita e logo voltaram visivelmente abalados. Conversamos e concordamos de Estela passar mais uns dias com eles já que ficarei no hospital com Any dia e noite. Aproveitei e liguei para Krystian e avisei que ficaria umas semanas ausente, expliquei toda a situação para ele, já que é o meu funcionário de confiança naquela empresa. O chinês ficou preocupado com a amiga e disse que viria visitá-la ainda hoje e prometeu segurar as pontas por lá. Finalizei a ligação e voltei para o hospital.

Fui recepcionado com notícias devastadoras, o médico disse que o efeito dos remédios devia ter passado e que já havia tido tempo o suficiente para Any acordar e como não acordou, fizeram novos exames e constataram que ela está em coma. Significa que ela pode ou não acordar a qualquer momento, ele nos encorajou a conversar com ela, pois segundo ele, ela precisa de um incentivo para sair desse estado e há grandes chances dela poder nos escutar.

A partir daí, passei a conversar com ela todos os dias na esperança dela me escutar, na verdade, todos nós falávamos o dia inteiro com ela e até chamei um pastor aqui para orar por ela, pois sei que ela tem uma ligação forte com Deus.

Fazia pouco mais de uma semana que Any estava em coma e não teve um dia que saí de perto dela por mais de uma hora, a única coisa que me tirava de lá, era Estela. Sei que ela também está sofrendo, apesar de não termos contado nada à ela, a mãe sumiu e isso jamais tinha acontecido, pra piorar, eu não estava feliz e carinhoso como antes, a via pouco, com medo de contaminá-la com as minhas trevas. Ela também não era mais a mesma, o sorriso que nos encantava não era mais visto, ela não queria mais brincar ou comer direito e a única coisa que a animava minimamente era o pipoquinha.

Encaro Any sentado na minha cadeira de sempre e decido reforçar como eu a amo e preciso dela.

— Sabe amor, já tem mais de uma semana que você tá mal assim, a nossa filha ainda não sabe, mas irei sentar com ela e explicar tudo hoje. Você faz falta na nossa vida, eu sei que provavelmente arruinei tudo, mas como eu já te disse, o trauma é a minha bagagem... Sei que devo melhorar pra você e pra Estela,
confesso que ainda tenho medo do amor, medo de ser traído, medo de acabar, porque nada de bom durou muito tempo na minha vida...

— Any, eu vi o amor destruir a minha mãe. Isso não é justificativa pra duvidar do seu, eu sei. Eu te amo, como nunca amei ninguém que não tenha o meu sangue e nada nesse mundo vai me fazer abrir mão do que temos, da nossa família... Esses meses com vocês duas foram os melhores da minha vida, meses... pareceu uma vida inteira...

— A verdade é que nunca me senti tão amado e cuidado em toda a minha vida. Me sinto completo com você e a nossa estrelinha, não preciso de mais nada. Eu definitivamente não ficaria triste em ter mais uns dez filhos com você e encher aquela casa com mini cópias nossas, mas só nós três já é perfeito pra mim, já me faz o homem mais feliz do mundo... – seco as lágrimas insistentes que desciam pela minha bochecha

— Dizem que lar é onde o seu coração mora e eu achava isso tão clichê... mas você me provou que é verdade... você e a nossa pequenininha são o meu lar, eu consigo ser feliz com vocês não importa onde, nós moramos a maioria da semana em um apartamento minúsculo, mesmo eu tendo um gigantesco na mesma rua... nunca te contei isso, porque eu te conheço muito bem pra saber que você não ia se mudar e eu amo sua simplicidade...

— Meu amor, você me ensinou que existem coisas mais importantes que impérios, carreira, dinheiro e negócios e se eu tivesse que trocar tudo o que eu tenho por vocês, não tenha dúvidas, que eu trocaria feliz da vida só de ter a minha família – beijo sua mão e a molho acidentalmente com as minhas lágrimas

— Volte para nós, linda, precisamos de você – finalizo com a voz falha e me inclino para beijar a sua testa carinhosamente

Recebo uma ligação dos pais de Any cerca de uma hora depois e me preparo mentalmente para a conversa que terei com a minha filha. A levo à uma sorveteria e depois nos sentamos num banco do parque afastado do barulho.

— Filha, o papai precisa conversar sério com você

— É sobre a minha mamãe né – fala triste

— É, princesa

— Sua mãe tá muito doente e foi parar no hospital há uns dez dias, eu não te falei antes porque eu queria que ela melhorasse e você não tivesse que vê-la mal, mas você merece saber... – digo e Estela fica quieta por um minuto

— Minha mamãe vai virar estrelinha no céu, papai? – pergunta chorando e a abraço

— Não, amor, vamos ter fé, ela precisa do nosso apoio filha, o doutor disse que talvez ela possa nos escutar e podemos ajudá-la a melhorar conversando com ela – seco as lágrimas da minha pequena

— Eu quero falar com a mamãe – Estela fala decidida

— Tem certeza filha? Ela não tá do jeitinho que você tá acostumada...

— Sim papai, me leva na minha mamãe

— Tudo bem, querida, eu vou te levar – a pego nos braços e a mantenho ali por um tempo reunindo forças para levá-la

Eu vi q teve gente que ficou bem chateado porque os dois tiraram conclusões precipitadas na briga, mas entendam que a Any tomou a decisão de não aceitar menos do que ela merece e sinceramente, ela tá certíssima, se um namorado meu mandasse me seguir eu não ia explicar nada, ia ficar era com medo, é o tipo de gente obsessiva que comete feminicídio, eu não acho normal nem saudável. O Josh podia muito bem ter falado que não foi ele e tava tudo resolvido, não falou porque tava cego de ciúmes.

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