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Não a vi na escola no dia seguinte, apesar de todos os amigos dela estarem no refeitório durante o intervalo. Ela também não apareceu na aula de química. A ausência dela me intristeceu um pouco. 

Evitei João durante todo o dia - inclusive suas ligações e mensagens. Em algum momento eu precisaria falar com ele, nós éramos namorados afinal de contas, só queria atrasar isso o quanto pudesse.

Após as aulas, Tuanny e eu chamamos um Uber e saímos diretamente do prédio da escola para o carro. Tudo que eu não precisava era ter que vê-lo na saída.

Naquela noite liguei para minha mãe. Nós conversamos por horas e ela me falou que estava muito feliz com o novo trabalho, mas com saudades de mim.

Me senti um pouco egoísta ao perceber que eu só queria que ela tivesse odiado o trabalho novo e que estaria em breve voltando para casa.

Joguei esse pensamento para longe e disse a minha mãe que também sentia muito a falta dela.

Quando desliguei, fiquei um bom tempo olhando para o teto, repassando toda a última semana na minha cabeça. A principal pergunta que me rondava, entre tantas coisas, era: por que eu estava tão interessada naquela garota loira? Não devia me sentir tão afetada por ela. Mas desde que a vi, eu simplesmente não conseguia tirá-la dos meus pensamentos. Acho que eu já podia fazer um desenho perfeito de seu rosto de tanto que andava pensando sobre ela, sobre seus olhos curiosos, seu sorriso que era meigo e tão bonito, a forma como ela arrumava os óculos sobre a ponte do nariz...

Virei de peito pra baixo e enfiei a cabeça sob o travesseiro tentando calar os meus pensamentos. Por que diabos eu estava tão encantada por aquela garota?

De repente meu celular tocou. Espiei pela barra de notificações. Havia cinco mensagens no grupo que eu estava com Natalia, Tuanny e Joana, uma amiga minha de minha antiga escola. E uma mensagem de forma privada, solitária, de João.

"Por favor, vamos conversar"

Queria muito ignorá-lo, abandonar meu celular em qualquer lugar e fingir que aquela mensagem não existia, inventar uma desculpa qualquer, mas eu não podia fugir de João para sempre. Querendo ou não eu tinha que, pelo menos, ouvir o que ele tinha a dizer.

Mandei uma mensagem de volta pedindo que ele me ligasse. Sentei-me na cama e respirei fundo antes de atender.

— Oi, gata. — ouvi sua voz animada.

Não respondi.

Ele suspirou do outro lado da linha, e falou parecendo mais sério, mas ainda carinhoso:

— Quero ouvir sua voz, estou com saudade de você.

Me mantive ainda em silêncio. Em parte porque eu não sabia o que falar, mas principalmente porque eu não sabia como iniciar aquela conversa sem despejar sobre ele tudo o que estava sentindo de fato.

— Eu te amo. — João falou como se suas palavras fossem suficientes e explicassem muita coisa. Mas tão bonitas palavras não me causaram nada - pelo contrário, elas soaram tão genéricas quanto as de um estranho informando as horas.

Esperei em silêncio por mais, dando a João sua chance. Apenas esperei.

— Eu... eu conversei com a menina que joguei o refri. Ela me disse que está tudo bem. E, bem, eu realmente estou arrependido. Por favor, Vitória, me perdoa. Juro que aquilo não vai mais acontecer.

Era a primeira vez que eu ouvia a voz de João parecer tão vunerável, e eu sabia que ele estava sendo completamente sincero. Em outra circunstância, em um outro momento, eu o teria perdoado naquele mesmo instante...  Mas aquele tempo tinha se perdido em algum lugar do passado.

Quando o Amor Acontece...Onde histórias criam vida. Descubra agora