Enquanto meu pai me levava pra escola, eu não conseguia parar de pensar no que João tinha feito. Tentava lembrar de alguma vez que ele tivesse agido como no dia anterior, mas não me lembrava. Foi a primeira vez que ele fez algo tipo. Em nossa antiga escola uma atitude daquela ou um comentário maldoso poderia dar uma boa punição, agora, no entanto, na nova escola, ele talvez se sentisse livre para agir como realmente queria.
— Você ligou para sua mãe?
Olhei para o lado e meu pai tinha os olhos no trânsito.
— Hm, não. — Eu teria ligado, mas minha mãe me conhecia como ninguém. Ela perceberia através da minha voz que eu não estava bem, e eu não queria que ela se preocupasse comigo.
— Pois ligue hoje! Ou então ela vai ficar achando que você não liga por minha culpa — disse meu pai de forma incisiva antes de engatar a marcha e seguir pelo caminho.
Simplesmente concordei e virei o rosto para o lado olhando para fora.
Depois que meu pai se foi, eu fiquei uns minutos parada na entrada da escola. Uma ideia tinha rondado minha cabeça durante toda a noite passada, mas eu não tinha certeza de deveria dar ouvidos a ela. Suspirei vencida. Não adiantava lutar contra algo que mais do que querer, eu precisava fazer. Decidi procurar por Marcella antes mesmo da primeira aula. Eu precisava falar com ela.
Graças a um aluno da aula de artes fiquei sabendo que ela estava matando o tempo com os amigos no campo que ficava atrás do estacionamento da escola.
Levei uns minutos para atravessar todo o prédio da escola. Assim que sai, eu vi o grande espaço aberto com marcação no chão para os carros dos professores. Ao lado estava a quadra de esportes, e na frente, cobrindo todo o espaço que a vista pudesse alcançar, lá estava o campo. Era um lugar relativamente arborizado, já que havia um grande espaço entre as árvores onde os alunos podiam sentar.
Eu a vi quando me aproximei mais. Logo reconheci Bianca, a "boca rosa", ao lado dela estava a garota de cabelo castanho que conversava com Marcella no dia anterior. Com elas estavam também dois rapazes que eu nunca tinha visto, um deles tinha cabelos cacheados e curtos, o outro era um garoto "padrão".
Fui surpreendida com um formigamento no estômago quando alguém do grupo contou algo engraçado que a fez rir. Por que eu estava sentindo isso? Era só um sorriso! Não devia me sentir como um cego que vê a luz pela primeira vez. Mas eu sentia... Afastei aqueles pensamentos e me aproximei do grupo com cautela; sentia meu coração dançar levemente dentro do peito. Marcella foi a primeira a perceber minha aproximação. Ela levantou os olhos e me encarou de forma curiosa, aquele mesmo olhar de quando eu a vi pela primeira vez.
— Posso falar com você um instante, por favor. — Falei diretamente com ela. Meu coração batia acelerado enquanto eu sentia que os amigos dela me analisavam. A menina de cabelo castanho virou para me olhar e os bonitos olhos verdes dela me observavam me esquadrinhando, e eu via neles que não era bem vinda ali.
— Claro! — Marcella pegou a mochila, pôs no ombro e disse um "já volto" baixinho para os amigos antes de me acompanhar.
Nos afastamos alguns metros até bem perto dos carros no estacionamento.
— Sobre o que quer falar?
Meu estômago gelou quando ouvi a voz dela tão perto. Queria que meu corpo parasse de reagir assim.
— Eu sou Vitória. — Ofereci a mão e ela apertou. Mais uma onda de frio passou por meu estômago quando a mão dela tocou a minha mão.
— Eu sei. Sou Marcella.

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Quando o Amor Acontece...
Любовные романыDepois de anos estudando em um colégio militar, Vitória começa a estudar em uma escola de ensino regular. Lá ela conhece Marcella, que vai ajuda-la a descobrir uma nova forma de amor AU