Na segunda-feira eu cheguei mais cedo à escola. Alguns poucos alunos andavam pelo pátio e outros espalhados pelos corredores conversavam entre risos, outros bocejavam, outros contavam as fofocas do final de semana... Todos com o jeito preguiçoso típico de segunda-feira. Confesso que não me sentia muito diferente deles, eu também não era fã do primeiro dia da semana. Voltar à rotina depois de dois dias era chato - ainda que eu gostasse de estudar.
Entrei na sala de aula de aula meu coração deu um salto. Marcella estava sentada sobre sua mesa, virada de lado lendo muito compenetrada um livro. Um copo de café estava ao lado dela junto com uma caixa aberta.
— Oi — eu disse, tentando respirar normalmente, antes de colocar minha mochila sobre a mesa. Me virei para olhar para ela. Marcella não parecia ter escutado meu cumprimento ou estava me ignorando.
Me sentei e fingi que havia algo interessante no meu celular, mas meu olhos estavam discretamente presos nela.
Vi quando ela tirou algo de dentro da caixa, deu uma mordida e depois agitou no ar em minha direção, como uma isca para mim.
Ela não estava me ignorando. Sorri para mim mesma. Ela sabia que estava sendo observada por mim.
Deixei meu lugar e fui para o lado oposto da sala onde ela estava. Examinei o que havia na caixa. Era esfirra de nutella. A maioria estava esmigalhada ou era sobras amassadas.
— Essas são as piores esfirras de nutella que já vi. Posso? — Abaixei e escolhi um pedaço. — Não sei quanto pagou, mas você foi roubada.
Ela fechou o livro e eu vi que era um livro que a professora de filosofia tinha recomendado.
— Como não paguei nada, digamos que foi um bom negócio.
— Hm, esfirra de nutella grátis? — Minhas sobrancelhas saltaram. — Onde?
— Na loja do meu tio. Consigo pegar de graça porque trabalho lá.
Sentei em uma mesa perto dela de pernas cruzadas do outro lado da caixa, perguntei:
— E onde é esse lugar?
Ela repuxou o lábio.
— Depois do Cinema, fica bem de esquina.
Meneei a cabeça, ainda sem saber onde ficava exatamente. Eu sabia que o cinema ficava do outro lado da cidade, em uma região que era como um submundo onde os jovens iam para beber e usar maconha, mas ainda não tinha ido lá.
Ficamos ali, paradas, em silêncio por um momento, meio sem jeito. Meu coração estava disparado e eu nem sabia porquê.
— Quando vai ser a próxima reunião? — perguntei, mordendo outro grande pedaço de minha esfirra.
— No sábado. Mesmo horário. Nós vamos começar a falar sobre a mostra de artes, e você vai poder conhecer os outros.
— Tudo bem se eu for? — perguntei com receio. A imagem de Rayanne saindo furiosa da sala ainda não tinha saído da minha mente, e eu não queria ter que passar novamente por aquilo.
- Por que seria um problema? - Ela perguntou franzindo a testa bebendo um pouco do café.
Eu peguei um outro pedaço de esfirra e mastiguei deixando o sabor gostoso se espalhar por minha boca. Uns alunos passaram pelo corredor mas não demos atenção.
— É que eu... causei todo aquele mal estar entre você e a sua amiga, e... eu... Sinto muito que sua amiga e você tenham brigado por minha causa, e não quero que...
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Quando o Amor Acontece...
RomanceDepois de anos estudando em um colégio militar, Vitória começa a estudar em uma escola de ensino regular. Lá ela conhece Marcella, que vai ajuda-la a descobrir uma nova forma de amor AU