Natalia me abraçava enquanto Tuanny acariciava minha mão com carinho. Eu tinha acabado de contar a elas sobre o término nada amigável com João.
— Como você está se sentindo, amiga?
— Mal, péssima — respondi de imediato. — Mas não pelo término em si. Sendo totalmente sincera, eu me sinto na verdade aliviada. E eu sinto que não devia me sentir assim. Quero dizer, eu devia estar realmente triste e abalada com tudo - mas não, me sinto muito bem, estou tranquila, leve. Isso está me fazendo sentir mal.
— Cada pessoa lida de uma forma com seus próprios sentimentos. Não se sinta culpada, querida. Você não tem culpa de nada. — Natalia me disse acariciando minhas costas.
— Talvez você só esteja se sentindo como deveria se sentir — disse Tuanny ao meu lado, eu olhei para ela. — Vamos lá, Vi, você obviamente já não gostava do João, isso era nítido. Às vezes ele parecia mais irritar você do que qualquer outra coisa. Era tão diferente do início de namoro de vocês que Natalia e eu achamos estranho que você ainda não tivesse percebido isso. Era visível nos seus olhos todas as vezes que você olhava pra ele que estava esgotada dentro dessa relação.
Tuanny era sincera. Sempre foi. Era uma parte dela seus comentários ácidos, suas piadas indiscretas... Contudo, mesmo com toda sinceridade que ela sempre mostrou, e de eu estar acostumada com isso, aquele comentário em especial me fez sentir como se tivesse acabado de ser esbofeteada.
Me virei para olhá-la. Não vi qualquer indício de piada.
— Por que você não me falou isso antes?
Tuanny encolheu os ombros como se pedisse desculpas.
— Natalia?
Natalia trocou um olhar com Tuanny e eu logo soube que ela partilhava da mesma opinião.
— Nesse caso eu acho que entendo a Tuanny, Vi, e até concordo com ela. Esse tipo de coisa é a própria pessoa que deve perceber. Além disso, a gente não queria que você pensasse que nós não apoiávamos sua relação.
Elas ficaram me olhando enquanto eu tentava organizar meus próprios pensamentos. Abri a boca para falar, mas os alunos começaram a sair do prédio da escola na mesma hora e eu soube que ficaria impossível continuar a conversar ali.
— Vamos para casa — disse por fim.
Nós caminhamos para a saída da escola que, como todos os outros dias, estava barulhenta e levemente tumutuada com carros estacionando, carros saindo, manobrando...
Deitei a cabeça no ombro de Natalia e fechei os olhos enquanto Tuanny enviava nossa localização para o motorista do Uber.
Quando abri outra vez meus olhos, eu a vi.
Marcella estava com Bianca, as duas andavam juntas e conversavam de forma entusiasmada sobre algo que Marcella parecia estar bastante interessada.
Vê-la fez com que a dor que tinha se formado em meu peito, que senti durante todo o dia, de repente ficasse muito mais branda.
Elas passaram por nós e eu queria muito que Marcella tivesse me notado. Muito! Mas o que eu faria se isso acontecesse? Acenaria? Lhe daria um sorriso? Não nos conhecíamos bem. Ou melhor, eu não a conhecia - porque ela tinha perguntado de mim, buscou saber sobre mim.
Enquanto meus pensamentos analisavam inúmeras possibilidades, Bianca se despediu de Marcella com um abraço e um beijo no rosto e correu até um carro que parou do outro lado da rua.
Era a primeira vez que eu via Marcella sozinha, sem todos os amigos que sempre estavam ao redor dela, por perto. Totalmente sozinha. Só.
— Vou ter que deixar vocês uns minutos. — Eu disse ainda acompanhando com os olhos ela cruzar o portão e caminhar pela rua.

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Quando o Amor Acontece...
RomanceDepois de anos estudando em um colégio militar, Vitória começa a estudar em uma escola de ensino regular. Lá ela conhece Marcella, que vai ajuda-la a descobrir uma nova forma de amor AU