AS HORAS FORAM SE passando, eu banhei e troquei Emily, servi o jantar, e em todo momento eu percebia que a minha garotinha estava feliz, ela não desistia da ideia de que seu pai iria ligar, ou até mesmo aparecer trazendo um presente para ela, e eu não tinha coragem de lhe dizer que existia uma grande possibilidade disso não acontecer.
Cada vez que eu olhava para Emily, cheia de expectativa, próxima ao telefone o meu coração apertava, ela esperava e muito a ligação de seu pai, e no fundo eu sabia que essa ligação não iria acontecer, John não se importava com a filha, a única coisa que ele se importava era com seu próprio nariz.
Depois que ele começou a se envolver com a Irina, a amante dele, eu tive a impressão de que sua cabeça se virou ainda mais, acredito que no fundo John nunca prestou, eu que fui iludida por ele, mas ainda assim parece que as coisas pioraram depois de Irina, isso porque tenho a impressão de que ela fez uma espécie de lavagem cerebral na mente dele.
Eu sabia que ela não queria que ele falasse com a filha, ela queria que ele se esquecesse de nossa existência, como se fosse possível, como se filhos fosse uma espécie de objeto descartável, que quando nos cansássemos simplesmente pudéssemos pegar e jogar fora.
Discordei com a cabeça indignada com os meus próprios pensamentos e continuei passando a minha roupa, eu senti os meus olhos marejarem, porém engoli o choro, pois eu não queria que Emily percebesse que eu estava triste, hoje era um dia importante para ela.
Fora quando o telefone tocou, vi que Emily toda animada pegou o telefone, ela sorria e seus olhos brilhavam, cheios de expectativas.
— Papai, papai... — Ela disse, mas seu sorriso se desfez rapidamente, como num passe de mágica. – Ah tio Victor! – falou, ela sempre chamou Victor de tio, era tão apegada a ele como é apegada ao Bernard. — Obrigada... Gostei muito do tablet!... Quer falar com a mamãe? — ficou em silencio por alguns segundos. – Ah está bem então... Tchau tio Victor! — assim que ela colocou o telefone no gancho ela me olhou. — Era o tio Victor, ele quis me desejar feliz aniversário!
Sorri levemente para ela.
— Que bom minha filha, todos estão se lembrando de você... — Eu disse, desligando o ferro e me aproximando dela.
— Muitas pessoas me amam! — disse, e então eu soltei um suspiro e sentei no sofá, Emily se sentou ao meu lado, passei a mão em volta do ombro dela, e a abracei levemente.
— Sim, principalmente eu, mamãe te ama de montão... — disse, dando um leve beijo em sua cabeça. Ela ficou calada por alguns segundos, parecia pensar.
— Mamãe, por que você não mora com papai? — perguntou de repente, olhando para mim. — A maioria das minhas amigas moram com o papai e com a mamãe delas...
Eu abri os meus lábios, fiquei levemente nervosa, pois eu não sabia direito o que dizer.
— Bom... – comecei tentando pensar rápido, pois Emily me olhava, esperando a minha resposta. — É que, bom, o papai e eu não demos certo como casal, é, não tem como sermos mais namorados...
— Vocês brigaram?
— É, por causa de uma briga vim morar aqui e ele mora na casa dele, mas isso não quer dizer que ele não é mais seu pai, ele continua sendo... — expliquei.
— E você não vai mais ter outro namorado? — Emily me perguntou.
Sorri levemente para ela.
— Eu acho que não, pelo menos não estou interessada nisso agora, para mim o mais importante agora é te ver grande, feliz, na faculdade, fazer tudo aquilo que mamãe não pode fazer... — disse, passando a mão nos cabelos dela, peguei uma mecha e coloquei atrás da orelha. Emily me deu um beijo no rosto, deixando minha bochecha molhada e depois deitou em meu colo.
— Eu te amo mamãe! — Ela falou.
— Também te amo minha filha... — disse, começando a acariciar os cabelos dela.
— Daqui a pouco papai vai ligar, não vai? — perguntou para mim. Meus olhos então marejaram novamente, pois eu me comovia cada vez que ela dava indícios de que acreditava que John iria ligar para ela.
— S-Sim... — gaguejei, e a voz quase não saiu.
Ela ainda sorrindo fechou os olhos e fiquei um tempo observando-a, enquanto continuava acariciando os cabelos dela, até que ela, enfim, pegou num sono e dormiu no meu colo.
Só então quando a vi dormindo, eu permiti que as lágrimas caíssem dos meus olhos, dei um novo beijo na testa dela, respirei fundo, e então a peguei no colo e a levei até a sua cama, depositei seu corpo com cuidado, em seguida a cobri com o lençol, e enquanto a observava por mais alguns segundos, mais lágrimas foram caindo dos meus olhos.
Eu já estava imaginando o quanto ela ficaria triste quando acordasse e se desse conta de que John não ligou para ela, com certeza vai ficar decepcionada, e eu não estava ainda preparada para quando esse momento chegasse.
Suspirei e fui até a janela do quarto, cruzei os braços e olhei para o lado de fora, ainda tinha muito serviço para fazer, mas eu estava tão esgotada, minhas pernas até mesmo tremiam, eu não aguentaria fazer mais nada, então já estava decidida a deixar os afazeres para outro dia, decidi ir para sala guardar as roupas que eu já havia passado, e enquanto fazia isso, ouvi o barulho da campainha tocando.
Estranhei, voltei a colocar a roupa que eu segurava na mesa da cozinha, e fui até a porta, assim que abri, entreabri os lábios ao ver de quem se tratava.
— Boa noite! — Maggie falou, sorrindo de forma simpática, sorri levemente, enquanto via que ela estava abraçada com uma boneca enorme, com certeza ela havia comprado o presente para Emily, olhei para Bernard que estava parado ao lado dela, ele sorria também.
Ainda surpresa com a visita, dei espaço para que eles pudessem entrar em casa.
— Oi, é que surpresa, não reparem a bagunça... — falei.
— Que isso, nós não se importamos com isso, não é amor? — disse Maggie.
— É claro!
Fechei a porta, e virei para eles, ambos olhavam para mim, Bernard parecia o mais atento, como se tivesse encontrado algo de errado em meu rosto, e eu já sabia o que era.
— Beatrice, você estava chorando? — Ele perguntou, meu amigo me conhecia muito bem, dificilmente eu conseguiria esconder isso dele.
Senti-me levemente envergonhada com a situação, e ainda havia sido pega de surpresa, abri e fechei a boca várias vezes, suspirei e passei a mão no cabelo.
— Eu vou fazer um café, por favor, sente-se no sofá, eu já volto! — alei, decidindo não entrar no assunto, pelo menos não naquele momento, eu me virei e segui em direção da cozinha.
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Joshua
RomanceBeatrice é uma mulher humilde, que após ser abandonada pelo marido, se vê obrigada a abandonar os seus sonhos para criar sua filha Emily de cinco anos de idade. Cansada, ela não tinha mais sonhos de ter uma vida diferente da que levava. Até que numa...