1- Um Novo Membro na Família

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Portugal
Castelo dos Mouros
Serra de Sintra - 1605

— Luciana, você sabe que estou dizendo a verdade. Você não pode negar. — dizia um homem pálido com aparência de 20 e poucos anos. — Ele seguia atrás da jovem moça gritando com ela pelos corredores do castelo. Por sua vez, Luciana continuava sem dar ouvidos para ele. — Esta família não merece uma líder como você que

    Luciana parou, retraiu os passos e serrou os punhos.

— Eles são nossos inimigos, aqueles malditos cachorros nojentos não têm lugar na nossa família.

    Os olhos da jovem reluziram a vermelho sangue e seus dentes brancos se tornaram em presas. Num ápice ela desaparecera como vento e ficara a escassos centímetros do rapaz e socou a parede a quebrando quando ele se desviou para o lado.

— Nunca mais —  vociferou com as presas salientes. — ouse falar comigo dessa maneira, minha vida pessoal não diz respeito a você.

    O rapaz levantou com o olhar no buraco feito na parede.

— Você sabe claramente que as nossas espécies são inimigas, como pode sequer olhar para um deles? — replicou o rapaz. — Já pensou como a Célula vai reagir se souber que uma de nós está dormindo com um lobiso…

    Antes que o rapaz terminasse de falar ele se viu ir contra a parede, Luciana rosnou para ele.

— Eu cuido da minha vida,  sei como lidar com a Célula, não preciso que você me faça lembrar de nada. — ela o segurou pelo pescoço. — Se eu souber que você está tentando usar isso contra mim só para ficar no meu lugar nesta familia eu acabo com você, Divan.

    Luciana recolheu as presas, soltou Divan e saiu pisando forte enquanto ele esfregava o pescoço.

— Nunca deviam ter colocado uma mulher no posto desta casa. — disse ele provocante.

    Ela sabia que tudo aquilo era raiva por ser mais poderosa que ele. Divan até então não engolia isso, mesmo sabendo que para se chegar na liderança de um clã dependia do quão poderoso era o elemento. Luciana quis voltar, pois a única coisa que lhe passara na mente era enterrar uma estaca no peito dele, mas isso não lhe tornaria melhor que ele, só mancharia o seu trono. Deixou-o falando sozinho e saiu do castelo num abrir e fechar de olhos, e poucos segundos estava em cima das muralhas do castelo olhando a extensão da floresta densa que as rodeava. Naquela altura era possível enxergar as colinas tomadas pelo verde dos fungos e cinzento opaco das rochas. O vento batia na sua pálida pele adentrando pelo corpete de couro preto e o blusão de mangas afloradas enquanto os cachos da cor do fogo na altura dos ombros dançavam. A jovem moça tinha em mente que até certo ponto Divan tinha razão, que era proibido o relacionamento de vampiros com lobisomens. Isso lhe traria problemas não só por se envolver com os inimigos  da sua espécie como também pelo posto que tinha no seu clã. Sentara na colina quando de repente ao longo da Serra, algures no bosque ouvira sons condescendentes de alguém aflito, não era da sua espécie pois ele respirava arfante, então ela cerrou a visão cortando o nevoeiro e aglomerado de árvores, e assim conseguiu ver o que era. Num salto imponente da muralha ela fora parar dentro do bosque; um rugido feroz se ouviu.

"Urso!" — Cogitou, correndo na contramão de onde vinha o som que ouvia. Era um coração acelerado cujo o dono tresandava a medo e desespero. Ela correu pela trilha e virou a esquerda quando percebeu que eles haviam mudado de direção. Dava para sentir o cheiro... Luciana conhecia aquele odor de fome desejando ser sanada; novamente mudaram de direção, porém ela prosseguiu na contramão. Outro rugido feroz retumbou pelo bosque fazendo as aves se espargirem no céu e, em conjunto, o grito desesperador de alguém assustado lutando pela vida.

ARCONTES-Livro 1 (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora