16- Os Olhos que Eu Sempre Procurei

13 5 2
                                    

Ravi saltou até a mansão da alcatéia, parecia bravo. Os irmãos nem mesmo implicaram com ele quando o viram passar direto ao escritório de Gaius, nem se preocupara em deixar o celular. Ele vibrou no bolso do casaco, tirou e viu o nome de Harumi na tela. Mensagem de voz. Parou no caminho pensando se valia a pena ouvi-la: “... está sendo injusto. Nem está me deixando explicar.” — pensou ele nas palavras de Harumi que, errada não estava, e ele sabia disso, sabia que estava a ser egoísta porque só pensava no ódio que sente pelos vampiros e na ideia de perder mais alguém que ama para um deles, era por isso que ele estava bravo, porque percebeu que por mais que Lucian tivesse sido expulso da mente dela, ainda perdurava algures no seu coração depois de ano. Era aí onde o vampiro estava escondido. Mas Harumi não tinha culpa, ela não escolhera ser alvo de um Feiticeiro doido por experiências e criação de criaturas que a quis usar para os seus fins gananciosos. Menenou a cabeça e ouviu a mensagem:
 
“Oi... Sou eu, Harumi. Claro que você já sabe que sou eu — sorriu de leve e suspirou antes de continuar. — fui a sua casa hoje pela manhã, mas você... Não estava. Olha eu... Me liga de volta, por favor, ou então me encontra no lugar de sempre!” — a mensagem terminou e ouviu-se o apito do outro lado.

    Ravi pôs o celular de volta no bolso e bateu a porta depois de entrar no escritório. Gaius estava de costas a olhar pela janela, arganaz e musculado apesar da idade. Vestia um terno cinza com uma casaca de gola alta dura que se estendia até os tornozelos. Ravi marchou até estar perto dele.
  
— Sinto o cheiro de raiva em você, como senti naquele dia. — Principiou Gaius, sem olhar para ele. Numa mão estava a bengala que não deixava nunca, na outra ele girava com o polegar o anel de ouro com a pedra vermelha no indicador.
  
— Quando eu vou poder me vingar deles, Gaius? — indagou Ravi entre dentes, com uma raiva intensa na voz.
  
— Pensei que tinha esquecido que eles mataram a sua mama. Até virou amigo de um deles. — falou Gaius meticuloso. Cada palavra que proferia era  vento calmo da manhã, suave e sereno.
  
— Não virei amigo dele, eu ainda quero vingar a morte da minha mama e do meu baba. — Ficou do lado de Gaius. Perto dele, mesmo sendo maos crescido, Ravi parecia um menininho de tão alto e grande que era o homem.
  
— O que fez você mudar de idéias, filho?
  
Ravi parou para pensar. Meditou e respondeu deliberadamente:
  
— No fundo eu nunca esqueci do que eles me fizeram. Vampiros e lobisomens não foram feitos para viver em paz.

     Gaius sorriu malicioso; saiu caminhando lentamente, passou a mão no cabelo que pareciam pequeníssimos fios de tecelagem, platinados. Foi até a sua secretaria, abriu a gaveta, tirou dela um pequeno dossiê e pô-lo sobre a mesa. Gaius tinha a mão enorme, assim como seus músculos invejáveis dentro do terno. Sentou e se recostou na cadeira. Ravi notara que já não guardava os seus olhos, reluzentes como uma joia exposta a luz do dia. Ravi tirou o dossiê e notou os respingos de sangue sobre ele, leves, mas era era sangue... Fez uma rápida leitura mental.
  
— Isto é... O tratado de paz entre as duas especies. Mas aqui está o dos vampiros e o nosso. — falou reflexivo.
  
— Os originais! — observou. — Destrua-os e a paz acabará. Só uma espécie deve existir, e esta... será a nossa.
  
— Gaius, como você conseguiu isto? — Estes documentos deviam estar com o conselho conjunto. Como conseguiu?
  
Gaius olhou para ele, respirou fundo e deu um ligeiro sorriso.

— Para se conseguir a vitória é necessário sacrifícios. E os fortes não poupam esforços. — fitou Ravi. — Sem esses documentos não há acordo. Palavras podem ser mudadas, mas o que está escrito, escrito está.
  
— Sem os escritos não há acordo. — observou Ravi a analisar os papeis.
  
— Sim! Destrua, esses documentos são a muralha que impedem você de vingar a morte de seus pais.

   Ravi meditou. Era aquele o momento decisivo, eram aqueles documentos que lhe impediam de vingar sua mãe. Agora ele poderia finalmente acabar com a espécie que o fez chorar, que o fez sofrer.
  
— Destrua esses documentos, filho. Você estará ao meu lado quando tudo terminar. Só nos falta uma única coisa para podermos acabar de uma vez com aqueles sugadores de sangue.

ARCONTES-Livro 1 (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora