Lucian olhou bem lá no alto do terraço de um dos prédios e viu quem ele procurava. Foi caminhando como qualquer um prédio adentro, subiu rapidamente as escadas e lá estava Ravi.
— O que está fazendo aqui? — perguntou de costas.
Lucian deu um ligeiro sorriso nasal enquanto se aproximava.
— Acha mesmo que se matando vai conseguir mudar tudo? Isso se, você conseguir se matar sem que o seu corpo se cure antes. — observou ao ter visto uma adaga de prata na mão dele. — Há três dias que ninguém sabe nada de você.
— Não te interessa, saia daqui. Me deixe sozinho.
Lucian virou ele pelos ombros e o segurou na gola da camisa.
— Sim, você tem toda razão, Cachorrinho. — vociferou reparando nas lágrimas do rapaz que haviam ressecado no rosto como um lago seco. — Não tem nada a ver comigo o que está acontecendo com você...
— ENTÃO O QUE ESTÁ FAZENDO AQUI? — esbravejou. — Saia daqui e me deixe pôr um fim na minha vida como fiz com a dos meus pais.
Lucian o soltou com raiva e quase o fez cair com um murro.
— Quem sabe assim fica mais calmo e deixa de ser teimoso. Não foi sua culpa.
— Como não? Eu mesmo matei eles eu...
— Se você quer culpar alguém, e tirar uma vida por isso... Tire a do homem que causou tudo isso. — Deu as costas e se virou para ele de seguida. — Mas não a sua...
— Por que diz isso? Seria bom para você, assim você teria a Harumi só para você.
Os lábios de Lucian se rasgaram num sorriso, porém sentia dó dele.
— É, seria ótimo para mim se você estivesse a dez palmos embaixo da terra — admitiu. — , afinal eu nunca gostei de você mesmo. Mas não seria bom para ela, — olharam os dois nos olhos um do outro. — você esteve com ela durante esses anos todos, cuidou dela... Você é mais do que um amigo para ela. Se você chora, ela chora, se você morrer, ela sofrerá até perder as forças, sabe tanto quanto eu o quão teimosa ela é. E se ela sofrer, eu sofro ainda mais...
Ravi sorriu de lado com sarcasmo ao menear a cabeça.
— Quer que eu tenha pena de você, Sugador-de-Sangue?
— Já tive em minha vida pessoas o suficiente que sentiram pena de mim, não preciso da sua. Eu quero é que você largue a porcaria dessa adaga e volte para a casa dela, e fá-la se sentir melhor por saber que você está inteiro pelo menos.
Lucian deu as costas e deixou o vento para trás anunciando o seu sumiço. Ravi olhou para a adaga de prata e ficou cogitando sobre as palavras dele. Ele tinha razão, Gaius era o culpado pelo que acontecera, ele era a origem de tudo. Sorriu e chorou profundamente quando o rosto sorridente de sua mãe lhe veio a mente, aquela expressão dócil, brava quando ele aprontava, mas mesmo brava não conseguia esconder o amor pelo seu filho. Ele tinha que escolher, entre viver se martirizando, ou perdoar a si mesmo, e ele sabia qual seria a sua escolha. Olhou para a adaga na sua palma e colocou ela no bolso antes de saltar para onde quer que sua mente o levara.Horas mais tarde Ravi saltara até a mansão. Lentamente fora até o quarto de Gaius, estava deitado de costas na cama com fones nos ouvidos. Ravi tirou a adaga do bolso e se aproximou da cama, encostou-a a poucos centímetros de tocar a pele do homem que de certa forma causara a dor que sentia agora; seria fácil fazê-lo ali mesmo, cortar-lhe a jugular e arrancar para fora o esôfago tirando-lhe a possibilidade de se curar instantaneamente, lobisomens não se curavam de ferimentos do gênero. A mão do rapaz tremia, sua palma suava. Apertou os olhos para ver se conseguiria fazê-lo sem olhar, mas mesmo assim nada, recolheu a adaga e devolveu-a ao bolso e saltou dali para casa, jogou a arma na cama e voltou a sair num salto para a casa de Harumi.
Não tinha nenhum sinal dela na sala, foi rente ao quarto, girou a maçaneta e olhou pela fresta da porta. Harumi estava na cama, dormindo com uma caixa de bombons na cabeceira, comia sempre que ficava triste e preocupada.
— Ravi? — chamou ela levantando.
— Pensei que estivesse dormindo. — respondeu.
Harumi saiu pulando da cama para abraçá-lo.
— Estava preocupada com você. — Soltou-o. — Onde esteve?
Ravi suspirou e fez sinal para ela passar. Harumi sentou no sofá que ficava de costas a porta de entrada e Ravi no lado direito.
— Desculpe, eu... Precisava estar sozinho. — justificou se colocando reto.
— Compreendo. — Harumi falou num fio de voz. — Como se sente?
Ravi pensou, pensou e por fim respondeu segurando a mão dela.
— Vou ficar bem, prometo. — respondeu.
— Você foi...
Ravi deduziu qual seria a pergunta e respondeu:
— Sim, mas não falei com ele, nem deixei que me visse.
— Olha eu sei que você está... Se culpando pelo que aconteceu, mas você tem que saber que não fez por querer. Você sabe o quão irracionais são os lobisomens no primeira ciclo lunar, não reconhecem ninguém. Então certamente essa culpa vai ficar aí por um bom tempo, mas não deixe que ela faça você pensar que és um monstro, está bem?
Ravi anuiu sorrindo de leve, Harumi puxou e o abraçou forte.
— Obrigado, Yakimeshi! — disse ele zombeteiro. Harumi o empurrou.
— Está passando dos limites, sabe que não gosto que me chamem esse nome. Retire o que disse. — Ravi meneou a cabeça dizendo não ao passo que se levantava. — Ravi? Retire o que disse.
— Me obrigue. Yakimeshi! — falou provocante.
— Ah, então vai ser assim?
— Vai!
— OK. É você que pediu. — Harumi foi a cozinha e voltou com o estojo de facas na mão. — Vai retirar o que disse ou não?
Ravi analisou a faca que ela já tinha sacado.
— Não! — falou decidido. — Yakimeshi!
Harumi grunhiu e lançou a primeira faca, Ravi desapareceu e apareceu no outro lado da casa. Consecutivamente outras foram lançadas, mas ele se esgueirava de todas, na última Ravi foi contra ela e, antes que embatessem contra o chão desapareceram os dois caindo em cima do sofá. Harumi curvou os pés e empurrou-o de cima dela, ao se erguer, investiu reto e curvo com os punhos; Ravi travou ambos os golpes.
— Está em forma pelos vistos. — admitiu o rapaz.
— Ao contrário de você, aparentemente, ou então está me poupando. — Se desvencilhou e esmurrou o abdômen do amigo. A seguir riu quando ele gemeu segurando a barriga.
O garoto se recompôs e atacou direto, Harumi desviou para a esquerda encontrando a perna dele, segurou pela canela e se jogou contra ele, no processo desapareceram os dois da casa e reapareceram dentro de um rio. Ravi saltou para fora deixando ela na água.
— Ai, a água está fria. Não é justo! — resmungou enquanto se debatia.
Ravi saltou novamente para dentro d'água e ao tocá-la, saltaram algures para um bosque, segurou o braço de Harumi e a puxou de trás para frente contra o chão. Por sua vez, a garota chutou abaixo das panturrilhas de Ravi fazendo-o tombar, ela girou no chão e foi para cima dele ofegante.
— Ganhei! — declarou vitoriosa.
— Pensa de novo. — Ravi retrucou saltando com ela agora para um lugar gélido em meio a uma nevasca.
— Suas tentativas para ganhar de mim são fracas. — Gracejou a garota.
Ravi investiu, Harumi abaixou apoiando as mãos na neve, ergueu o corpo e chutou a cabeça dele com a sola dos pés que jaziam descalços.
— Sua resistência ao meu charme é que é fraca. — replicou arfante.
— E eu pensava que Lucian era o único convencido. — Atacou com um chute rotativo, Ravi ergueu o braço e se defendeu dele.
— O quê? Não posso estimar a minha beleza agora? — sorriu. — A propósito, você me acha bonito, não é?
Harumi encostou e investiu com um chute reto, o oponente desviou para à direita tocando na canela e saltaram novamente, agora para o topo de uma torre.
— É, você até que é bonitinho.
— Bonitinho? — Riu investindo um soco reto combinado com outro giratório, Harumi desviou do primeiro e do segundo, segurou ele por trás e o imobilizou com uma chave de braço pelo pescoço. Não obstante, Ravi bateu leve no seu abdômen fazendo com que ela soltasse um pouco os braços, mas ela puxou ele pelo casaco antes de cair por trás e, quando perceberam, ambos saíram da borda do terraço e caíram torre a baixo. Ao passo que caíam, Ravi a tomou pela cintura sentindo o vento refrescar a pele de ambos e, saltaram, aterrissando na cama de Harumi arquejantes.
— É, você é bonito — Respondeu à medida que tomava fôlego. — Mas não taaaão bonito. Mas você é bonito, entendeu?
Ravi sorriu e saiu de cima.
— Eu gosto desse teu lado sincero.Harumi levantou e sentou na borda da cama.
— E tem como não gostar?
— Não mesmo. Está com fome? — quis saber.
— Eu cozinho. — Harumi se prontificou.
— De jeito nenhum. — rebateu indo para a sala.
— Por que não? — Harumi fechou a cara.
— Harumi, você até hoje só não incendiou esta casa por pura sorte.
— Eu sei que eu não cozinho muuuito bem, mas sei cozinhar. — Se defendeu seguindo atrás.
— E eu não neguei isso. Eu sei que você cozinha, mas não muuuuito bem. Então eu prefiro que o "não muuuuito bem" fique só para você.——————————————
~ Eita, filhos de Merlin, chegamos ao penúltimo capítulo. Foi curtinho, mas deu pra entender que não convém chamar um certo alguém pelo sobrenome jkjkjkjkjkjkjkjkPara os que quiserem conhecer mais sobre a hierarquia dos vampiros, e como são as raças deles, estarei postando esse livro
É do mesmo universo, porém, contando a história dos vampiros, sua origem (neste universo), a origem das habilidades, das raças em si.
Fiquem bem e até o ultimo capítulo.
Bora preparar os corações, minha gente!SAWABONA!
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ARCONTES-Livro 1 (COMPLETO)
FantasyQuando uma incomum energia sobrenatural é detetada no centro de Londres depois da fuga de um exímio Feiticeiro que há muito era mantido exilado, a Sociedade Merliniana descobre que a "porta" do submundo foi aberta, trazendo à tona a aparição de cria...