20- Trio de Anúbis

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   — A Célula está na cidade. — Yuki informou para Lucian. — Querem você lá daqui a cinco dias.
   
   Lucian sobrepôs as mãos na secretaria, assim como nas outras vezes que conversara com Yuki sobre esse assunto não demonstrava preocupação alguma, em vez disso, estava feliz, porém com um pesar enorme no peito.
  
— E os nossos irmãos? — quis saber.
  
— As outras casas já se aperceberam do que está acontecendo, estão preparando o máximo de armas de prata. Eles estão decididos a retaliar, em breve irão atacar cada clã licantropo da cidade.
   
   Antes que Lucian pudesse responder, surgiu uma figura do vazio dentro da sala atrás de Yuki.
  
— É meio ousado da sua parte vir até aqui, Cachorrinho. — Lucian percebeu que Yuki estava pronta para atacar quando sentiu o cheiro de um lobisomem, olhou para ela e fez sinal com a mão para que permanecesse em silêncio. — Vejo que está com boa cara, não tão boa.
  
— Precisava de tempo para digerir tudo. — Ravi replicou.
  
— Por que está aqui? — Lucian indicou a segunda cadeira a destra de Yuki, Ravi a puxou e sentou tirando o capuz para trás.
  
— É verdade que ele matou sua mãe e seu irmão? — Lucian abanou a cabeça dizendo sim. — Em breve eles irão atacar os vossos clãs, presumo que como Gaius premeditou vocês também estão se preparando.
  
— Sim, não tem jeito de parar essa guerra.
  
— Tem sim! — Ravi declarou.
  
— Está falando do quê? — quis saber.

Ravi abriu o casaco, tirou de dentro dele um dossiê e pôs sobre a secretaria.
  
— O que é isso?!
  
— Gaius pediu que eu os destruísse, mas preferi esperar e então guardei. São os tratados de paz originais. Se fizermos cada alfa de todos os clãs de ambas as espécies virem esses documentos eles podem retroceder quando descobrirem que Gaius manipulou todo mundo.
 
— Por que não levou para o vosso conselho? Teria provas para fazer uma denúncia formal contra Gaius.

— Eles também já estão convencidos de que foram vocês que causaram iss, Gaius manipulou todo mundo. Até o filho do Cortês e Sullivan, tenho a certeza que foi desse jeito que ele soube que o nosso grupo era o único disponível para ser designado a uma missão caso houvesse algum problema, consequentemente que Harumi estaria na equipe. A única solução é fazer com que todos os alfas e os lideres dos clãs da cidade comprovem que o tratado existe.

— Tem um problema — Yuki se pronunciou —, como vão fazer para mostrar para todos os lideres?
  
— É a aí que ele entra. — informou Lucian.
  
— Com os alfas eu posso pegar todos eles e juntá-los, o problema estará em encontrar os lideres dos vossos clãs, não conheço outro além de você.
   
   Lucian abriu a gaveta e pegou um mapa da cidade, estendeu sobre a secretaria, tinha vários pontos assinalados a vermelho.
  
— Aqui é onde está cada casa dos nossos clãs, — Indicou cada ponto assinalado. — eles irão atacar cada clã licantropo. Seguindo essa linha de pensamento, se triangularmos as trajetórias de um clã para o outro, obteremos o local em que possivelmente eles vão se cruzar. Você pode saltar para cada um desses lugares levando Yuki.
  
— Eu?! — Ela se espantou de testa enrugada.
  
— Sim, Yuki. Você vai ajudá-lo a reconhecer cada líder dos clãs vampiros, enquanto eu me ocupo do resto do plano.— agora nos deixe , por favor.
   
Yuki anuiu, levantou e saiu.
  
— Quer ir lá para cima, Cachorrinho? — Lucian inquiriu. — Ficar em espaços fechados por muito tempo me incomoda.
   
   Ravi deu a mão para Lucian e juntos saltaram para o terraço da mansão; Lucian notou o olhar dele que ainda continha centelhas de cacos que lhe causavam dor. De certo modo também ele se sentia mal, fazia-o lembrar da morte da mãe e do irmão; com uma expressão soturna Ravi olhou para ele enquanto fitava o sol que se poria dentro de algumas horas e perguntou:
  
— É possível esquecer a morte de alguém?
   
Lucian meditou e respondeu depois de alguns segundos:
  
— Eu creio que não! Nós não esquecemos a perda de ninguém, ela nos visita todos os dias. Apenas aprendemos a lidar com ela; se deixamos ela nos consumir até sucumbirmos a dor, ou então olhamos para ela como uma bela memória e com dor no coração, deixamo-la partir. É assim que eu lido com a perda de alguém, e você?
   
   Ravi soltou um leve sorriso nasal. Nem um nem o outro gostava do outro, talvez se sentissem iguais ou semelhantes por terem passados de certa forma entrelaçados. Então, aí ele percebeu uma coisa, que quando se perde alguém, sempre, sempre o eternizamos nas nossas memórias mais longínquas.
   
   Pessoas boas morrem, e pessoas boas nascem. Este é o ciclo da vida, cabe a quem fica decidir o que é, bom ou mau, para que o seu legado seja eternizado segundo a sua conduta enquanto esteve vivo.

ARCONTES-Livro 1 (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora