Nora, esse era o nome da mais conceituada imagem no mundo. Ela não era humana ou mais uma das milhões de criaturas que vagavam por suas florestas e planícies desertas, ela se fazia muito mais que uma simples e simbólica figura, um anjo ou até mesmo uma Deusa, seguramente cada morador tinha uma forma de se referir a sua ilustre existência. Diferente de muitas histórias, ela habitava com os seres de seu mundo, os ensinando o verdadeiro valor da vida e o significado de ser uma família.
Nora costumava conviver aos pés de uma cordilheira gélida, culpa da longa geada de inverno que recaía sobre aquela área. As pessoas acreditavam e a cultuavam fielmente por seu incrível poder, capaz de manipular a força da natureza e até mesmo, criar os seres vivos a partir do zero, como se nela residisse a própria essência da vida. Porém, certa manhã, tendo se passado muitas décadas desde sua descoberta pelos homens, ela desapareceu de seu ambiente e nunca mais foi vista aos olhos humanos. Ao invés disso, alguns de seus leais devotos que vasculharam a montanha em busca de uma resposta, encontraram em seus domínios uma bela, elevada, e esplêndida árvore com o aroma de camélia.
Peculiarmente, a árvore que residia atém no centro de um espaço oval do interior da montanha, além de suas verdejantes folhas em pleno inverno, sustentava em dois de seus galhos sementes quaradas. Eles não sabiam o que elas representavam mais interpretaram como um sinal da deusa, alimentando a esperança de um dia poder vê-la de novo. Com a fé renovada, por mais centenas de anos eles protegeram a árvore junto às estranhas sementes que cada vez mais cresciam, feito flores desabrochando na primavera.
Tudo ia bem, mas em dado momento, a inveja e a ambição cresceram no coração dos reis da época. Eles queriam reclamar para si o território onde ela estava estabelecida, acreditando ser uma grande fonte de sorte em suas vidas. Não tardou para o vale se tornar um mar de sangue repleto de guerras, guerras que conspurcavam e depreciavam o solo do lugar por muito tempo considerado santo. Os reis usavam de todas as suas artimanhas para tentar obter a vitória, mesmo enviando seus campeões para batalhas sem fim. Assim perdurou por muito tempo.
Conforme o passar dos anos, eles se cansaram de esperar pelo retorno da deusa, além do mais, estavam totalmente desgastados pelas guerras contínuas. As sementes sequer cresciam e os reis depressa não mais viam o lugar como algo a se ambicionar ou ser valorizado. A esperança e a lealdade desapareceram dos corações dos crédulos, porque por mais que aquelas sementes demonstrassem amadurecer, a primavera parecia longe e a espera se tornara fastidiosa.
A montanha passou a ser esquecida, não se viam mais soldados marchando naquele espaço. Chegando a um acordo mútuo, os reinos passaram a formar alianças e não mais existiriam batalhas por aquilo que consideravam uma perda de tempo, ou até mesmo, uma fábula criada pelas gerações anteriores, porque para eles, a atual monarquia, Nora nunca chegou a existir.
Os anos correram, incontáveis reinos ascenderam por todas as partes do mundo que se instruía a uma nova era. A montanha acabara por ser engolida para dentro da terra, desaparecendo de vez dos olhares alheios. Acima de sua localização, uma ampla floresta nasceu e deste modo, Nora se tornou apenas mais uma fábula a ser contada para as crianças, a fim de ajudá-las a dormir.
Contudo, teria sido esse o final da história? Certamente a resposta não cabia a nenhum mortal, suas vidas nada mais eram que um sopro diante da eternidade, um grão de areia jogado ao vento. Por suas visões limitadas, nenhum deles pôde perceber que a árvore tinha o seu próprio tempo, tal como todas as formas de vida na terra, mas que este era longo demais para que qualquer um deles pudesse compreender. Para os reis, guerreiros e magos se tornou um enigma, mas do instante em que fecharam os olhos para sua existência, foi o momento em que tudo começou.
Mais precisamente, começou com um jovem garoto correndo desesperadamente pelas ruas de uma cidade, carregando em seu peito melancolia, amor e ódio. Com destreza foi apto a se esgueirar por entre os braços dos guardas que tentaram o segurar, passando pelos portões do reino e se refugiando em uma floresta próxima. O que atormentou o coração deste, poucos podiam entender, de cabeça baixa e olhos frustrados, ele submergiu naquele mar verdejante formado por árvores que se desdobravam até o céu.
Pouco ou quase nenhum ruído podia ser ouvido, exceto as folhas secas se partindo abaixo de seus pés em movimento. Com sua face escurecida pelo ódio, ele liberava a raiva acumulada em seu coração. Semicerrando as mãos, desferiu um forte soco ao tronco de uma das árvores sendo capaz de lançar algumas folhas ao ar. Então, um vento soprou e as folhas que caíam de encontro ao terreno, voejaram feito plumas, não aparentava ser um sopro habitual de inverno, elas planaram de forma a deixar explicito um caminho.
Apontado um dos melhores estudantes da academia mágica de seu reino, ele pôde pressentir os traços da magia, desconfiava ser obra de um mago aquele vento místico, entretanto, com nada para temer e muito confiante em suas habilidades excepcionais, corajosamente caminhou pelo caminho lhe revelado. Até que, subitamente e sem motivo aparente, uma enorme fresta se abriu abaixo de seus pés, o garoto não teve tempo de reagir e sentiu seu corpo sendo fortemente tragado para dentro da escuridão da terra. Uma queda tortuosa e que não tinha fim. Era inquestionável que quando colidisse com o terreno abaixo acarretaria em sua morte, sabendo disso, apenas fechou os olhos e esperou, contudo, o que aconteceu depois, foi muito mais que um dia ele sonhou.
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Três corações
FantasyRaydric é o jovem promissor do reino de Elsinor e vive acompanhado de um garoto, vestido de um manto esbranquiçado. Aclamado campeão de seu reino por suas inúmeras conquistas, ele defende as terras do rei com unhas e dentes, mas quando os tempos com...