Tempestade soturna

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Outro dia de sol escaldante em Elsinor, mas a cidade vivia animada com muitas pessoas a preencher suas ruas. Enquanto isso, no castelo, o relógio de corda marcava sete horas da manhã. Fornand se arrumava para sua primeira aula em Aurora, entretanto, não se vestiria que nem de costume, ele foi até o guarda-roupa, porém, desviou os olhos de seu manto, dessa vez o deixaria de lado e iria como um autêntico aluno da academia. Fazem dois dias que Raydric partiu do reino, com o pretexto de que precisava resolver alguns assuntos pendentes e que não viu oportunidade melhor do que quando o permitiu estudar em Aurora. Mas Fornand sabia existir outras razões para sua viagem, as quais poderiam envolver Alyssa, de quem seu mestre jamais se esqueceria.

Colocando o uniforme azul recebido da academia no dia anterior, se viu pronto para iniciar seu dia. O traje era recortado em suas pontas, bastante diferenciado como o de Elis e Isaac, dos demais alunos, porque por mais que se esquecesse dessa minúcia, Fornand era um dos nobres de alta classe de Elsinor. Ele desceu as escadas até o andar inferior, desconfiado dos guardas que o reverenciavam, mesmo apesar de seu mestre estar distante. Essas ações o trouxeram estranheza, não deixou de notar que todos o olhavam de maneira feliz, inclusive, as empregadas do castelo o sorriam abertamente. Também não evitou pensar que a causa era por sua decisão repentina de abandonar o manto que muito amava, deixando a todos conhecerem sua verdadeira aparência infantil. Dos cabelos curtos e esbranquiçados, como seu manto, os soldados desconfiavam, mas desacreditavam que sua face fosse tão semelhante à de uma criança de dez anos, ninguém conseguia mais ver em seu rosto, o demônio que se escondia nas sombras, revelado durante os campos de batalha. Ao sair até os gramados do castelo, teve seus olhos cegados pela luminosidade do sol, eles arderam e nem tinha tanto tempo sem sair. Quando ergueu a mão para bloquear a claridade, avistou uma carruagem estacionada não muito distante donde estava. O que mais o surpreendeu, foi a pessoa parada de frente ao veículo, o deixando paralisado.

- Lissara? Por que está aqui? - O que veio em seguida, deixou-lhe arrebatado.

- Bom dia! - Elis, atrapalhada, desceu da carroça, sorrindo para ele como quem não queria nada.

- A partir de hoje, para você, sou a diretora Lissara, recorde-se bem. - A porta da carruagem foi aberta, ele ficou sem entender a vinda dela, mas entrou dentro do veículo que lentamente começou a andar, deixando o território do castelo pelos portões principais.

- Para começar, durante sua estadia em Aurora, deixarei Elis ser sua responsável. - Informou. - Qualquer dúvida fique à vontade para perguntá-la.

- Por quê? - As palavras de Fornand entraram por um ouvido e saíram por outro. Lissara o ignorou completamente, continuando a sua explicação.

- Também quero ressaltar, enquanto estiver estudando conosco você será apenas um aluno. Esqueça sua posição hierárquica em Elsinor, eu não quero conflitos dentro da escola por causa disso. - Ela retirou do bolso um cartão preto e dourado, entregando em suas mãos. - Carregue com você, poderá apresentar aos guardas para passar no portal, sem ele não irá muito longe.

A carruagem traçou caminho até a entrada de Aurora. Lissara tinha outros assuntos a resolver e se despediu, os deixando atravessarem o portal sozinhos. Fornand fez como explicado, apresentou seu cartão para o soldado, depois de uma análise minuciosa, ele adentrou seus campos pela segunda vez. Costumeiramente, Aurora jazia repleta de alunos, conversando abaixo das sombras de suas árvores rosadas. Elis o acompanhou pelo jardim até o prédio onde passaria a frequentar as aulas. Visto nunca ter estudado em uma ocasião anterior, ele foi alocado no mais baixo nível, onde estudava boa parte dos plebeus de Elsinor, também certos repetentes. Não demorou para boatos circularem, espalhando aos sete ventos a novidade de que o poderoso escudeiro passaria a estudar junto a eles. Os alunos de longe constituíam um alvoroço para ter uma ligeira visão de Fornand. Alguns sorriam e acenavam, já outros não se mostravam tão contentes e essa verdade podia ser afirmada pelo olhar dos mais atentos, porque por de trás de uma das árvores, um estudante os condenava com seus olhos.

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