Luta pela vida

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Quão solitário e escuro era o covil em que Alyssa foi confinada, sem poder chamar por ajuda, ela ficou atormentada em seus pensamentos, buscando ou tentando reaver uma memória do passado, procurando nelas uma explicação para esse problema que a afligia e ainda que se empenhasse nessa tarefa, não conseguia encontrar nenhum resquício dessas lembranças. Um soldado caminhou em frente à cela até parar, ela sentiu seu coração acelerar acreditando ser a liberdade que tanto sonhava, finalmente eles teriam reconhecido seus enganos.

- Você pode ser forte, mas esses caras sabem lidar com os de sua raça, não pense em fugir. Fique tranquila porque se você for inocente, cedo ou tarde irão te libertar. – Ao escutá-lo, seus olhos se esfriaram outra vez, por que não conseguia se lembrar? O que teria feito a essa gente para estar nessa situação tão injusta? Ela se contorcia, a agonia dessas perguntas a fazia submergir em um estado de desalento e pensar que há pouco alegremente sorria com Elise, a entristecia ainda mais. O tempo passava como um pesadelo sem hora para acabar, com metade de um dia, o soldado voltou até sua cela, parando no mesmo lugar, através de seu elmo, olhou atentamente para Alyssa, deitada, agasalhando os joelhos com seus braços e de face descorada, enquanto lágrimas escorriam por ela sem descanso. Ele sentia a tristeza dela como se fosse a sua própria.

- Você não é valente como dizem, deitada aí, tão impotente e frágil quanto uma pequena flor em uma tempestade. – Ele se abaixou para a observar melhor. – Por que está aqui?

- Por que se preocupar? Você não irá entender minhas palavras. – O guarda se levantou.

- Não me leve a mal, só estou cumprindo meu dever. Sabe de uma coisa, você lembra minha filha e me dói a ver nessa situação, então lhe darei um conselho, não fique muito tempo nesse chão sujo e frio, ficar aí não irá resolver seus problemas, só te trará um resfriado. – O soldado se evadiu da vista de Alyssa. Depois de confirmar que ele se foi, ela engoliu seu orgulho, aceitando o conselho do homem. Com um dia de cárcere, o guarda retornou a cela, acompanhado de um dos cavaleiros de Napal e com uma tigela, a serviu de comer, como quem alimenta um cão.

- Eles dizem estarem atrás de você por ter roubado um tesouro de sua majestade. – Ele abriu a cela para a entregar, e trancafiou novamente. – E que no passado, você foi condenada à morte.

- Morte?! – Alyssa derrubou a tigela e apertou com força as barras da cela. – Por que eu preciso pagar com minha vida?! Eu não roubei nenhum tesouro!

- Eu sinto muito, sua execução já está marcada. – Ele friamente se afastou, nada poderia fazer para ajudá-la, sabia disso. – Espero que tenha mais sorte na próxima vida.

- Eu não posso morrer! Eu não... Quero morrer. – As palavras da pobre Alyssa não mais alcançavam os ouvidos do soldado, desatinada, ela o assistia partir. Quando sua imagem desapareceu na dobra do corredor, suas mãos resvalaram pelas barras de ferro até seus joelhos tocarem o chão. A esperança que restava de viver desapareceu, ela sentia o grave bater de seu coração. Com o medo crescente em seu peito e completamente abandonada pelo destino, envolta de sombras e solidão, tudo o que pôde fazer por si mesma foi esperar a sua hora.

As execuções na cidade costumavam serem públicas, mas nessa ocasião a realeza se esforçou para manter segredo. Contudo, murmúrios se espalharam por toda a cidade e os cidadãos se tornaram cientes do evento. Logo não era mais um julgamento a ser realizado secretamente, as pessoas conheciam Alyssa, de um modo bom ou ruim. E por consequência disso, no mesmo dia em que ela ficou sabendo de sua execução, horas depois, os cavaleiros retornaram até sua cela.

- Ora, bruxa, que feitiço você usou? Um de meus colegas espalhou boatos de sua execução. Basta ficar em contato com você por algumas horas que aquele bastado nos traí, - Disse um dos cavaleiros, destrancando a cela. Alyssa recordou em suas memórias o soldado de antes.

Três coraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora