Os relatos de Raydric

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Raydric passou a contar do tempo em que esteve distante da capital, a partir de seu retorno a Elsinor, depois de escoltar o príncipe Stefan até o reino de Mandrara. A bordo de Centurion, seus olhos acompanhavam a enorme esguia se deslocando até o Sul, não via nada demais se não por um detalhe, essas criaturas costumavam viajar somente pelo mar profundo, porque não existia lugar mais calmo e longe dos caçadores que viviam atrás de seus filhotes. Lá elas migravam em paz, fugindo do rigoroso frio do inverno a procura de um novo lar. Mas dessa vez, ela transitava a uma distância muito curta da capital, podendo até anunciar um ataque a cidade.

Raydric ficou intrigado e sentiu uma forte necessidade de pesquisar esse evento. Quando o pediram permissão para deixar Fornand estudar em Aurora, não viu oportunidade melhor para investigar a aproximação da criatura. Precisava fazer essa tarefa sozinho visto que planejava se encontrar com uma amiga, a qual seu escudeiro não tolerava por muitas razões. Concedendo a permissão, deixou Fornand aos cuidados de Lissara e previamente juntando o que precisava, saiu da capital, depois de informar ao rei que se ausentaria por um tempo.

Nas tavernas dos vilarejos e cidades que visitou, ele escutou dezenas de relatos a respeito de criaturas que antigamente passivas aos homens, começaram a ter atitudes agressivas. Estragando plantações, impossibilitando crianças de brincarem nos campos e impedindo aldeões de cuidar de suas colheitas, sem se sentirem ameaçados pelos olhares vorazes dos lobos. Ele queria obter informações do que estava acontecendo no continente ou até mesmo no mundo, e a única pessoa que poderia lhe conceder sabedoria se escondia nas sombras. Mas ele sabia de um método para a encontrar. Alugando um cavalo em uma das vilas, viajou para um lugar distante e despovoado, em meio a uma floresta de árvores mortas. Ao verificar que não fora seguido, desceu do cavalo o prendendo a uma delas. Apertou entre suas mãos um amuleto que retirou de seu bolso e sussurrou um nome familiar, consequentemente, as folhas assoviaram e uma risada se alastrou pelas extremidades da floresta. Ele se sentia observado não importando de qual ângulo olhasse.

- Quando escutei me chamar, até pensei ser uma armadilha - Seus passos não causavam som, seus pés mal tocavam a terra. - Você decidiu me ajudar?

- Sinto muito, vim tratar de outro assunto, Alyssa, preciso que me faça um favor, obviamente a retribuirei em troca. - Raydric tocou a face dela. - Sem mais ilusões.

- Por ser você, darei o que quiser, meu bem. - A imagem dela se foi deixando um misterioso pó branco no lugar. As partículas se direcionaram para dentro das narinas de Raydric, o deixando zonzo, mesmo sua força mental não foi párea para lhe conservar são. Ele apagou por breves segundos, mas o suficiente para se recobrar, dentro de uma caverna úmida, escura e sombria.

- Você tem novos truques, pensava que só Lissara usasse translocação. Diga-me Alyssa, onde conseguiu aprender essa magia? - Ele olhava para todos os lados, buscando por ela na escuridão.

- São segredos de nossa estirpe. - Sussurrou a seu ouvido, o campeão se virou, nada viu. - Lissara pode ser a melhor maga nos dias de hoje, mas não deixo de ser sua querida irmã.

- Eu preciso que me responda uma pergunta. - Com brandura ela tocou seus ombros, Raydric sentiu um arrepio quando ela apareceu em suas costas, usando seu verdadeiro corpo. - Aí está você... Continua muito bela. - Disse, passeando os dedos em seu rosto sedoso, querendo sentir mais uma vez a adocicada pele de Alyssa, e saciar suas lembranças do passado.

- Você só vem a mim quando se faz preciso? - Ela segurou a mão dele, a pressionando contra seu rosto, talvez secretamente desejassem a mesma coisa. - Que maldade, não sou uma ferramenta que você usa e joga fora. - Devagarinho chegou seus lábios dos dele. - Mas nós dois somos egoístas da nossa própria maneira... Não é? Eu darei o que quer, e você?

Três coraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora