6. Cúmplices

183 13 15
                                    

Em um instante, escombros caiam a minha volta, em uma névoa cinzenta da poeira vinda da parede rachada em minhas costas. No outro, minha visão  capitava  a imagem de Mera em uma luta aquacinetica  com Enguia. Paralisado e surpreso pelo que acontecia, só  voltei a me mover quando o vilão  segurou-a pelo pescoço, como se minhas pernas tivessem vontade própria  começei a correr até  eles.

Atordoado, meu racionalismo foi encoberto  pela fúria e eu o soquei até  que os ossos não  estivessem mais fixos em seu rosto.

Quando voltei a mim, Mera me encarava com certo  pavor, que eu não  sabia se vinha de minha expressão  raivosa ou se ela conseguirá  ler a confusão  em minha mente. Derepente o clima lascivo nos envolveu, e desejei que ela soubesse que estava tudo bem.

–Mera...- As palavras foram narradas em minha garganta.

–Não quero que conte para ninguém.

Adiantou-se na defensiva, e quando não  fui capaz de responder ela continuou.

–Me prometa Arthur, preciso que prometa que nunca falará sobre o que viu- Disse enquanto se aproximava, com suas palavras rígidas cobertas de auto preservação assim como seu olhar, blindado. Com uma feição mais fogosa que seus fios vermelhos.

Os policias já estavam examinando um ambiente, além do FBI que sempre se envolvia em casos que envolvessem super vilões ou uma ameaça que a polícia comum não poderia cuidar. No entando, só  fui capaz de notar pelas sirenes e os homens que perdiam o foco perante a presença de Mera, tão ofuscante que só  conseguia ver o quão estava assustada por baixo da amardura de seus olhos.

Olhos de oceano. Institivamente desejei acalma-los, então apenas assenti, a deixando ir.

Fiquei mais um tempo ali, respondendo a algumas perguntas dos oficiais. A única suspeita era o meu meio irmão, Orm. Nunca de fato o conheci, só sabia o que ele representava para mim. Orm era quase como um espelho, um reflexo  do que eu poderia ser, do que eu deveria ter. Uma mãe, que me deixou por deveres, formar uma familia e cuidar de um herdeiro que não era eu, não um bastardo. Um reino, que um dia ele comandaria, sentado em seu trono e usando a mesma coroa que seu pai, do homem que destruiu o que deveria ser a minha família.

Apesar de não saber muito sobre Orm, sabia o suficiente para crer que ele me queria longe de seus planos, possivelmente morto. Mas não dessa maneira, ele não seria tolo de achar que me derrotaria com Enguia. Talvez fosse apenas um aviso. Uma mensagem de "fique longe".

Pela própria Atlântida, por toda a terra, eu omiti tudo.

A caminho de casa, enquanto dirigia a velha camionete, encarei o mar abaixo do precipício. Foi quando lembrei dela, quando sua imagem veio a minha cabeça e me fez pensar em como ela estaria. Imaginando como Mera pode guardar tudo aquilo por tanto tempo.

Sabia como era difícil, a primeira vez que "perdi o controle" me deixou apavorado, ninguem nunca mais me olhou da mesma forma. Aos 07 anos começaram a me ver como um rato de laboratório, e se não fosse por meu pai, eu teria virado um. Por esse motivo eu entendia como poderia está sendo dificil para ela, como deve ter sido manter isso guardado por tanto  tempo, até mesmo de seus pais, que nem mesmo podiam entender de onde ela viera. Eu entendia, e agora também compreendia sua busca incansável por algo além daquela imensidão oceanica. A esperança de que houvesse algo, alguém ou algum lugar que a fizesse se sentir normal.

Mera estava ouvindo o chamado. O mesmo que eu ouvi durante anos, sussurando para reivindicar o que deveria ser meu.

Evitei pensar com clareza no que fazia enquanto ia até o cais. A casa da família Sullivan ficava bem próxima aos cais, depois que eles morreram  deixaram para a filha adotiva, bem mais reclusa que os senhores simpáticos que a criaram. Talvez reclusa não fosse a palavra certa, nem ao menos sabia como defini-la. Mera não poderia ser resumida em adjetivos, e tive a certeza disso quando a porta se abriu, depois de algumas batidas insistentes, e a mulher esgueirou-se na pequena brecha.

Submerged Love Onde histórias criam vida. Descubra agora