11. Voltando ao passado

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"And I tried to hold these
secrets inside me
My mind's like a deadly disease"

-Control, Halsey


Aos poucos fui recobrando a consciência. Lentamente, meus olhos se abriram, mas eu não conseguir ver nada em meio aos borrões, sendo forçada a fecha-los no mesmo instante pela dor latente em minha cabeça. Foi quando me dei conta do formigamento em minha testa, levando a mão até o local e encarando, com dificuldade, o líquido rubro em meus dedos.

- Droga! - rungi.

Mesmo com o soar frágil de minhas palavras, as pequenas ondas pareceram reverberar o suficiente para desequilibrar algo acima de mim. Estava pronta para gritar, infelizmente não o bastante para agir. Meu corpo parecia estar petrificado no local, ignorando meus comandos para nadar o mais rápido possível. Fechei os olhos novamente. Esperei sentir a dor do choque, mas ela não veio. Ao invés disso eu encontrei uma figura humanoide que empurrou o destroço prestes a me acertar.

‐ Precisamos sair daqui. Agora! - disse ele, tentando se aproximar.

Eu recuei instintivamente, desconfiada, mas feliz por meu corpo voltar a reagir.

- Quem é você?

- Isso não vai importar se aqueles caras alcançarem a gente. - falou o jovem, apontando para figuras distantes que inspecionavam tudo o que sobrou do submarino.

Relutante, eu segurei em sua mão estendida e rapidamente nadamos até perder eles de vista. Enquanto atravessávamos as águas, eu olhava ao redor. Só então me dei conta que estávamos de baixo d'água. Em uma cidade de baixo d'água. Toda a arquitetura parecia um vislumbre do passado, tudo erguido em pedras gastas esculpidas em meio a destroços. Seria essa a famosa Atlântida?

- Ah, onde estamos? - perguntei.

- Xebel - respondeu como se fosse óbvio.

Foi ai que freamos abruptamente. Confusa, eu voltei meu olhar a ele, que para minha surpresa parecia tão perdido quanto eu.

- Como pode ter entrado aqui sem ser de Xebel?

- Eu nunca ouvi sobre esse lugar...

Seus olhos negros como a sua pele percorreram meu rosto minunciosamente, arregalando-os um pouco mais como se tivesse visto algo em mim que o assustou.

- Por Netuno...

- O que foi?

Ele não respondeu, apenas segurou em minha mão novamente e voltou a nadar ainda mais rápido que antes. Acabamos chegando em uma casa, aparentemente tão envelhecidas quanto as outras. Ao adentrarmos o cheiro de algo delicioso atiçou meu olfato, só então percebi que estava sem comer desde da noite passada.

- Filho, que bom qu...- a mulher perdeu o rumo da conversa assim que me viu.

- Eu a achei perdida em meio aos novos destroços. - o jovem explicou.

- Ela é a...?

Eu suspirei, nitidamente desconfortável por estarem falando de mim como se eu não estivesse ali, além de seus olhares esquisitos como se eu fosse de outro mundo. E eu realmente era. As lembranças me detonaram novamente, um turbilhão esmagador de emaranhados de problemas e confusões. E novamente, eu agi por impulso quando me senti deslocada.

- Olha, eu nunca vi vocês na minha vida. Nunca estive aqui. - tentei faze-los entender, mas ao invés disso eles pareciam mais contrariados - Eu só quero voltar para minha casa, tudo bem?

A mulher, já mais velha se aproximou com cuidado e amistosamente acariciou meu cabelo e rosto. Para minha própria surpresa, eu permiti. Consenti aquele toque delicado, não só a ela, mas para aquela fagulha que restará de mim que procurava por um mísero resquício de conforto.

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