Tudo pode mudar

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Não sei que roupa usar no sábado..
— diz Camila preocupada, enquanto se joga na cama. Estamos no meu quarto, Camila veio estudar comigo para a prova de Sociologia que vai acontecer na manhã seguinte.

— Camila é na praia, um short e uma blusinha são o suficiente para você brilhar. — digo a tranquilizando.

— Talvez eu use uma saia longa, porém teria que usar um top... mas a minha barriga está inchada porque vou menstruar... — ela completa divagando.

Ah, não. A conversa sobre peso.
Camila vai dizer que está gorda, eu vou dizer que me acho magra demais. Camila vai dizer que queria parecer comigo e eu vou dizer que queria me parecer com ela. E não vai fazer diferença alguma, porque um minuto depois, vamos estar ambas do mesmo jeito, exceto pela parte que teremos conseguido nos fazer sentir mal por algo que não podemos mudar.

— Amiga, você é linda, por dentro e por fora, sua voz é incrível e você vai arrasar! — digo com toda sinceridade.
— Apenas seja você mesma.
— completo.

Camila e eu somos muito parecidas e ao mesmo tempo completamente diferentes, a nossa cumplicidade é única, por isso sei que ela quer alguma coisa. — Tudo bem, então me empresta aquela saia branca da sua mãe? — ela pergunta fazendo cara de cachorro sem dono. — Com ela eu vou me sentir inabalável! — ela pede suplicando.

— Eu sabia! Você é uma espertinha né! — digo rindo. — É claro que te empresto boba, esse luau vai ser inesquecível!
— Mariana você sempre me salva! Sei lá, eu te amo! — diz enquanto me abraça.

Então corremos para o quarto da minha mãe. São tantas roupas diferentes, Camila surta com cada peça, experimenta várias, e escolhe uma saia longa branca soltinha e um body que parecia um biquíni elaborado.
— Eu amei! Fiquei linda! — ela comenta empolgada na frente do espelho.
A geminiana sou eu mas Camila muda de humor com uma rapidez....

— Então vamos voltar para os movimentos culturais? — pergunto.
— A não Mari, não aguento mais, chega de estudar por favor! Estamos a tarde inteira com a cara nos livros — ela diz fazendo drama. Aceito a desculpa porque também estou cansada.

— Ok! Então a senhorita vai me contar, o que é que está rolando para você estar tão preocupada com aparência agora? Você nunca ligou pra isso. — pergunto tentando descobrir.
Desde as férias Camila não me contou nada sobre a sua vida amorosa. Ela sempre foi bem mais resolvida do que eu, tinha todos os garotos aos seus pés e o armário sempre cheio de cartinhas no dia dos namorados.

Ela me olha ruborizada. — Nada a ver Mariana, eu só quero estar bonita já que vou cantar em público. — ela desconversa andando de volta para o meu quarto.
— Aham sei! - digo desconfiada. — Porque eu percebi você toda estranha no primeiro dia, seu humor todo inconstante, o nervosismo... — se estiver acontecendo qualquer coisa você sabe que pode me contar né? — eu continuo a seguindo.

Ela reluta e balança a cabeça afirmando — Eu sei Mari, mas eu estou bem, não precisa se preocupar, só não sei o que dizer, ainda. — responde.

E então ela me olha com aquele olhar de "por favor não insista".
Eu suspiro entendendo, não posso cobrar que Camila me conte tudo, não quando eu não contei sobre a tentativa no Jornal.

Existem sentimentos e situações que primeiro temos que lidar sozinhas.
Para depois contar para alguém.

Eu sei que quando ela se sentir à vontade vai explicar. E eu também espero conseguir me abrir.

— Então, mudando de assunto, vamos assistir algum filme? — eu sugiro. — É claro que sim! — ela responde animada. Ligamos a TV e está passando Uma Linda Mulher. — Eu amo "Pretty Woman" — A Julia Roberts impecável! Meu deus esse filme é perfeito! — Eu grito empolgada. — Aaaaaaaaa sim! Olha esse cabelo, meu sonho de consumo!! — Camila grita também.
E então a atmosfera volta ao normal. Somos somente duas adolescentes, melhores amigas assistindo um romance dos anos 90, sem receios e inseguranças, bom, pelo menos nesse momento.

Estrelas Me Guiam - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora