Contando a verdade

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A semana passa rapidamente, é sexta-feira. Relutantemente arrumo o meu quarto para receber as meninas e João mais tarde. Olho para a pilha de roupas que catei do chão, perplexa. Ultimamente tudo está desorganizado na minha vida. 

— Mariana? — chama minha mãe.
— Já terminou? 
— Quase. — arrasto a cama para dar mais espaço pros colchões.

— Mariana? 
— Já vou. — E desço correndo as escadas. 
Minha mãe sempre fica ansiosa antes de viajar. Eu contei sobre a festa do pijama e ela aproveitou para marcar uma reunião em Belo Horizonte, só volta no domingo. 

— Mariana — minha mãe diz. — Não quero voltar e encontrar a casa destruída, por favor tenha juízo. 
— Pode deixar, vou ter cuidado, mãe. 
— Não ligue para aquele garoto, não se torture por tudo. 

Não sei como, mas minha mãe consegue ler a minha mente, apesar de raramente saber lidar com uma adolescente. 
— Não estou fazendo isso. 
— Porque, se você fizer isso, vai estar dando muito poder para ele. 

— Em outras palavras, não sofra por causa de garotos. — Falo isso de um jeito que faz minha mãe rir. 

Ela pede um táxi e espera na porta,  está linda, com uma calça de alfaiataria e um blazer bege. Ela parece inatingível, inabalável, uma mulher de negócios.

Penso em como queria me parecer mais com ela, mas pelo visto tenho mais traços do meu pai. Imagino que ele agora esteja em alguma praia em Portugal tirando fotos das paisagens. Sim meu pai é fotógrafo, a liberdade pra ele foi mais importante que manter  uma família. 

Meus pais se conheceram no Jardim Botânico. Depois da faculdade, minha mãe trabalhou com produção editorial. Meu pai estava fotografando pra mesma revista, viu minha mãe e se apaixonou por ela.
Os anos 90.... Eles se casaram dois anos depois. Todos comentam que minha mãe parecia a Julia Roberts, mas, naquela época diziam a todas as garotas bonitas que elas se pareciam com a Julia Roberts. De qualquer maneira, sempre imaginei o namoro deles como um romance de filme. 
Meu pai era divertido, descolado, tinha um cabelo bagunçado que era sua marca registrada. Minha mãe era a filha perfeita, a mocinha.
Eles eram completamente diferentes e por isso ficaram juntos. 

Termino de arrumar o quarto e pego o computador para ler mais uma vez o e-mail do Jornal Alquimista.
Desde o início das aulas não parei para escrever, não tive tempo. Eu não sei quem inventou que decidir o futuro aos 17 anos é o certo.

Gostaria que a vida adulta viesse com um manual de instruções. 

Quando eu era criança jurei que quando crescesse ia ser astronauta, mas descobri que não sou tão boa assim em exatas, depois pensei em fazer moda, eu até desenhava bem. 
Na pré-adolescência queria ser veterinária, só pra poder resgatar os animais  em situação de rua, mas eu tinha medo de aranhas e cobras, não ia rolar.

E agora quase com 17 depois de fazer mil testes vocacionais, me apaixonei por Jornalismo. Mas lá no fundo eu sempre soube que queria usar a minha voz e ser ouvida. E nas palavras encontrei isso. 
Mas as vezes tenho medo de não ser boa o bastante. De não conseguir escrever e viver bloqueada. E se eu estiver me enganando?
 

— Eu quero fazer o meu mapa astral, preciso saber qual é a minha vênus, Mari você pode fazer pra mim? — Camila pergunta pensativa.

Estamos na cozinha fazendo pipoca, João e Letícia estão tentando escolher um filme no quarto.
— Claro, vamos fazer hoje! — respondo empolgada. — Provavelmente você tem a Vênus em gêmeos.
— Astrologia? Ah não. Você não, Camila — diz Letícia entrando na cozinha enquanto senta no balcão. 
 
Desligo o fogo e me viro. — Qual o problema com astrologia?
— É idiotice — diz Letícia com escárnio.  — Não faz diferença, isso é só uma mania que as pessoas têm para justificar o comportamento delas. 

Estrelas Me Guiam - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora