Fiquei sentada no sofá por vários minutos ouvindo minha própria respiração, pensando em todas as pessoas com quem eu havia conversado aquela tarde. Pensando em Jisu e em Ryujin juntas. Pensando em Yeji e a forma doce com que ela me tratou... Pensando em como todos me aceitaram sem questionamentos ou observações constrangedoras. Sorri.
Fazia tempo que eu não me socializava tanto, mas ao mesmo tempo... Ao mesmo tempo eu preferia que essa tarde não houvesse acontecido. Eu nunca me senti tão distante de Ryujin como havia me sentido enquanto estava ao lado de Yeji ou enquanto estava com minha mãe. Todos os momentos que ela se dirigia a mim, sua voz era fria e distante, como se não fossemos nem amigas...
Mas eu não devia me importar com isso. Não devia... Era isso o que minha cabeça dizia...
A campainha tocou nesse momento e eu virei a cabeça em direção a porta. A campainha tocou de novo e eu me levantei indo até o hall.
- Quem é? – perguntei com a mão no trinco.
- Abra a porta, Yuna – A voz de Ryujin soou irritada e baixa. Parei um instante, pensando no que ela fazia ali – Abra a porta!
- O que você quer? – perguntei abrindo a porta e sentindo-a passar rapidamente por mim.
- Você é, definitivamente, uma criança! – ela exclamou irritada.
Fechei a porta, com cuidado e desci os degraus do hall, lentamente, sem responder ao insulto que ela me atirou.
- O que você quer? – perguntei novamente, com a voz fria.
- Porque você saiu da minha casa sem se despedir dos outros?
- Você deve estar de brincadeira comigo! – Eu ri baixo e levantei a cabeça.
- Se você pudesse ver minha expressão agora, saberia que não estou brincando.
- Você deveria estar com seus amigos e sua namorada agora – retruquei calmamente.
- Eu não sei por que insisto, Yuna... Sinceramente eu não sei.
- Então desista.
A respiração de Ryujin estava rápida e alta.
- Vá embora – pedi educadamente.
- Todo aquele momento na mesa com meus amigos... O que foi aquilo, Yuna? Fingimento? Quando Yeji pegou em sua mão e você ficou corada... Aquilo foi fingimento? – questionou controlando o tom de voz.
- Vá embora – pedi novamente.
- Não, não vou embora! – Ryujin exclamou – Você parece ter mais fases que a lua! Achei que estivesse se divertindo hoje! Meus amigos gostaram de você. Jisu só faltou pedir para você se tornar amiga dela. Você não teve motivos para sair assim, como uma criança birrenta que estava sendo ignorada. Você acha que sua mãe está se divertindo sabendo que você está aqui sozinha?
- Esse é o motivo de você ter vindo aqui? Ora, vá à merda, Ryujin! – exclamei com raiva – Quem você pensa que é para ficar me dando sermão? Minha mãe? Minha irmã?
- Eu achei que depois de ontem, não iríamos mais nos desentender... Mas com você é impossível...
- Depois de ontem?! Por quê? Você acreditou no meu fingimento? Eu não via a hora de vir embora, Ryujin. Eu não estava mais suportando ficar perto de você. – menti sentindo meu coração pulando no peito – E porque você acha que eu compareci a esse churrasco? Foi pura educação. Pura educação!
Ficamos quietas. As duas com a respiração acelerada e com a raiva gritando por cada poro.
Umedeci os lábios, nervosa.
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Be My Eyes -2shin
Hayran KurguHá um ano, eu havia sofrido um sério acidente de carro. Minha amiga, que dirigia, havia morrido no caminho para o hospital de parada cardiorrespiratória. Foi difícil. No começo, tudo me irritava, principalmente a morte de Vero. Era difícil conviver...