Até Quando?

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Hyunjin

"Me chamou, pai?"

"Sim, Hyunjin. Quero que arrume suas coisas, nós iremos viajar."

"Nós?" Pergunto, estranhando o pronome utilizado. Apesar de requerir minha ajuda com certa frequência, objetivando preparar-me para assumir os negócios da família futuramente, são raras as vezes em que meu pai leva-me em suas viagens.

"Sim, Hyunjin, creio que não seja surdo e tenha escutado com perfeição. Ande, não me faça esperar."

"Iremos viajar agora? E a escola?"

"A escola pode esperar. Houve um contratempo com alguns sócios japoneses, e preciso resolver isso com urgência. É a oportunidade perfeita para testar suas competências."

"Como assim?"

"Preciso ter certeza que o tempo que estou dedicando a lhe ensinar não está sendo em vão. Não permitirei que um desqualificado assuma minhas empresas, seja você meu filho ou não. Além disso, pensa que não reparei que tem saído com frequência? Temo que esteja fugindo de suas responsabilidades e andando com pessoas que não são de nosso nível, e se eu comprovar minhas suspeitas, Hwang Hyunjin... Torça para que isso não aconteça. Enfim, essa viagem também servirá para isso. Agora vá logo, não me faça pedir outra vez."

Sinto meu sangue ferver dentro de minhas veias e fecho minhas mãos em punhos em uma falha tentativa de controlar meu acesso de raiva. Pessoas que não são de nosso nível, o que ele quis dizer com isso? Que somos superiores aos demais apenas por sermos afortunados? E que não posso me relacionar com pessoas de status sociais diferentes? Honestamente, a cada dia que passa me decepciono mais com o homem a quem chamo de pai.

Também não deixo de reparar que fui levemente ameaçado. Quem me dera se eu tivesse coragem o suficiente para proferir em voz alta como não me importo em ser colocado em seu testamento. Pouco me importa se herdarei ou não seus negócios, papai. Apesar disso, permaneço calado, assentindo com a cabeça abaixada. Sou um covarde, resumidamente.

Ainda que deseje escolher o que farei por conta própria, ir contra meu pai agora seria burrice. Não terminei a escola, tão pouco tenho renda para me sustentar sozinho. Não duvido que se o responder de má vontade ele me expulse de sua casa a ponta pés, e para onde iria? Em síntese, lutar pelo que quero está fora de cogitação, pelo menos por agora.

Vou para meu quarto e separo algumas peças de roupa, colocando-as em uma mochila qualquer. Lembro-me que combinei de ir ao cinema com Jeongin amanhã, mas agora terei que cancelar nossos planos, então mando-o uma mensagem pedindo desculpas e explicando que terei que viajar. Não comento sobre meu pai, e como estou chateado.

"Hyunjin, posso entrar?" Ouço Anna perguntar da porta do quarto.

"Pode, Anna."

"Quer ajuda para organizar suas coisas?"

"Não precisa, já arrumei tudo, mas obrigado."

"Hyunjin... Sei que está chateado. A forma como o Sr. Hwang falou com você agora há pouco... Ele é realmente um homem retraído e pouco afetuoso. Mas, por mais que seja difícil, não permita que as coisas que ele lhe diz o entristeçam. Seu pai não o conhece devidamente, como um pai deveria conhecer seus filhos, pois a única coisa que parece ter importância em sua vida são essas empresas, então ele não sabe o garoto maravilho que você é."

Anna é tão gentil. Ela sempre esteve aqui para mim, mesmo que isso não faça parte do seu trabalho. Ela nunca me tratou como o filho mimado de seus patrões, mas sim com verdadeira afeição, e isso sempre me consolou. Por isso, não consigo evitar que algumas lágrimas caíam por meu rosto ao escutá-la. Posso me fazer de forte e fingir que a maneira como meus pais me tratam não me afeta tanto, mas é mentira. Todos os dias me sinto um erro, um filho indesejado que nunca será amado por seus pais.

Te Quiero (𝚑𝚢𝚞𝚗𝚒𝚗) - hiatus Onde histórias criam vida. Descubra agora