Chapitre Vingt-Huit

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"Se pudesse medir a saudade, o infinito do céu ainda seria pouco

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"Se pudesse medir a saudade, o infinito do céu ainda seria pouco."

Amanda P.

— E tratem de acordar antes que eu entre em campo e chute os dois - Thiago avisou

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— E tratem de acordar antes que eu entre em campo e chute os dois - Thiago avisou. — Principalmente você, Júnior.

Neymar ergueu o dedo do meio para o amigo enquanto arrumava a bola no meio de campo e tocava para Arthur, que rapidamente encontrou Richarlison. E como ele corria. Marquinhos apertou a marcação, entrando em um jogo de corpo com o atacante e tomando a pior. Não ouvindo o apito que sinalizaria a falta, o rapaz seguiu até o gol,
encontrando o próprio Neymar em condição legal e em uma posição muito melhor para finalizar, sem chance para Éderson.

— Um a zero - Edu gritou.

— Cadê o VAR? Eu quero falta naquele lance - Coutinho reclamou.

— Eu decido o que é falta - Tite alertou. — Mais um pio e é chuveiro.

— Calei.

E retomaram o jogo com o dobro de fôlego de antes, tornando-o igualmente disputado dos dois lados. Era assim que Tite gostava de ver seu time: entrosado e dando o seu melhor mesmo que fosse somente um treinamento.

Três a dois foi o placar final, com vitória do time de Neymar. Dirigiram-se ao chuveiro com o aviso precoce de que os treinos seguintes seriam muito mais desgastantes do que aquele. E o meia, como prêmio pela vitória, havia ganhado a maravilhosa incumbência de acompanhar o técnico e Thiago na primeira coletiva de imprensa que dariam no Qatar.

— Sabia que esse papo de capitão vinha com presente de grego - Coutinho reclamou. — Nunca me senti tão feliz por perder um jogo em toda a minha vida.

Júnior riu, empurrando o amigo nos corredores que levavam ao vestiário. Infelizmente, não tivera a mesma sorte. Ou talvez aquela fosse a oportunidade perfeita para que ele pudesse focar sua cabeça em outra coisa e se preocupar em ocupá-la com saudades e memórias apenas na hora de dormir.

Neymar se sentia uma criança

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Neymar se sentia uma criança. Uma daquelas que é colocada em um canto pelos pais e, por falta do que fazer, começa a ter pequenas demonstrações de hiperatividade como forma de liberar energia. Era basicamente isso que estava acontecendo com os milimétricos movimentos que fazia sobre as rodinhas da cadeira que ocupava, de forma que a mesma não girasse, escancarando toda a sua infantilidade momentânea. Aquilo tudo era infinitamente sem graça. Ainda mais quando não haviam jogado ainda e todas as perguntas se baseavam em hipóteses e questionamentos distantes, para os quais provavelmente só teriam resposta quando a famigerada "hora do 'vamos ver'" chegasse. A essas perguntas, Tite passava como uma pluma, educadamente rejeitando-as.

— Júnior, quais as suas expectativas para a Copa do Mundo? Você acha que a Seleção Brasileira está preparada para bater de frente com as grandes equipes europeias? - Um entrevistador extremamente alto perguntou.

— Minhas expectativas não poderiam não ser altas, eu acredito - o jogador respondeu. — Nós passamos uma vida nos dedicando ao esporte e o principal sonho de qualquer um é chegar um dia na Seleção. Quando chegamos, tudo o que queremos é conseguir ganhar carregando o escudo brasileiro no peito. Então, se eu te disser que não tenho expectativas de que possamos verdadeiramente sair daqui campeões da Copa do Mundo, eu estarei mentindo.

Do outro lado da bancada, Thiago deu um sorriso discreto, incentivando-o a continuar. Júnior se lembrava perfeitamente de como, quatro anos atrás, aquele mesmo cara estava ao seu lado dizendo para que o time não desistisse e pedindo que tivessem fé para perseguir aquele sonho. Agora, mesmo que em uma conformação diferente, ainda compartilhavam aquele objetivo juntos. Ter o eterno capitão ao seu lado só o fazia ter mais energia e força para dar o melhor de si. Por si mesmo. Por sua família. Por cada um dos colegas de campo. Por Thiago. Por Tite. Pelo Brasil.

— Não podemos temer as gigantes europeias - prosseguiu. — Até porque já temos a Espanha pela frente logo na fase de grupos. É óbvio que não vai ser fácil. Nunca é. Mas fizemos um trabalho muito duro e muito certo para dar o nosso melhor e tentar enfrentá-las em pé de igualdade para buscar a vitória.

O entrevistador agradeceu e passou a palavra para uma colega, que direcionou a pergunta para Thiago. Algo sobre sua nova função. A verdade era que Júnior não tinha ouvido. Sua mente saiu de órbita por completo quando, entre um flash e outro, teve a impressão de enxergar os longos cabelos em que tanto adorava embrenhar seus dedos. A sensação de déjà-vu era intensa, tanto quanto a pontinha de esperança que incendiava seu peito a partir de uma pequena faísca. Mas não podia ser. Não era possível.

As íris atentas passearam por todo o recinto, analisando as faces de um por um dos fotógrafos ou auxiliares que carregavam câmeras em mãos, pescoços ou tripés rapidamente montados. O desespero apagou o fogo, abafou a esperança, silenciou a inquietação. Não a encontrava de forma alguma. Devia ter se confundido. Era fácil se perder com tantas luzes e àquela distância. Era mais fácil ainda sentir o coração murchar depois da desilusão tê-lo estourado como um objeto pontiagudo faz a uma bexiga.

Não reconheceu as perguntas seguintes e deu graças a Deus por nenhuma delas ter sido direcionada a ele. Tite era bom com as palavras e fazia um trabalho tão bom ali quanto o fazia dentro de campo. Também não se deu conta do momento exato em que a entrevista foi encerrada, percebendo seu fim apenas quando foi puxado de volta à realidade pelo barulho das cadeiras ao seu lado se levantando. Como em um ato mecânico, copiou os movimentos dos outros dois. Levantou-se, acenou, sorriu e saiu pela porta lateral.

— Aconteceu alguma coisa? - Thiago perguntou. — Você ficou pálido de repente.

— Está tudo bem - respondeu e, sob o olhar desconfiado do técnico, completou: — Eu juro mesmo.

— Se cuida, garoto. — Tite deu um apertão carinhoso em seu ombro. — E conte conosco para o que for preciso. Qualquer coisa. Entendeu?

Neymar assentiu, sorrindo. Sabia que as palavras dele eram sinceras, mas não havia o que fazer além de remendar mais uma vez um novo caquinho de seu coração.

N/a: Até o próximo sábado.

Bad Dream ❈ Neymar jrOnde histórias criam vida. Descubra agora