Carne, osso e caos

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    Tudo estava silencioso, uma calmaria fora do comum, uma paz impossível de ignorar. Ninguém imaginou que as coisas seriam daquele jeito durante o resto da semana.

    Não tiveram suspiros, sentimentos ruins, mal humor ou choro. Apenas o completo silêncio e a mais pura calma de todas em Jeonghan.

    Com tantas descobertas sobre sua vida era de se esperar qualquer reação, menos aquela tranquilidade. Estavam preparados para amparar uma pessoa confusa com seus sentimentos, mas não sabiam o que fazer quando Jeonghan pareceu ainda mais seguro de si e suas emoções depois de Baekhyun e Chanyeol.

    Seungcheol o rondava, observando cada micro mudança de humor do ômega, esperando, nervoso e tenso, por algum sentimento ruim, uma crise, pois sabia que o silêncio era o grito mais alto de Jeonghan. Ele estava empurrando tudo para tão fundo dentro de si que seu interior devia estar em pedaços. Mas Seungcheol estava lá para ajudá-lo.

    Jeonghan não reclamava da proteção, até estava gostando de ter Seungcheol consigo, perguntando sobre suas refeições, acariciando sua mão enquanto prometia vê-lo no final do dia. Aqueles pequenos gestos, como os sorrisos, os sussurros, os toques, estavam fazendo Jeonghan se deixar levar ainda mais pelo homem. Era quase impossível não se sentir assim quando Seungcheol era como um sonho sob medida.

    Eles se encontravam toda noite depois que o restaurante fechava, apenas para conversar, contar segredos e compartilhar sonhos, era algo tão íntimo e profundo entre eles que Jeonghan sentia vergonha até mesmo das estrelas, as únicas testemunhas dos beijos na porta do quartinho ou dos abraços quentes no banco surrado atrás do restaurante.

    E então uma semana se passou daquele jeito tão confuso. Era o fim de semana do mês em que o Adama não abria, isso significava folga coletiva e vários planos.

    Jeonghan planejava visitar, junto de Seungcheol, o orfanato onde supostamente tinha crescido e aproveitaria para ver Hyungwon e a pequena e preciosa Nari de apenas duas semanas.

    Seus planos estavam indo extremamente bem com Seungcheol o acompanhando, mas o alfa o deixou para resolver alguns problemas do restaurante e ele soube que teria que enfrentar seu passado sozinho.

    Mesmo tremendo de medo e enjoado pelo nervosismo, Jeonghan não se deixou abalar quando tocou a campainha do prédio de dois andares em tons pastéis em uma rua quase deserta.

    Aquela fachada não o recordava nada, mas já imaginava algo assim porque o local havia passado por uma reforma. Porém quando as portas foram abertas por Hoseok e ele foi apresentado ao lado de dentro do orfanato, Jeonghan não pôde negar a familiaridade com o lugar.

    Um arrepio lhe cruzou a espinha e seus olhos umedeceram quando seus avistou um quadro cheio de pequenas mãos coloridas na parede com nomes ao lado. Reconheceu o seu escrito em uma caligrafia torta e desajeitada, num traço tão infantil que lhe doeu o coração.

    Se sentiu culpado por não cumprimentar Hoseok, mas imaginou que ele entenderia que aquele não estava sendo um momento fácil.

    E conforme andava pelo Pequeno Príncipe e reconhecia cada detalhe do orfanato mais lágrimas corriam por seu rosto, grossas e carregadas de sentimento.

    As escadas onde ele costumava se sentar com Baekhyun para brincarem com quem passasse, ou a divisória para a cozinha que ainda tinha as marcas de suas medidas conforme o tempo passava, assim como de várias crianças que passaram pelo lugar. Até mesmo o vaso de plantas estranho e caro da antiga dona que Jeonghan quase quebrou jogando futebol escondido. Todos os detalhes, dos mais pequenos aos maiores, lhe enchiam a mente e apertavam seu coração, a nostalgia e saudade se misturando e transbordando em soluços no meio de um rio de lágrimas.

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