YOU'RE NOT LOST

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(5:30pm)

A noite de sexta começou traumatizante e acabou prazerosa, Finn está dormindo como um bebê, mas pegar no sono é difícil pra mim.
Me levanto devagar e vou até a sala em busca do meu celular, preciso ir pra casa e ver se a mamãe está bem. Está longe do sol nascer, e vou ter que esperar de qualquer jeito.
Me olho no espelho e é como se a mão dele ainda estivesse no meu pescoço, Finn me deixou machucada.
A casa dele é enorme, cheias de cômodos, coisas antigas e caras. Caminhando pelo corredor do andar de baixo, vejo uma porta entreaberta, é uma biblioteca, tem algumas fotografias nas prateleiras, os livros estão empoeirados.
Ele era uma graça quando pequeno, vejo uma foto do seu pai escorado em uma Harley, é a mesma que Finn tem, está exatamente igual.
Ao sair da biblioteca, fecho a porta cuidadosamente e me assusto ao chegar na sala e ver ele sentado na mesa de sinuca.

- Se perdeu? Ele pergunta coçando os olhos e com a voz sonolenta.

Me aproximo dele e o abraço: - Desculpa se te acordei, quer voltar pra cama?

- Não, ta tudo bem. Queria saber se você quer passar o dia comigo ?

- Eu ia ir pra casa, ver se minha mãe está bem, mas posso ligar pra ela.

- Ah, ok... Finn boceja.

- Você tirou o corpo de lá?

- É.. sim tirei. Não se preocupe com isso.

- E posso saber onde você pôs?

- Melhor não. Esquece isso, ninguém vai dar falta de um fodido como ele. Finn se levanta caminhando até a cozinha.

[...]

- Podíamos fazer algo hoje, seila?

- Sim, mas eu não tenho roupas aqui Finn, teria que ir até em casa de qualquer forma.

- Ah, claro. Eu posso te deixar em casa e aí você conversa com a sua mãe sobre coisas.. normais. Finn ri: eu tenho que dar uma passada na loja do meu tio, na volta te busco.

Era quase dez horas da manhã e eu ainda estava de calcinha e camiseta, fui até a Harley e subi, Finn disse que não iria me levar sem calça por uma longa estrada, então ele entrou correndo na mansão pra pegar uma calça de moletom dele. Fiquei parada em cima da moto esperando. Consigo reparar o quanto são altos os portões, reparo na grama do jardim que cresce há tanto tempo que mal se pode ver os ladrilhos no chão. Desço da moto e caminho até a lateral da casa, minha visão alcança o pátio dos fundos e vejo um pequeno celeiro, grandes pilhas de garrafas e um carro antigo. Ouço Finn bater a porta da casa e gritar o meu nome. Volto correndo até ele:
- Onde você tava? Finn sobrepôs seu olhar para os fundos da casa e segurou meu pulso me levando até a moto.

- Vi que você tem um carro antigo. Respondo

- Sim, era da minha mãe. Ele coloca o capacete em mim e me entrega a calça.

- Sua mãe dirigia aquele carro? Falo impressionada.

- É, ela era louca, a mulher mais louca que eu já vi.

Dou um pequeno sorriso e me calo. Ás vezes falo demais e não quero deixar ninguém constrangido.

Finn dirige por aquela longa estrada e sua casa fica pequena atrás de nós. O vento joga meus cabelos para trás e me sinto livre, tudo que ocorreu na noite passada é uma mistura de sentimentos, mas nada, nada parece ruim.
Ao chegar, Finn estaciona a moto e eu desço. Minha mãe abre a porta, e me espera na varanda.
Ajeito meu cabelo para que ela não veja as marcas que ele deixou no meu pescoço.

- Eu passo aqui daqui uma hora, só me ligar.

- Tá, eu ligo sim. Dou um selinho nele.

Caminho até a porta não querendo falar sobre o que aconteceu, é claro que não posso dizer que meu novo amigo (?) matou meu ex padrasto. E torço para que Finn tenha sumido com qualquer pequena evidência.

- Novo amigo é? mamãe pergunta.

- É, o tio dele que me deu o emprego. Ele também estuda na minha escola, então...

- Ele é daqui?

- Como assim?

- Ele mora na cidade? Sempre morou? Minha mãe pergunta de uma forma estranha.

- Sim, até onde eu sei. Por que?

- Ah, aquela moto é familiar, o adesivo no tanque.

Finn tinha um adesivo no tanque que dizia:
                 YOU'RE NOT LOST
                     YOU'RE HERE

Dei de ombros e subi as escadas, passei reto pelo meu quarto, indo até o banheiro. Abri a porta cuidadosamente e percebi que todas as coisas estavam no lugar, é como se nada tivesse acontecido. Voltei até o meu quarto e larguei minha mochila no chão.

- Você não vai comer não? Minha mãe grita do andar de baixo.

- Vou, to descendo.

Sento pra tomar café com ela, que logo me convida para visitar meus avós na cidade vizinha. A relação dela com eles piorou muito depois que ela conheceu aquele cara, vivíamos nos mudando e cortando relações com as pessoas. Digo pra ela que marquei com o Finn, mas que se fosse pra ver meus avós eu poderia ligar e desmarcar. Após tomarmos café subo de volta ao meu quarto e procuro meu celular. Me abaixo pra pegar a mochila que está no chão e junto algumas roupas que estão caídas, ao levantá-las, algo cai no chão. Uma carteira se abre e vejo os documentos de Finn e uma foto minha.

Finn tirou essa foto naquela tarde que passamos juntos

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Finn tirou essa foto naquela tarde que passamos juntos. Consigo ouvir a voz dele ecoar na minha cabeça quando disse: -" Vou guardar, não é sempre que garotas gatas se mudam pra essa cidade".

Ele deve ter deixado cair no meio daquela confusão. Retiro seus documentos e leio, tudo me parece normal. Havia dinheiro, não muito, o suficiente para os cigarros que ele fuma. Achei engraçado a foto estar ali, ele realmente guardou.

- Mãe, você volta que hora? Grito do meu quarto.

- De noite, eu acho. Não vai ir?

- Vou, tenho que fazer umas coisas antes mas acho que Finn pode me dar uma carona.

Me troco e ligo pra ele, avisando que já pode me buscar.

𝑇𝐻𝐸 𝑃𝑅𝑂𝑀𝐼𝑆𝐸Onde histórias criam vida. Descubra agora