A Culpa É Do Cupído

Capítulo VII - O fugitivo

   O lugar era enorme com várias construções desgastadas pelo tempo. Parecia um filme, quando a cirene tocou surgiram soldados de todos os lados e se posicionaram em seus esquadrões, em poucos minutos aquele lugar vazio estava repleto de soldados em formação, todos começaram o treinamento em perfeita sincronia.

  Apesar daquela cena digna de aplausos pelo esforço, todos pareciam vazios e sem esperança, como se estivesem sendo enviados ao matadouro. Outro barulho me chamou a atenção mas logo parou. Voltei a andar pelo campo de treinamento.

  Um barulho alto de ferros caindo me fez olhar para trás, algo estava acontecendo. Vi alguém passando correndo em um dos corredores que tinha entre as construções, sua roupa era o mesmo uniforme que o meu, só que estava bem mau arrumado. Uma cirene diferente tocou, pessoas começaram a correr na direção em que havia vindo o som dos ferros caindo.

  -FUGITIVO!!! - Os vigias gritavam.

  Todos correram na direção da pessoa que tinha visto.

  -ALI ESTÁ ELE! - Alguém gritou.

  Corri na direção dos sons, me paralizei com a cena, um montin havia se formado em volta de um homem surrado que estava caído no chão perto de uma parede de madeira enquanto recebia pontapés e socos, olhei aquela situação até uma voz chamar a atenção de todos, o homem no chão estava imóvel e cheio de hematomas.

  -SE AFASTEM!!! - Um homem saiu do meio da multidão enquanto todos prestavam continência a ele.

  Ele se aproximou do homem no chão e o olhou com despreso.

  -DE ACORDO COM O REGIMENTO TODOS OS FUGITIVOS DEVEM TER UMA CHANCE DE ESCAPAR ANTES DE SUA EXECUÇÃO! - Ele voltou o olhar para nós.

   -LEVEM ELE PARA O CORREDOR!!! - Ele gritou e se dirigiu a um dos corredores.

   Alguns soldados pegaram o fugitivo e seguiram o homem, todos estavam sérios mas ao mesmo tempo com um olhar de que estavam gostando do que estavam prestes a fazer, segui eles.

  Eles o levaram até um beco sem saída bloqueado por uma parede de madeira.

  Eles deixaram o fugitivo na entrada.

  -QUE O JULGAMENTO COMECE!!! - O homem gritou.

  O fugitivo se levantou e começou a correr em direção a perede.

  -TODOS EM SUAS POSIÇÕES! - O homem gritou.

  Todos entram em uma espécie de formação.

  -PREPARAR!!!

  O fugitivo continuava correndo.

  -É MENTIRA! NÃO ACREDITEM NO QUE ELES DIZEM! ESTÃO NOS ENGANANDO!!! ELES ESTÃO MENTINDO! NÃO É O QUE ELES DIZEM SER!!! - O fugitivo gritava enquanto corria desesperadamente.

  -FOGO!!! - A última ordem foi dada.

  Os soldados dispararam contra o fugitivo o fuzilando, fiquei em choque, ele não teve nenhuma chance, meus joelhos tremiam, desde quando aquilo era uma chance de fugir? Ele não teve chance! Desde quando aquilo pode se considerar uma forma de justiça? Mas isso não era o que me surpreendeu mais, o que havia me surpreendido, era como haviam tratado um ex-companheiro, como eles fizeram isso? Aquilo estava errado, onde estava a justiça naquilo?Como conseguiram rir enquanto fuzilavam um companheiro? Todos se disperçaram.

  Olhei para o corpo enquanto ele era removido do local.

  Não devia ter me surpreendido, era algo normal traidores serem punidos com a morte mas, aquilo não foi apenas uma excução ou uma questão de honra, era uma diverção, um entreterimento.

  Segui a multidão e sai dali.

  Terminei de olhar o campo de treinamento e voltei para o quarto. Entrei e tirei meu uniforme. Arrumei meu colchão e deitei. Tudo tinha voltado ao normal. Cobri meu rosto tentando dormir mas a imagem daquele homem sendo fuzilado não saia da minha mente. O silêncio ecoou. Anoiteceu. O tempo passou. Apollo chegou tarde da noite. Estava tudo calmo. Não conseguia dormir, não conceguia fechar os olhos, toda vez que os fechava a imagem do rosto do fugitivo fuzilado vinha a minha mente, não importava como, aquela imagem me atormentava, eu nem o conhecia, mas não consegui dormir aquela noite.