A recepção calorosa acolheu todos os navatos com fogo. Aqueles que sobreviveram ao pequeno teste dos veteranos foram guiados ao verdadeiro campo de treinamento. Todos fomos a pé, sem exceções, mesmo os feridos do incêndio. O caminho era de terra, o cenário começava a mudar, o chão seco e desgastado pelas batalhas nos guiava, para aqueles que não tinham calçados a terra perfurava seus pés e rasgavam sua carne, o sol escaldante cegava os olhos daqueles que desafiavam olhar para cima e queimava nossas peles, os que foram feridos pelo fogo caiam no chão pela desidratação e o cansaço, aqueles que tinham forças suficiente carregavam os caidos, logo não se podia mais ver construções, pois todas estavam destruidas. Aos poucos começamos a enxergar o acampamento, parecia uma prisão, como uma muralha altas paredes cobriam o local, realmente parecia mais um campo de prisoneiros, o ar de superioridade do local nos sufocava e o Sol brilhava por cima daquelas paredes enquanto passavamos pelos portões de madeira e ferro, cansados e exaustos de tanto andar finalmente chegamos ao nosso destino, nos apresentamos, logo fomos enviados aos devidos esquadrões, todos que estavam lá treinavam sem cessar como máquinas, onde estava toda a glória da guerra?
Procurei pelo meu quarto, mas não consegui encontra-lo, os que já estavam lá a mais tempo riam pelos cantos, pude sentir que estavam rindo de mim, ou melhor, de todos os novatos, quando perguntei onde ficava os dormitorios dos novatos eles sairam dando risadas discretas. Andei por quase meia hora, aquele acampamento cada vez mais me surpreendia por suas condições. Finalmente consegui encontrar os dormitórios, não dava pra acreditar que aquilo estava em condições de alguém ficar, eles eram pequenas construções de madeira que pareciam que iriam cair na primeira ventania, comecei a entender o motivo das risadas.
Entrei no meu dormitório, não era de se surpreender, o quarto estava empoeirado e visivelmente surrado pelo tempo. Sacodi o saco de dormir que estava em um canto e o coloquei perto da parede, peguei o que eu tinha conseguido salvar do incêndio e coloquei em cima do saco de dormir. O minúsculo cômodo tinha um cheiro de mofo evidente, me sentei e olhei em volta, o quarto só tinha uma pequena janela improvisada, e como o esperado Apollo ainda não tinha chegado, não tinha nada para fazer então me deitei e resolvi esperar por ele. Me perdi em meus pensamentos, comecei a me lembrar dos tempos em que o céu claro e a relva eram o cenário de minha vida, a lembrança das cócegas que a grama causava enquanto esperava o almoço depois da escola me fizeram rir, a nostalgia das brincadeiras nas ruas da cidade. Talvez aqueles que não chegaram até aqui tenham tido mais sorte.
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A Culpa É Do Cupído
General FictionMarchamos para o bem do povo como os heróis da nação, ou ao menos era o de se esperar, mas a realidade não passa nem perto de um conto de fadas e nos atinge como labaredas de fogo, como uma lâmina, a guerra perfura nossos corações e almas levando mu...