Capítulo VIII

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O amanhecer me tirou da "cama", sentei-me e esfreguei as mãos no rosto tentando manter meus olhos abertos, não havia dormido nada aquela noite. Me levantei e vesti meu uniforme como o de costume, sai do quarto e fui lavar o rosto.

A água estava fria, o que era normal para o inverno, estava exausto por causa do sono, olhei-me no espelho, olheiras começavam a surgir em meu rosto.

Não estava com vontade de fazer nada aquele dia, a cirene do café da manhã tocou, fui em direção ao "refeitório". Meu estômago roncava toda vez em que eu pensava em comida. Ao chegar no refeitório entrei na fila, me surpreendi um pouco com o tamanho da fila mas era o de se esperar, nos últimos dias sempre chegava quando quase todos já haviam comido. Finalmente estava chegando minha vez, o café da manhã era um tipo de creme que eu nunca havia provado antes, que chamavam de doce de leite, e biscoitos cazeiros que estavam meio tostados por descuido de algum cozinheiro. Me servi e fui procurar um lugar vazio.

Foi quando percebi que eu era um estranho para todos, nunca parei para pensar, mas nunca tinha parado para olhar em minha volta pois sempre alguém estava me ajudando. Todos eram estranhos para mim, me senti como se eu tivesse voltado ao meu primeiro ano do fundamental, ninguém se importava ou dava atenção a minha existência. Tentei sentar perto de outros soldados mas fui claramente afastado. Tive que me sentar mais afastado, não que isso fosse uma novidade, pra falar a verdade eu deveria ter percebido isso antes, eu era apenas um novato e não tinha ganhado nenhum tipo de influência, era normal eu não ter importância por que apenas os soldados mais fortes tinham importância em uma guerra.

A comida me tirou a atenção, aquele creme de leite era delicioso! Comi aquilo depressa aproveitando todo o sabor, a mistura do creme e dos biscostos era incrivel, mas como tudo que é bom tem fim, minha comida acabou. Voltei do transe que cai por causa do sabor e percebi que vários dos soldados estavam olhando para mim com despreso. Aliás quem não olharia? Comi tão rápido e tão feliz que era de dar inveja mas não era assim que os soldados se comportavam. Soldados levam a maioria das coisas a sério, ou pelo menos era isso o que nos ensinaram.

Me levantei meio envergonhado pelos olhares discretos e cochichos, estava andando para guardar o prato quando alguém colocou o pé em meu caminho me fazendo cair. Os risos ecoaram por toda a tenda. Me levantei rapidamente pegando o prato e continuei andando fingindo estar ignorando. Guardei meu prato. Estava prestes a me virar quando ouvi alguém dizendo.

-E aí o creme estava bom? - Um dos soldados veteranos falou em um tom de zombaria em alto e em bom som para que todos ouvissem.

Já estava perdendo a paciência e o cansaço por não ter dormido noite passada não me deixava pensar claramente, dei um suspiro, me virei para o veterano e com um tom de confiânça respondi.

-SIM ESTAVA ÓTIMO! - Asvard.

Ele riu de modo sarcástico e se levantou lentamente.

-ENTÃO O NOVATO É CORAJOSO? - Veterano.

Ele se aproximava de mim com as mãos para trás, ele chegou perto de mim e se inclinou um pouco, com um sorriso que claramente servia como modo de me inferiorizar ele falou.

-Ou é só idiota? - Veterano.

Me aproximei mais dele e com um sorriso no rosto respondi.

-Por que não tenta a sorte? - Asvard.

O duelo estava lançado gritos de apoio surviram do nada, é claro que para o veterano, as apostas começaram, mesas foram afastadas, o palco estava montado e os participantes em suas posições.

-Vai aprender o seu lugar! - Veterano.

Ele veio para cima de mim com um soco tentando acertar meu ombro, consegui desviar. O soco era uma distração, ele me atinge um gancho de direita seguido por socos. Me afasto. A sequência de socos continuavam mas por pouco conseguia desviar deles.

-Ei - Asvard.

O distraí por um segundo e lhe dei um golpe certeiro no lado esquerdo de seu rosto o deixando um pouco tonto o obrigando a se afastar um pouco.

-QUEM IA ME ENSINAR MEU LUGAR? - Asvard.

O veterano ficou furioso e avançou focando somente no ataque, ele me acertou uma rasteira, rolei para evitar outro soco, me levantei rapidamente, felizmente estava acostumado a lutas de rua, meus movimentos começaram a ficar mais lentos e comecei a levar mais socos, foi quando percebi que eu tinha me metido em uma luta perdida. Me agaixei apoiando em um dos bancos. Voltei a pensar direito e sabia que não iria sair vencendo e não havia forma de escapar.

-E AI JÁ ACABOU? - Veterano.

Ele voltou a me socar até que eu não tivesse mais forças de me levantar.

-AGORA APRENDEU O SEU LUGAR! - Veterano.

Alguém chamou a atenção de todos avizando do horário e todos arrumaram rápidamente as mesas e saíram do refeitório.

-Fui salvo pelo gongo - Eu pensei.

Aos poucos mais pessoas entravam no refeitório, fiquei imóvel por um tempo, pude ver Apollo entrando junto com um grupo, recuperei minhas forças e me levantei. Ninguém olhava para mim. Fui em direção à enfermária, me deixaram em uma cama para me recuperar, finalmente pude dormir.

A Culpa É Do CupídoOnde histórias criam vida. Descubra agora