XXIII

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Surpreso, Yixing lhe deu as boas vindas, mas parecia feliz por vê-lo.

Minseok, por sua vez, estava roendo as unhas há dias, acreditava que muito em breve ficaria totalmente sem. Cumprimentou o psicólogo sem poder olhá-lo no rosto por alguma louca razão para logo desabar sobre a poltrona à sua frente. Respondeu de maneira automática e com poucas palavras às perguntas por cortesia que o outro fez sobre como ele estava e se tudo havia estado bem durante o tempo em que não o visitou. Minseok disse que sim, agora tinha muitos amigos e que não, não havia cometido nenhuma idiotice irreversível até o momento. Yixing teve muita paciência com ele, como de costume, não se incomodou por estar evitando seu olhar e parecer nervoso quase na borda da histeria, tampouco por responder de maneira brusca. O problema não estava nos outros, o problema era ele.

— Há algo que você queira me contar? — aventurou depois de um longo silêncio.

— Não — Minseok se apressou em responder. — Bem, sim. — Franziu o cenho e se aconchegou, confuso consigo mesmo. — Na verdade, não é algo ruim... Depende.

— Particularmente você acha que é algo ruim?

— Quer saber? Não é nada, esquece, estou só um pouco louco — riu forçado e se pôs de pé com a clara intenção de sair do cômodo. Yixing, em seu lugar, se fixou nele com as sobrancelhas erguidas.

— Você já vai? Ainda não conversamos sobre nada.

Minseok parou na metade do caminho. — Quanta relevância tem os sonhos?

— Desculpe?

Minseok virou-se lentamente. — É verdade que eles são desejos reprimidos?

— Bem, isso depende. Ultimamente você teve sonhos dos quais se lembra?

O outro duvidou por mais alguns segundos, mas no fim se sentou e o olhou no rosto pela primeira vez com extrema insegurança e muito temeroso.

— Eu tenho um amigo... na verdade, ele nem sequer é um amigo, é um conhecido. Muito, muito distante.

— O que houve com ele?

— Acontece que ele anda tendo... sonhos loucos — explicou raspando distraidamente a superfície da mesa. — Nesses sonhos ele fica... — Fez uma careta. — Muito perto de alguém.

Yixing se inclinou para trás. — Muito perto de alguém... — Repetiu. — Pode me explicar melhor?

Minseok suspirou pesadamente. — Como se estivesse com alguém que gos... ugh.

— Acho que entendi — o outro assentiu lentamente. — Os sonhos desse seu conhecido têm algo a ver com você?

— Não! — negou no mesmo instante. — Eu só fiquei curioso porque ele está muito afetado, sabe?

— É ruim as duas pessoas ficarem assim, tão próximas? — o psicólogo questionou com simplicidade.

— Não realmente — ele respondeu batendo sua perna de cima para baixo com nervosismo. — Não se eles não fossem nada, mas... Está tudo bem se tratando de dois amigos?

Yixing piscou. — Você acha que nesse caso sim, seria algo ruim?

Minseok gemeu como um cachorro ferido e cobriu o rosto com ambas as mãos.

— É o meu melhor amigo, como algo como isso pode ser possível? — murmurou.

Tendo escutado perfeitamente suas palavras, o psicólogo sorriu com suavidade.

— Tudo está em mudança constante, Minseok-goon, sem exceção — afirmou com a voz calma. — Não temos que nos acostumar com o que não se move, a mudança é boa, temos que recebê-la com os braços abertos e nos moldar à ela.

A Oitava Nuvem [TRADUÇÃO PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora