Capítulo Trinta e Dois.: Sono.

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    O quarto havia sido invadido por jornalistas desejando um furo com Bella, que havia acabado de despertar, aquelas vozes a jogaram de volta em seu pesadelo, havia muitas pessoas a sua volta, ela desesperou-se, seu pulmão não soube mais como puxar ar para si, os encarava com os olhos arregalados, suas mãos foram de encontro a garganta, está sufocando, ar não entra em seus pulmões, policiais retiraram os jornalistas, mas não antes deles registrarem este momento, Samira tentou proteger a irmã como pode e mesmo assim não conseguiu fazer muito em meio a confusão. Os médicos tiveram de seda-la novamente, Bella não deseja apagar e cair novamente naquele esquecimento, então chora, o que só piora seu estado. Helena não espera muito tempo e toma as devidas providencias, sua filha é transferida na manhã de quarta para um andar de difícil acesso do hospital, sendo protegida por dois policiais, que guardam a sua porta e apenas deixam passar médicos e familiares.

    Bella tem mais um pesadelo, está sentada no banco dos réus, algemas prendem suas mãos e seus pés para que não corra, o jure não passa de sombras desalinhadas que aos poucos tomam forma, eles estão prontos para lhe condenar e de bom grado ela vai aceitar é culpada, merece ser castigada, os seres sem forma vão ganhando rostos, as vítimas desconhecidas se alinham prontos para ouvir os fatos, não há advogados para ela, nem isso merece, suas piores vítimas que a acusam são seus amigos sedentos pelo seu sangue. Cada um dos que amou a olha, estão como sempre se lembou deles, os seis alinhados sérios demais, eles nunca permaneceram com essa expressão, jamais viu um deles estar sem sorrir, seu coração foi diminuindo os batimentos aos poucos, ela sente falta dos sorrisos e não consegue se lembrar com perfeição como é o de cada um deles, sabe que são belos, sua garganta trava por ser incapaz de se lembrar.

    Seu julgamento começa, ninguém precisa proclamar sua sentença ela sabe qual é, os fatos vão passando aos poucos por sua mente, as memorias daquela noite vem e vão com uma rajada de vento, ela não consegue impedir, não chora, permanece tão seria quanto eles, é culpada, sente isso. Cada vez que um deles abre a boca para falar ela sente seu coração ser perfurado e agulhas entrarem em sua pele, cada minuto que se passa com um deles contando sua versão ela sente seu pulmão se fechando, não é mais capaz de os olhar, quer ver seus rostos com medo de os esquecer, quer ver a forma como João mexe a mão ao debater um fato, é uma mania dele, ou como Julia bate o pé insanamente no chão quando fica muito tempo parada, quer ver Izabel colocar seus cabelos lisos para trás os jogando pelo simples fato de se incomodar com eles próximo ao seu rosto, deseja ver em Anna seu olhar sonhador e o belo sorriso de Gustavo, mas de todos quem menos consegue encarar é Rafael.

    Sua sentença é decretada pelo martelo do juiz que desce batendo, o som fica gravado em sua mente que o repete a cada segundo e cada vez mais alto, ela fica desorientada por alguns segundos, fecha os olhos e tudo a sua volta muda, ela não está mais em um tribunal, está no dia em que fizeram um piquenique na beira da praia, foi o seu aniversario, eles sorriam e ela não conseguiu segurar as lagrimas que vinham, tornou-se uma expectadora daquele dia, estavam feliz, sempre foram grandes nas pequenas coisas, tornaram-se uma família e não um grupo, mas por sua culpa o que tinham foi exterminado. Todos alimentavam sonhos e ela os deixou morrerem, culpa sua não poderem repetir mil e uma vezes esses momentos, o momento foi arrancado de si quando abriu os olhos, esta sendo arrastada do tribunal.

    Suas mãos não estão mais presas e nem seus pés, uma corda é posta em seu pescoço e ela é pendurada em uma árvore, ela tenta lutar para que o ar volte a passar pelos seus pulmões, mas parece tão em vão este esforço, ela não merece a vida que carrega e nem o ar que respira. Bella vai descendo para o fundo a água entra em seu corpo, não adianta tentar subir, está amarrada a pesos e mesmo que não o tivesse, ela desistiu, cansou-se de lutar, é perda de tempo o fazer.

     Bella não respira, médicos entraram as presas, seu quadro clinico não é grave, mas a mulher não responde adequadamente, o calmante foi imediatamente suspenso e ela ficou em observação até despertar. Mas para o desespero de sua família ela está viajando enfrentando seus próprios demônios e não há nada que possam fazer. Samira tentou entrar no subconsciente de sua irmã pela ligação que mantinham, seu erro custou um ataque de epilepsia em Bella, foi a forma que seu frágil corpo encontrou para se defender de uma invasão não desejada, ninguém tem acesso a sua mente e ela passou mais tempo que o previsto em um sono profundo, sua expressão serena não revela a ninguém o que se passa, porém algumas vezes ela tem reações serias e nenhum medico consegue dizer com precisão o que há com ela. Helena não se apega a opinião dos doutores, mas está incapaz de intervir na melhora de sua filha e não podem confiar Bella a ninguém.

     Nomikos se encontra em outras formas, outras idades e com características diferentes, sabe que é ela, mas não as reconhece, seus rostos mudam, suas roupas nem se fala, mas todas estão ali diante de si, a olhando, ela está tentando se matar, mas permanece viva, culpa-se e acredita que o único modo de pagar seu débito pelas vidas que tirou é tirando a sua, todas passaram pelo mesmo, de formas diferentes e com dores infinitamente maior, ela conhece a todas sente a todas, pois são suas, ela é Bella, mas também é algo que se enoja, tem raiva de si mesma, seu ódio por si aumenta a cada minuto, em sua mente passou anos, e sua tristeza apenas aumentou, sem ser capaz de fazer nada, permanece em sua própria escuridão.

O Depoimento de Bella NomikosOnde histórias criam vida. Descubra agora