34 | FAÇA VALER A PENA

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n/a: já querendo adiantar minhas desculpas pela demora, e também avisando que esse capítulo ficou um pouco mais curto que o de costume, mas prometo que irei recompensar em breve!!! mil perdões :/

𝐼𝑆𝐴𝐵𝐸𝐿𝐿𝐴

A morte. Como falar sobre ela? Um assunto no qual a maioria teme. Claro, ainda existe aquele grupo de pessoas que discutem com facilidade sobre essa certeza em nossa vida, mas, particularmente, sempre fora um assunto no qual eu evitei ao máximo.

Não sei bem o motivo, mas na maioria das vezes que estávamos naquela típica conversa entre amigos, em uma roda, assistindo ao nascer do sol na praia (provavelmente chapados) e conversando sobre a vida, e alguém citava sobre a morte, subia um frio pela minha nuca e logo em seguida eu mudava de assunto, tentando expulsar a energia péssima que surgia entre nós.

Pode soar estranho, mas toda a vez que eu escutava aquela maldita frase "aproveite a vida a cada segundo", ou qualquer variedade dessa merda, tinha que respirar muito fundo para não revirar meus olhos e soltar uma bufada enorme. Essa frase sempre saia da boca de alguma garota popular do colégio, na qual tinha como maior ocupação semanal assistir os garotos jogarem futebol todas as segundas e quartas. Por favor, no dia que me verem perdendo minhas tardes babando aqueles garotos que se pagam de pirocudos, podem me arrastar para casa a tapa.

Sempre veio em minha mente a dúvida de qual seria o problema se você não "aproveitasse" um dia ou outro, afinal, todo mundo tem aqueles dias que só uma cama já é o suficiente, e ficar olhando para o teto a tarde inteira ouvindo sua música favorita não é, de fato, mal algum.

Parando para pensar, até mesmo esses dias, que quando você vê já está anoitecendo e se dá conta de que não fez nada produtivo, até mesmo esses dias podem se encaixar no conceito de "aproveitar a vida." Afinal de contas, quem disse que o significado de aproveitar a vida é ir a festas, arranjar um namorado sarado e ser a mais popular da escola?

E, infelizmente, uma perda – na verdade, a primeira perda – na minha vida foi preciso para que eu me desse conta disso. Porque no final, o que resta são as lembranças de momentos assim. Momentos simples, mas cheio de sentimento.

Às vezes que meu pai gritava de dentro do carro elogios infantis quando me largava na escola, quando me ensinou a pescar, quando fazia pegadas com farinha pela casa fingindo ser o coelho da páscoa, quando me ensinou a andar de bicicleta sem rodinha e que me custou uma cicatriz no joelho, quando chorou pela primeira vez na minha frente assistindo a um jogo do seu time, ou até mesmo quando fingia que chorava quando eu não dava beijos de boa noite na sua bochechas, essas cenas eram dignas de um oscar. Ah! Os beijos de boa noite, mesmo eu não admitindo na época, com certeza eram uma das melhores partes.

Quando recebi a notícia da sua morte, não tive reação, não queria acreditar que aquele momento havia chegado. Perder uma das pessoas que mais ama no mundo, um pai, um melhor amigo, aquele que você pode chorar abraçado e também brigar pela última fatia de pizza.

Com certeza foram dias difíceis, ainda são, e eu soube naquele exato momento que minha vida não seria como antes. E certamente tudo mudou. Mas depois de dias com a porta do quarto trancada, sem ver pelo menos alguma luz pelas frestas da janela, com quase 10 quilos a menos, eu soube que poderia tornar menos complicado essa situação. Nunca deixou de ser desafiador, mas hoje eu vejo que as coisas não acontecem em vão. A vida é um ciclo e, querendo ou não, a morte faz parte dele.

Com toda certeza eu mudaria a frase "aproveite a vida" para: faça valer a pena.

"Aaai!" Apertei meu pé dando saltinhos assim que Alice passou por cima dele com sua mala de rodinhas "Pra que você pegou tantos brinquedos? Senhor! Meus filhos nunca vão ser tão mimados assim." Imediatamente, mamãe estreitou os olhos em minha direção, fazendo sua famosa expressão de mãe brava.

ISABELLAOnde histórias criam vida. Descubra agora