ISABELLA

45 | CHEGOU A HORA

ISABELLA

Estava amanhecendo e o cheiro do café penetrava as minhas narinas. Na verdade, eu nem gosto de café, só precisava de algo que me entretesse enquanto estava acordada. Talvez meu corpo já estivesse amortecido depois de ficar umas cinco horas sentada na mesma posição.

Eu não havia prestado atenção em seus passos até o cômodo onde eu estava, apenas o notei quando um vulto passou por mim indo em direção à cozinha.

"Bom dia." Liam passou a mão pela minha cabeça "Quando você começou a gostar de café?" Ele analisou o saco quase pela metade.

"Descobri recentemente que gosto." Levei alguns segundos para responder "Recentemente eu tenho tido muitas descobertas." Meteu essa, Isabella? Porra!

"É?... Tipo o que?" Liam perguntou enquanto fazia seu café da manhã.

"Nada demais, só algumas coisas como..." Fiz uma pausa para beber meu café "Sei lá... Falsidade ideológica." Abri um sorriso irônico.

Liam largou os talheres no balcão rapidamente, mas continuava de costas para mim.

Eu nunca tinha tido essa coragem. Bater de frente com Liam era algo que nunca havia se passado pela minha cabeça.

"Você não tem noção que isso é crime?" Perguntei, mesmo sabendo que a resposta era óbvia "Você é um homem adulto, Liam."

"Eu não sei do que você está falando." Simplesmente respondeu. Pegou suas chaves e vestiu um casaco, pronto para sair pela porta.

"Eu posso refrescar a sua memória se você quiser." Levantei os documentos mostrados anteriormente por Axl.

Sua expressão mudou radicalmente. Eu sentia que iria morrer, um infarto por ansiedade, uma overdose de café, qualquer merda que fosse. Mas o olhar penetrante de Liam provocou-me a sensação de que minha alma havia me deixado ali mesmo, apenas o corpo o encarando, como uma carcaça de cigarra.

"Onde você achou isso?" Ele arrancou os papéis da minha mão.

"Não importa agora." Retruquei "Eu quero que você se entregue."

"Ha! Até parece. Agora porque você quer, eu vou me entregar."

"Eu estou falando sério." Persisti "Em que mundo você vive? Como que você pensou que era uma ideia boa você viajar para fora de um país com uma criança que você não tem a guarda?"

"Bom, tecnicamente eu tenho."

"Tecnicamente? Você falsificou um documento, porra. Isso não é tecnicamente." Uma lágrima escorreu pelo meu rosto "Quando você pretendia me dizer?"

Ele ficou em silêncio por um tempo, estava pensativo.

"O Noah não merece isso." Estava quase implorando "Você sabe que errou e era questão de tempo para que eu descobrisse. Confessa tudo isso, por favor."

"Ou o que, Isabella? Você vai fazer o que?" Deu um passo para frente.

"Ou... Ou eu mesma te entrego." Era mentira. Eu nunca teria coragem para fazer isso. Eu sinto minhas pernas tremerem só agora, imagina encarar uma delegacia. Isso é fora de cogitação.

"Você não faria isso." Ele sabia. Ele tinha completa ciência da minha capacidade tanto quanto eu. Nós dois sabíamos que eu não era suficiente para isso.

"Você acha justo com o Noah? Você acha justo comigo?" Ele se aproximava cada vez mais, mas seu olhar não era de raiva. Foi uma das poucas vezes que eu não consegui decifrar o que ele estava expressando.