36 | FUJA

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ERIN

Porra! Porra! Porra!

Minhas mãos pareciam feitas de alface, qualquer coisa que segurava logo caia no chão. Dentro da minha mala só havia duas blusas amassadas e uma calcinha que nem sequer sei se está limpa. Eu precisava terminar com isso hoje, mais precisamente, agora!

Óbvio que esse bebê é do Axl, nem sei como eu pensei em me auto enganar. Porra! É só o que eu digo. Uma criança é uma péssima notícia, uma péssima hora, tudo está péssimo. Eu não quero que Axl crie expectativa, não era para isso estar acontecendo. Porra!

Duvido muito de que algum dia da minha vida eu possa ter pensado em construir uma família com ele ou até mesmo um futuro. Axl, para mim, é uma fase, algo passageiro. Apenas uma experiência, que logo passaria e ficaria na memória.

Encarei o espelho por longos segundos enquanto a fumaça do cigarro embaçava um pouco da minha visão. Concentração, Erin! Concentração!

A pia do banheiro estava uma sujeira sem fim, tudo estava uma anarquia. Depois que os meninos começaram a usar aqui para ensaiar tudo ficou uma zona fedida e bagunçada.

Empurrei tudo que estava em cima da pia para uma sacola de lixo. Era uma mistura de restos de drogas, comidas, plástico e maquiagem. Se minha mãe visse isso com certeza surtaria (não que eu não estivesse a um ponto disso.)

Enquanto eu limpava, algum líquido caiu no pé e eu acabei derrubando a sacola. Porra, Erin! Qual o seu problema? Juntei as coisas que caíram para fora da sacola fazendo uma concha com a mão, limpei meu pé em um pano que os meninos chamavam de tapete e voltei a atenção para a minha mala.

Assim que me levantei do chão minha cabeça girou e eu senti meus olhos quase desgrudarem do crânio. Era a segunda vez que eu vomitava nessa noite e eu já estava enjoada de sentir o cheiro daquele vaso sanitário. Subia um futum toda vez que eu levantava aquela tampa. Nem os meninos depois dos  shows fedem tanto quanto esse vaso, e olha que isso é desafiador.

Senti como se minha alma tivesse ido embora do meu corpo e encostei minhas costas na parede oposta, de frente para o vaso caso algum imprevisto acontecesse novamente. Minhas costas doíam, possivelmente por eu ficar boa parte do meu tempo agachada.

O que você está fazendo comigo? Suspirei olhando para minha barriga. Uma lágrima escorreu e me escorei completamente na parede, deixando meu corpo inteiro escorregar pelo chão. Naquele momento eu nem dei importância para a sujeira, um pouco para o fedor, mas a sujeira era o menor dos meus problemas.

Sustentei minha cabeça com as mãos, fechei meus olhos e respirei fundo, soltando o ar devagar, fiz mais uma vez e mais uma vez. Minha mente palpitava impedindo que eu pensasse direito e com tranquilidade, mas uma voz lá, no fundo, bem no fundinho, implorava por um arroz com sorvete. Nossa! Cheguei a salivar imaginando um prato enorme. Apoiei as mãos nos joelhos e abri os olhos, analisando a mim mesma. Arroz com sorvete? Que ideia de merda é essa?

Juntei as roupas do chão e soquei na mala, eu não tinha tempo e nem paciência. Eu ainda fungava e a quantidade de lágrimas que escorriam pelo meu rosto havia diminuído, mas eu estava sentindo um peso nas costas, um peso que eu não gostaria de admitir. Eu errei com Steven, eu sabia que esse filho era do Axl e mesmo assim eu o enganei, enganei os meninos, enganei Axl, enganei a mim. Mas eu estava tentando me salvar, salvar Axl. Eu não podia deixar que ele acreditasse na gente.

E agora, de repente, tudo mudou. Era filho, sujeira, mudança, humor, desejos estranhos de comida, enjoo, tudo estava um caos. Eu joguei a merda no ventilador e agora estou tentando nadar nela.

Sentei em cima da mala e consegui fechar ela, finalmente estava pronta. Arrumei algumas coisas que estavam ao meu alcance e deixei um pouco de bagunça para trás. Era necessário que eu fosse embora o mais rápido possível.

ISABELLAOnde histórias criam vida. Descubra agora