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Dias atuais.                                                  Ettore

Capítulo 4.
Claro que ele não se importava! Como poderia? Há mais de um ano que a
cortara de seu coração com precisão cirúrgica. Tudo não passara de uma valiosa
experiência.
Mesmo que sua vida dependesse de uma palavra, Sophie não teria
conseguido falar. Há apenas alguns segundos, a mesma voz e o mesmo toque a
tiraram da imobilidade do choque, mas naquele exato momento suas energias
tinham sido drenadas. Ele! Na Itália O último homem que ela queria ver.
Alguém que ela já varrera de sua memória.
Brutalmente lindo, como sempre. As gotas de chuva brilhavam sobre o cabelo
negro e sedoso. E a boca prometia, e entregava o paraíso na terra. Uma boca pela
qual se poderia morrer. Do alto de seu um metro e oitenta e três centímetros, ele
ostentava um terno bem cortado e caríssimo, preenchendo-o com sua elegância
E ela mal podia respirar diante do olhar de desprezo dele.
Ettore reparou que os grandes olhos cinzentos de Sophie estavam
assustados, e sua boca, macia e sem pintura, tremia. Teria sido o choque de um
quase acidente? Ou algo mais? Era óbvio que ela não estava ferida. Ettore pensou
consigo que, vendo-a em total estado de penúria, não se sentia nem um pouco
atraído. Ele era a única culpada pela própria ruína. Quem sabe, tinha saído a
pouco da prisão? Nem todas as suas vítimas teriam sido tão generosas como ele
fora.
Com essa idéia em mente, Ettore quase foi embora quando ouviu um protesto
furioso vindo das profundezas daquele pavoroso carrinho de bebê. Suas
sobrancelhas negras se levantaram ao ver Sophie retirar de lá um pacote bem
embrulhado e aconchegá-lo junto ao coração. Por uma fração de segundo, a
expressão terna e adorável fez renascer a beleza interior que já o extasiara uma
vez.
Sophie o impressionara justamente por tratar os gêmeos da sua irmã com
firmeza, porém, como se eles fossem às crianças mais especiais do mundo. Que
ela era uma excelente babá, isso ele não podia negar. — Seus atuais patrões não podem comprar um veículo mais adequado para o
bebê? Esse parece que foi encontrado no lixo. — Eu não trabalho mais como babá, e você sabe muito bem disso, signor.
Simon é meu filho.
E seu também, acrescentou mentalmente. Pois jamais falaria isso em voz
alta, mesmo que fosse arrastada por cavalos selvagens.
— E agora eu preciso ir, pois já estou muito atrasada.
— Ir para onde?
A chuva começou a cair mais forte. Um vento fustigante soprava. A face de
Sophie estava mais magra do que ele se lembrava. E mais pálida. No deserto no oásis, a pele
dela brilhava de saúde ao toque do sol, e ainda tinha um bocado de sardas no
lindo nariz. Um nariz que franzia quando gargalhava ou sorria. Ela costumava rir
muito. Sua genuína alegria de viver o enredara. A leveza e o charme deveriam
fazer parte do arsenal que ela usava para impressionar, pensou com amargura.
Um arsenal cinco estrelas, pois ela fora capaz de iludir cinicamente um renomado
banqueiro uma altoridade como ele na posição de um sheik.
Inclinada sobre o carrinho de bebê, ela ignorava Ettore. Irritado com a
ausência de resposta para um pergunta tão razoável, e ainda mais possesso por
estar se incomodando com isso.
— E então?
Por que ele não ia embora? Sophie tinha vontade de gritar. Vê-lo a estava
destroçando mentalmente. Ela havia se esforçado para esquecê-lo. Tinha varrido
de sua memória as semanas mágicas passadas na arábia saudita no oásis O modo como o amara, e
o modo como tolamente tinha acreditado que ele também a amava. E depois de
tudo, um pesadelo repleto de dor, humilhação e desgraça. A disposição dele em
acreditar que ela era uma ladra, sua gélida indiferença às tentativas de defesa
dela, o modo como agira para assegurar que ela jamais trabalharia como babá e o pior não ter falado sobre ser noivo.
outra vez. — Estou indo para Finsbury Circus — murmurou por entre os dentes. Quem
sabe se respondendo a pergunta, embora não fosse da conta dele, a deixaria em
paz.
Não havia mais pressa. Na hora em que chegassem lá, Tim já não estaria
mais. Ele não queria se atrasar para o trabalho, ainda mais com uma promoção em
vista. E o táxi, abarrotado com o restante de seus pertences, não deveria chegar
antes do anoitecer.
— Levo você de carro. Não é longe.
Aquilo não era uma sugestão, e sim um comando.
— Não precisa.
— Não seja boba. Você está encharcada e já confessou estar atrasada.
Ele já agarrara o braço de Sophie e abria a porta para que ela entrasse. A
poltrona de couro parecia convidativa. O interior do carro estava quente e seco.
Também havia no ar a leve fragrância da loção pós-barba que ele adorava. Era
íntimo demais para Sophie. Ela se voltou num salto.
— Meu carrinho de bebê! Não posso abandoná-lo.
Todas as coisas do bebê estão lá.
— Eu resolvo! — disse Ettore, em tom bastante autoritário.
Simon  se remexeu nos braços de Sophie. Ela refletiu que não poderia ficar o
dia todo discutindo naquela chuva. Portanto, obedeceu a instrução de colocar o
cinto de segurança enquanto ele andou a passos largos, até uma loja de caridade
levando o carrinho.
Bastaram alguns segundos, e uma generosa doação em dinheiro, para
resolver o problema. Ele retornou ao carro com cobertores, um ursinho azul e um
monte de produtos para bebês. Ettore não sabia por que se importava tanto. Com
certeza, não seria por causa daquela atrevida. Claro que não. Era, certamente, por
causa da inocente criança. Satisfeito com a explicação, depositou as coisas no
banco traseiro e posicionou-se junto ao volante. Nenhuma esposa sua ficaria ao
relento naquele temporal, empurrando uma criança dentro de um artefato que
poderia ter estado na moda quando a Rainha Vitória ainda ocupava o trono.
— Qual é o endereço? — perguntou ao dar a partida no motor.
Procurando absorver a resposta de Sophie, Ettore retornou ao trânsito. Ela
não estava usando aliança. Mãe solteira? Devia ter saído da cama dele direto para
a cama de outro homem! Por dentro, Ettore se corroia de raiva.
O bebê choramingou. Num relance ele pôde ver que a criança tinha fartos
cabelos negros cacheados e também grandes olhos castanhos. Que garoto
bonitinho! Pena que o pobrezinho tinha como mãe uma ladra promíscua.
Espreitando o relógio digital no painel e tentando se concentrar no fato de que
talvez pudessem chegar a tempo, Sophie procurou afastar da mente a idéia deppr.                                                      Continua...

A FUGITIVA 1(FINALIZADA).Onde histórias criam vida. Descubra agora