Eu sou especial

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Acabei de perceber que apenas me iludi. As férias não estão correndo como esperei, não posso sair com Jimin, não posso ver meu pai, não posso sequer me manter confortável por muito tempo...

—Taehyung, coloca um vestidinho!- a minha mãe reclamou mais uma vez balançando o filho no colo. —Que exemplo você está dando ao seu irmão?

De facto aquilo estava começando a me irritar. Não acreditava que um bebé podesse entender e muito menos ver algum problema no tipo de roupa das pessoas. Por isso eu apenas neguei. Estava confortável assim, era assim que queria me vestir e foda-se o mundo.

Eu fui muito idiota em pensar que ela entenderia. Que me aceitaria caso decidisse me assumir. Desta forma me levantei do sofá sem dizer nada, desliguei a TV e me tranquei mais uma vez no quarto ainda de paredes gastas e sem tinta. Como não tinha nada para fazer e obviamente não me encontrava bem psicologicamente, peguei nos meus pincéis, algumas tintas sobrando e comecei a minha arte.

Eu nem olhava de facto para a parede. Eu só pensava em algo enquanto o meu braço descrevia movimentos leves e simples. Enquanto o meu corpo trabalhava, a minha mente trabalhava ainda mais em outro sítio, em outras situações.

Como não posso sair de casa, Jeon muitas vezes trás as tintas e as telas para mim, agora que frequentemente passa tempo com Namjoon no seu estúdio de tatuagens. Ele falou que hoje chegaria um pouco mais tarde, não fiz perguntas afinal não era da minha conta.

A senhora Choi me entendeu desde o princípio e tenta explicar as coisas de uma outra forma para a minha mãe, mas não tem tido resultados. Eu sou um homem, gosto de algumas maquiagens, roupas largas, adoro quando o meu cabelo curto está bem alinhado. Amo videogame e pintar. Coleciono brincos de várias cores e feitios, sei fazer tudo em casa e amo cozinhar. Este é quem eu sou, uma mistura de coisas ditas femininas e masculinas.

Isso é algo tão idiota. Não existem coisa masculinas e femininas, não existe essa separação estúpida. Foi a sociedade que colocou essa divisão ridícula. Eu amo rosa e nem por isso sou gay. Eu sou gay porque sinto atração por outros homens, ponto final. Nasci assim e não posso mudar, mas posso mudar o facto de ser obrigado a viver uma vida que não é minha e ter assumido uma identidade que não me representa.
Eu sou Kim Taehyung, um garoto Trans, gay e que só quer ser feliz e aceito por quem ama.

A tinta amarela terminou. Não havia problema pois logo peguei na branca e continuei naquilo até o meu irmão chegar mais tarde que o costume. Soube logo que era ele quando bateu na porta, o seu toque é diferente. Abri a mesma e o deixei entrar. Um sorriso pavoroso entre os lábios finos e algumas sacolas de tinta em mãos.

—Eu não queria dizer nada mas a sua mãe é completamente insuportável!- reclamou deixando os sacos em cima da minha cama. O encarei confuso e ele me mostrou uma saia justa, rosa. —É pra você!- revirei os olhos tratei logo de pegar uma tesoura. Cortei aquela saia até ser apenas um amontoado de tecido, peguei naquela porcaria e deixei no chão da porta do seu quarto. Quando saísse teria uma bela surpresa.

—Se ela não me aceita vou ter de sair de casa. Está ficando cada vez mais ridículo!- ele concordou com a cabeça mesmo a contragosto. Eu via a chateação no seu semblante mesmo ele tentando disfarçar.

—Eu fiz uma coisa para vocês!- comentou tirando a camisa deixando o abdômen definido no meio do meu campo de visão. As minhas bochechas ruborizaram o fazendo rir de maneira fofa. —Olha aqui!- apontou para sobre o peitoral do lado esquerdo, onde o meu nome e o de Junghyun se encontravam tatuados em linhas finas e bonitas. Achei tão fofo que não pude segurar o sorriso largo, contente.

Quando ouvimos os gritos horrorizados soubemos que a mais velha já tinha visto a saia destruída e rimos divertidos. Durante toda a semana aquela cena se repetiu. Não podia sair e tinha de ser feminino perto do meu irmão então optei por nem sair mais do quarto pois não iria mentir para mim mesmo e era ridiculo fazê-lo com um bebé. Junghyun devia me chamar de irmão porque é isso que eu sou, um homem!

O Meu Corpo Não Me DefineOnde histórias criam vida. Descubra agora