A conversa

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Voltei para casa depois de pegar algum dinheiro com Namjoon. Vi a minha mãe passar por mim no carro de polícia para qualquer mas ignorei, não estava preparado para essa conversa.
Assim que abrir a porta Bob e a raposa correram em minha direção, obviamente assustados pelos gritos histéricos da minha madrasta.

Mais uma vez o motivo da briga eram as calças largas de Taehyung e a sua pouca feminilidade.
Me aproximei e esperei que a mais velha acabasse de destilar todo o seu ódio para tomar a palavra.

—Não acho que esteja a agir de forma correta!- fui curto e grosso. Ela me encarou com tanto ódio que a sensação foi totalmente indescritível, pavorosa, assustadora.

—Não se meta!- se apressou em dizer. —Você não é ninguém para se intrometer na forma como educo a minha filha!- berrou, o rosto ardendo em raiva, vermelho como Marte.

Taehyung me olhava atento. Eu via o medo nos olhos dele, o desespero para que me calasse. Mas eu não me ia calar nunca mais.

—Senhora Kim, você não gosta da Jimin? -questionei a seguindo até a cozinha quando a mesma se afastou raivosa.

—Que pergunta é essa? É claro que eu gosto da sua namorada. Ela é uma ótima moça.

Os olhos atentos sobre mim me intimidavam mas não iria voltar atrás. —Jungkook, por favor não!- a voz dele soou num tom tão quebrado que me entristeceu.

—Jimin é bonita não é? Muito! Uma bela moça, sabe manter uma conversa sobre variados assuntos. É trabalhadora e até ajuda a senhora com Junghyun quando pode!

Ela concordou com um tom de obviedade. —O que você quer dizer com isso? Ela está grávida??

Antes fosse... Aquela conversa seria difícil mas tanto eu quanto Taehyung precisamos tirar este peso de cima. —Por favor, por favor, não!- os seus braços me rodearam tentando calar a minha boca mas falhando devido à altura. —Jungkookieee...

Aquela imagem não sairia tão facilmente da minha mente. Os olhos completamente marejados e lágrimas por todo o rosto. A dor na expressão dele quase como se a cada palavra o seu interior apodrecesse mais um pouco. O seu estado era deplorável tamanho o medo da rejeição. As suas costas foram afagadas por mim e o seu rosto se enterrou no meu peito. Estava sendo cruel em expor algo que não me dizia respeito mas eu tinha de abrir os olhos da mulher, pelo menos para que aceitasse melhor o filho quando chegasse a vez de se assumir. Não seria um monstro ao ponto de revelar a sua transexualidade à mãe no seu lugar.

—Tae, o que aconteceu? O que você quer me dizer Jeon!- reclamou impaciente preparando o leito do filho.

—Jimin é uma garota Trans!- falei de uma vez e vi a expressão de choque inicial na sua face. Entendi que ela sabia bem o que queria dizer. A senhora Kim tinha conhecimento do significado dessas palavras.

—Ela é um homem!?

—Não! Ela não é!- neguei com o dedo indicador indignado sentindo os dedos do mais velho amassando a minha camisa enquanto se esguelava de chorar. —A Park é a minha namorada. Eu a amo mais que tudo e ela não deixa de ser tudo o que você falou só por ter nascido no corpo de um menino!

A mulher parou o que estava fazendo para ficar de frente para mim, em silêncio por longos segundos. Ela ia falar algo mas se arrependeu e se calou. Depois trocou olhares entre mim e o filho. —Tenho de amamentar o seu irmão. Falamos sobre isso depois!- a seriedade em sua voz se tornou assustadora pela primeira vez em anos.

Passou por nós sem dizer mais nada e se fechou no quarto com o bebé. —Idiota!- reclamou estapeando o meu peito coisa que nem doeu na verdade. —Ela vai me odiar quando souber e vai me mandar embora!

O Meu Corpo Não Me DefineOnde histórias criam vida. Descubra agora