O meu pai é uma Drag Queen

433 62 15
                                    

Suspirei cansado, as aulas de química não eram pra mim. Todas aquelas fórmulas e teorias sem sentido faziam com que o meu cérebro desse um nó. Pelo menos podia estar vestido com roupas que gostava e mais confortáveis enquanto os meus pais estão fora.

Esperei ansiosamente que o sinal batesse e me encaminhei ao refeitório, estava esfomeado.
Comprei um pão de queijo e um sumo, sentando em uma mesa vazia para desfrutar da minha refeição.

Ao longe avistei Jungkook com os amigos e me senti feliz por ele, mas triste ao mesmo tempo porque não tinha amigos na faculdade para partilhar aventuras ou rir de qualquer besteira. Deixei pra lá esses pensamentos e mastiguei com prazer o meu pão delicioso.
Eles gargalhavam alto de algo e do nada iniciaram uma dança estranha que achei engraçada. Até me juntaria se não precisasse ir no banheiro urgentemente.

Senti a bexiga apertar mas não iria no banheiro nem fudendo. Odiava fazer xixi, olhar para a minha vulva era o pior castigo. Eu me sentia tão sujo e nojento, só de pensar em tocar no meu órgão genital sentia calafrios. Cruzei as pernas sentindo-as tremer. Doía como o inferno e de certo eram perceptíveis as minhas expressões de dor mas eu preferia mijar nas cuecas do que ir no banheiro.

—Tae?- levantei a cabeça e arfei suplicante. Jungkook estava na minha frente com uma expressão preocupada no rosto, os amigos dele continuavam lá brincando divertidos demasiado aéreos para prestarem atenção em nós. Devia ter me visto quando entrou no refeitório. —Vá no banheiro, pelo amor de Deus!- pediu. Ele conhecia bem demais as minhas expressões.

—Não quero!

—Anda!- mandou puxando me pelo pulso para fora dali. Eu tinha de me apertar para não acabar vazando. —Eu fico na porta. Faça com calma, se precisar de ajuda pode gritar!- concordei e corri para dentro, entrei na cabine mais próxima e sentei no vaso abrindo enfim as águas do Nilo. Não fazia ideia que conseguia aguentar tanta urina de uma vez.

Foi um alívio. Limpei com papel e puxei a descarga antes de lavar as mãos com água e sabão. Suspirei limpando o suor das têmporas, para alguns pode ser algo sem importância, normal do dia a dia, mas para mim era um inferno fazer xixi. Quando saí, o Jeon estava encostado na parede com os braços cruzados, mordia o interior da bochecha visivelmente irritado. Ele me olhou por uns segundos e fez sinal com a cabeça para que o seguisse. —Vamos para casa!

Arqueei as sobrancelhas confuso sem entender. —Quê? Como assim?? Vamos ter aula.- ele deu de ombros e continuou a andar calmamente até a saída. Ele estava me assustando.

—Quer ir no médico?- neguei rapidamente. —Eu tenho medo de você apanhar uma infecção por segurar por tanto tempo!- eu entendia o seu ponto de vista mas Jungkook não sabia da verdade, pelo que não podia falar muito sobre. —Aconteceu alguma coisa? Alguém fez algo com você?- neguei.

Me sentia um lixo por causar tantos problemas e preocupar o mais novo. —"Ao menos que você se abra e compartilhe seus sentimentos, ninguém pode entender o que você está passando."- ele tinha razão mas não estava preparado ainda para me assumir.

O trajeto até casa foi silencioso. Eu via que ele queria fazer várias perguntas mas se continha e respeitava o meu silêncio, sério, Jungkook é um anjo e não merece o pai que tem.

Quando chegámos fomos recebidos por um Bob saltitante de cauda irrequieta. Ele se jogou nos nossos pés e começou a rebolar no chão, uma gracinha. Entrei em casa seguido do mais alto e corri para o meu quarto, o meu lugar feliz. Me atirei na cama e coloquei a mochila escolar de lado sem muita paciência.

Alguns barulhos altos vinham do andar de baixo, ignorei e tomei um banho o mais rápido possível, odiava ficar muito tempo sem algo que cobrisse as minhas partes horríveis. Mais refrescado, peguei o meu caderno de desenhos e não o poupei por vários minutos, ou horas? Nem sei!

O Meu Corpo Não Me DefineOnde histórias criam vida. Descubra agora