O assalto

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Quando a vi caminhar até mim numa confiança extrema me senti intimidado. Minha mãe se sentou em minha frente na mesa do restaurante e então chamou o garçom. Em todo esse tempo eu estive calado apenas apreciando o quão diferente ela estava desde a minha infância.

O cabelo curto em tons escuros diferente do cabelo longo, ruivo de antigamente. O corpo esbelto agora mais magro e definido sobre o vestido amarelo, contrastando com o esmalte negro em suas unhas. A maquiagem leve que antes não existia e a confiança de uma mulher bem resolvida e independente.

—Eu vou querer um prato de carne assada com batata. E você?- se dirigiu a mim num tom manso quase cuidadoso.

—Hambúrguer!

—E para beber?- ele perguntou apontando tudo num caderninho amarelo.

—Coca cola!- pedi.

—Duas colas por favor!- ele acentiu e nos deixou novamente sozinhos na mesa.

O silêncio era constrangedor. A mais velha tinha a atenção toda no celular e eu só bufava aborrecido. Depois de uns minutos ela deixou o aparelho de lado e começou: —Já podemos falar?

—Estou esperando faz vinte minutos!- reclamei chateado.

—Que engraçado! Eu esperei durante anos!- ok, ela tinha um ponto a seu favor. Fiquei calado esperando alguma iniciativa dela que prontamente veio. —Eu não te abandonei, tentei falar contigo todos os dias mas o seu pai nunca deixou! Depois foi você que não quis, não aceitava minhas ligações, não deixava a sua madrasta passar a ligação para você. Eu tentei! Juro que tentei mas você Jungkook não estava nem aí!

O seu tom alto chamou a atenção de algumas pessoas em mesas vizinhas. Me encolhi no acento envergonhado e agradeci quando o garçom colocou as bebidas em cima da mesa. —Papai falou que a senhora tinha nos deixado por outro homem.

—Eu deixei o seu pai depois que descobri os crimes que andava cometendo. Eu tentei prender o patife mas não existiam provas!- explicou agoniada. —E quando eu cheguei em casa depois dos meus colegas terem vasculhado a casa ele já tinha levado você...

Engoli em seco tentando processar toda aquela informação. As luzes do restaurante iluminavam a face cansada da minha mãe. —Aqui estão os pratos!- agradecemos e começamos a comer em silêncio. Agora entendia o seu lado e não a podia culpar pelo que aconteceu.

—Acho que já conhece bem a Jimin!- tentei iniciar uma conversa civilizada com a mais velha. Minha mãe levou uma garfada de comida à boca e comentou:

—Sim, ela é uma boa menina. Taehyung também é bem simpático.

Depois daí não parámos mais. Fiquei sabendo sobre a sua infância, como havia conhecido a minha madrasta no parquinho perto de casa em crianças e como ela encontrou meu pai pela primeira vez. Me explicou como funciona a polícia e porque o seu sonho de ser bailarina não deu certo.

Contribui contando como havia sido a minha infância sem si. Como papai tratava de maneira diferente o Taehyung e como isso me incomodava. Contei sobre a senhora Kim e as nossas desavenças e o meu namoro com Jimin. No final falámos tanto sem dar pelo tempo passar que apenas restavamos nós dois no restaurante. Ela fez questão de pagar para nós dois e se despediu de mim com um beijo na testa.

Na saída do restaurante avistei uma grande loja de flores e sorri largo contando os centavos na carteira. Os meus olhos brilharam e logo decidi adentrar o lugar. Tantas flores diferentes que ultrapassavam a minha vista. Uma grande caminhada pelo sítio foi feita por mim, observando tudo com atenção, lendo as plaquinhas com informações sobre as plantas e os cuidados a ter com cada uma.

O Meu Corpo Não Me DefineOnde histórias criam vida. Descubra agora