A matança do cabelo

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Eu sempre odiei a forma como o meu pai impingia que Taehyung fosse uma menina tradicional. Ela pedia pra cortar o cabelo mas papai não deixava e dizia saber o que seria melhor pra si. Ela apenas concordava pois não havia nada que podesse fazer para contrariar o padrasto ranzinza.

Não me interprete mal, eu não gostava da garota, pelo contrário, nunca nos demos bem. Apenas não gostava de ver a forma como a mesma era tratada dentro da minha casa.

A mãe dela não ousava desobedecer meu pai e até uns tempos atrás eu também não, mas isso mudou quando conheci Hoseok, o vizinho da frente.

Ele é alguém alegre, sorri o tempo todo e adora conversar. Na verdade a culpa não era bem dele e sim do namorado dele, Min Yoongi. Ele sim era um garoto rebelde que nos levava para o mau caminho, não que isso me importe. Eu adorava sair escondido para grafitar tudo o que encontrasse ou fazer apostas ilegais. Trapacear no casino se tornou um dos meus hobbies preferidos.

Por outro lado, Taehyung não saía do quarto por muito tempo. Ela poderia ser definida como uma garota tímida e reservada. Não tem muitas amigas e as poucas que tem, se comunicam pela internet. Não é uma aluna brilhante, apenas mediana e pouco aplicada nos estudos. Na verdade, não há muita coisa que lhe chame a atenção. Parece sempre estar deprimida e considerei isso uma característica psicológica sua, já que desde que começamos a viver juntos, o que já faz uns anos, ela sempre foi assim.

—Por favor, Jongmin, só pelos ombros!- pediu pela milionésima vez. Eu acharia engraçado a forma como tentava desesperadamente livrar-se do cabelo longo pela cintura, se não fosse trágico.

—Taehyung, eu já falei que não! Aproveite e lave uma loiça, a sua mãe vai chegar tarde do trabalho e precisa descansar.

Ela concordou triste e foi fazer o que lhe foi mandado. No geral era uma menina obediente e bem educada, não tínhamos do que reclamar. Eu só não gostava da forma como ela me ignorava e se recusava a falar comigo, sendo que nunca lhe fiz nada.

Desci as escadas preguiçosamente. O mais velho assistia algo na TV e adormecería ali mesmo em pouco tempo. —Quer ajuda?- ela deu um pulinho pelo susto mas não disse uma palavra sequer. Suspirei frustrado e sequei a loiça limpa com um pano.

Ela estava me deixando deprimido ao vê-la deprimida.—Você quer que eu corte pra você?- me referi aos seus longos cabelos cacheados.

—Seu pai vai pirar!- ouvir a sua voz pela primeira vez em semanas foi um alívio, ela estava muito magra e com olheiras profundas em baixo dos olhos marrom.

Assim que acabámos ela subiu para o seu quarto. Suspirei sem muitas opções e aproveitei que o meu pai estava dormindo para sair e encontrar Hoseok e Yoongi. A casa do outro ficava bem perto da minha, apenas a alguns metros. O meu cão brincava na grama com algumas borboletas, corria atrás delas e tentava pegar com os dentes. Ri desacreditado e toquei a campainha do Jung que abriu na hora sabendo ser eu.

Nos cumprimentamos e fui logo recebido com uma cerveja pelo Min. Os seus cabelos estavam tingidos por uma nova cor, um azul bem intenso. —Gostei!- apontei para os fios recém pintados e beberiquei do líquido amargo.

—Eu também. Amor, vem sentar!- o Jung trouxe um pote de pipoca e se sentou sem cerimônia no colo do azulado. —Vamos ver um filme? Hoje não estou com vontade de fugir da polícia!

Concordamos e ficámos assistindo um filme de ação bem animado. Eles passaram o tempo todo se beijando enquanto eu fazia de vela e comia tudo do pote.
Decidi ir para casa no fim do filme. Sabia como aquela noite acabaria e não me apetecia ficar para ouvir.

Foi fácil entrar em casa sem ser notado. Papai tinha um sono pesado demais. A casa poderia estar caindo que ele continuaria dormindo como um bebê. A mãe de Taehyung ainda não havia chegado então só deixei os tênis sujos de terra na entrada e subi as escadas até meu quarto. Ouvi o choro agoniante vir da porta em frente à minha. Ignorei e entrei no quarto, tomei um banho rápido e não preguei olho a noite toda.

O Meu Corpo Não Me DefineOnde histórias criam vida. Descubra agora