O despertador toca às 07.30 como todos os dias, acordo e antes mesmo do café pego minha agenda e refaço a programação do dia. Hoje será como eu gosto, várias reuniões, fechamento de pauta, o dia será bem agitado. Mesmo trabalhando nessa área desde a faculdade ainda me surpreendo com meu amor pelo trabalho, os defensores da sustentabilidade me perdoe, mas nada supera o cheirinho de um bom livro, gosto dos E-books, mas a emoção de folhear as paginas, tentar dar uma olhadinha no fim, como se engane – se a si mesma é sem igual.
Bom tomo meu café enquanto olho o celular, tem umas mil mensagem da minha mãe, sou meio desligada com tecnologia e acabo ficando sem responder, e mesmo com quase trinta anos, minha mãe ainda surta como se fosse uma garotinha cada vez que ignoro suas mensagem, fazer o que, como ela diz ser mãe é padecer no paraíso.
Não muito abaixo de suas mensagem vejo alguns áudios da Mel, ou Melissa, minha melhor amiga desde os tempos de escola, confesso que a Mel é a única pessoa no mundo que me aguenta, e eu não sei como. Nossos pais tem quase uma obrigação moral de nos aguentarem, só estamos no mundo por culpa deles, mas nossos amigos, esses não tem obrigação alguma, nos aturam por amor mesmo ou falta de opção, acredito que a Mel seja a primeira, porque, olha pensa numa pessoa atarefada e que todos amam.
Nós somos o oposto, somos amigas desde sempre, fizemos tudo juntas, até a Mel começar a namorar, casar e para minha surpresa ser mãe. Ela é muito melhor que eu, e seu pacotinho de amor como chama bonequinha de bochechas rosa, e cabelinho loiro, é a prova viva disso. Quando a Aurora nasceu, achei que a Mel ia pirar, somos amigas pra tudo mesmo, e nos primeiros meses vi como foi difícil pra ela, aquela história de romantizar a maternidade é um saco, ela sofreu um bocado no início. Mas passado os primeiros meses, parecia outra pessoa, voltou a trabalhar, estudar e fazer tudo que as mães são ótimas para fazer. E mesmo com essa vida louca continua sendo aquela amiga dos tempos de escola, que me liga sempre, se preocupa comigo o tempo todo. Ela nunca entendeu minha necessidade de ficar sozinha, mas respeita, respeita muito. Acho que minha vida sem a Mel seria muito difícil, até o marido dela o Cal me trata muito bem, no início ele ficava meio estranho, o fato de ser uma solteira convicta o incomodava, acredito que na cabeça dele eu iria influenciar a Mel, e tira - lá dos seus braços, isso chega a ser engraçado. Mas nunca foi minha intenção, ele faz MUITO bem a ela, e quando digo isso é com propriedade.
Eles são o modelo de casamento perfeito, tem brigas como todo mundo, mas vivem uma vida digna dos melhores escritores. São um casal em sintonia, se completam, já passaram por muitas dificuldades, mas estão ai juntos e lindos, e como eu sempre falo são um amor que chega me dar enjoo, digo brincando logico, ver a Mel feliz é um gás na minha vida.
Mas voltando ao celular, quando abro nossa conversa, vejo que a deixei na espera também. Preciso realmente aprender a só abrir as conversas quando tenho tempo para ler. Mas ela já me conhece bem e ao contrário da minha mãe, não vai ligar na delegacia falando que sua menininha de trinta anos não responde o celular. (Minha mãe já fez isso rs).
E a mensagem é básica:
"SUA DOIDA VARRIDA, VÊ SE ME RESPONDE QUANDO PUDER...não entendo a necessidade de escrever isso, mas vou lá ouvir o tal áudio importante.
"Sam, tá viva??, ela começa a gargalhar e quase não consigo entender o resto. Mas Mel sendo Mel, não apaga a mensagem errada, ela grava outra.
"Sam, oi, quinta tem apresentação da Aurora no Ballet, você sabe que ela adora sua companhia, quer ir comigo? Sei que você está na sua correria doida de sempre, mas ela ficaria muito feliz. Me liga depois, bjs
Pego o celular, penso bem antes de responder, eu amo a Aurora, mas outras crianças correndo e gritando já percebo a tensão subindo, nunca tive paciência com crianças, sou filha única, e a relação mais próxima que tive com crianças eram os amiguinhos da escola, que por sinal eu não era a mais sociável. Mas penso naquela carinha, a Aurora acabou de completar cinco anos e está impossível de resistir, respiro fundo e mando minha resposta.
"OI Mel, pode deixar que eu vou, um pedido desses não dá para recusar"...conhecendo bem minha melhor amiga, ela deve estar ouvindo agora, e dando um gritinho de alegria.
Em segundos chega a resposta
"EEEEEEEEEEEE amiga vai ser demais, ela tá linda nessa roupinha, depois a gente vai comer alguma coisa"
A animação da Mel é quase contagiante, se eu não fosse quem sou, mas vamos lá né, sou a quase tia dessa mini pessoa.
Passado o café saio correndo para o trabalho, o dia de hoje promete.
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Devaneios de uma mulher de 30
RomanceSamantha, é uma jovem prestes a completar trinta anos, cheia de vida e projetos. Com temperamento difícil, muitas vezes acaba por se isolar no seu mundo perfeito, mas algo inesperado acontece e a tira do chão, fazendo pensar e reviver seu passado, e...