Estava terminando de organizar a cozinha quando meu celular começa a tocar, percebo que é a Karen, já fico alerta, dei meu número a ela depois das constantes idas ao escritório da Sam. Mas ela nunca me ligou. Pego o aparelho e atendo.
- "Alô"
- "Oi Melissa, tudo bom? É a Karen, olha não sei como falar, mas acho que a Sam está precisando de você, o pai dela está internado de novo."
Puta merda crise de novo.
Não posso deixar transparecer isso, a Sam me fez prometer que nunca contaria sua vida para os outros.
- "Entendi, pode deixar Karen, eu vou falar com ela, e aviso você, muito obrigada por ter me ligado, mas fica tranquila, a Samantha é forte". Ela deve estar péssima, mas não posso contar para alguém como a Sam fica quando está mal.
- "Muito obrigada Melissa, agradeço se puder me avisar"
- "Aviso sim...ah, e obrigada você pela preocupação. Boa noite"
- "Boa noite"
Espero não ter deixado transparecer a preocupação, eu e a Sam somos amigas a anos, acompanhei cada passo da sua vida, ela era uma menina muito doce, com o passar dos anos foi ficando dura, sempre muito sofrimento, acredito que no lugar dela eu não teria aguentando.
Chamo o Cal, e aviso o que está acontecendo.
- "Cal, você poderia vir aqui na cozinha?". Sei que ele ficará bravo, mas a Sam é como uma irmã.
- "Diga, pela sua cara boa coisa não é". Me preparo para contar.
- "Bom, a estagiaria da Samantha me ligou, parece que o pai dela foi internado de novo, acredito que ela esteja mal, vou tentar ligar, mas se ela não atender, como eu imagino que não vá, eu vou para lá". A expressão dele vai de nervoso a frustração em uma velocidade absurda.
- "Mel, Mel, você precisa parar de cuidar da Samantha, ela não é sua filha". Ele nunca vai entender, ela é minha família.
- "Cal, ela é como minha irmã, e você sabe tão bem quanto eu, tudo que pode acontecer". Enquanto falo com ele vou tentar ligar, e como imaginava cai na caixa postal, decido ir até lá -:" vou até lá, a Aurora já está dormindo, vou te mandando notícias".
- "Sei que não adianta pedir para você ficar, então tome cuidado". Esse é meu marido, uma mistura de bravo com protetor, mas extremamente compreensivo.
- "Pode deixar, amo você". Digo já saindo.
Pego o carro e vou o mais rápido possível.
No caminho penso nas besteiras que a Samantha pode ter feito, ela se culpa até hoje pela morte do Pedro, nunca tocamos no assunto, as vezes sinceramente acabo esquecendo, mas sei que ela nunca esquece. O acidente foi como a cereja do bolo para ela.
Chego no prédio, e continuo tentando ligar, nada de atender. O porteiro interfona e nada, como ele me conhece tanta mais uma vez, e por sorte ela atende.
Quando chego percebo que ela está péssima, ainda bem que a Karen me ligou, dessa vez poderia ser tarde demais.
Ela chora muito e fico em silencio, apenas consolando, percebo que ela dormiu deitada em meu colo, pego meu celular e mando uma mensagem para o Cal:
Amor, ela está péssima, quase fez besteira tenho certeza, posso passar a noite aqui?
Não confio em deixa – lá sozinha.
Espero alguns minutos e a resposta chega:
Tudo bem, mas vá mandando notícias, amanha cedo deixo a Aurora com a sua mãe?
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Devaneios de uma mulher de 30
RomanceSamantha, é uma jovem prestes a completar trinta anos, cheia de vida e projetos. Com temperamento difícil, muitas vezes acaba por se isolar no seu mundo perfeito, mas algo inesperado acontece e a tira do chão, fazendo pensar e reviver seu passado, e...