32 - Scott

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Como uma pessoa pode ser tão complexa?

Confesso que no início tudo isso era mais uma aventura, uma diversão mesmo, mas agora, olhando para ela tão frágil penso que existe muito além disso, tenho uma curiosidade e admiração imensa por essa mulher, sei que já disse isso anteriormente, mas a cada dia fica mais evidente, não consigo me afastar, algo me puxa a ela.

A porta abre, e a mãe dela, está abatida, ela entra junto com a medica, percebo a tristeza, mas sua confessa é natural demais para quem está vendo a filha naquela situação, com certeza não era a primeira vez.

- "Oi Querido, tudo bem? Pode ir para casa, eu fico com ela agora". Ela vai se acomodando, colocando coisas no armário do quarto.

A medica começa a ver a medicação e nos passa seu quadro.

- "Acredito que vocês já tenham as informações, dessa vez foi por muito pouco, sem o atendimento medico provavelmente a Samantha não estaria aqui, por este motivo vamos voltar com as medicações e o acompanhamento psicológico. Vera aconselho a voltarem com a cuidadora ou uma pessoa para ficar na casa dela, uma empregada, ficar sozinha está fora de cogitação, pelo menos até termos certeza do seu real estado emocional".

- "Entendo Doutora, já entrei em contato com a antiga terapeuta, estamos vendo a possibilidade de voltar o atendimento, pelo menos ela já conhece o caso todo".

- "Seria perfeito, mas caso ela não possa temos algumas indicações, por hora ela continuará no hospital, pelo menos mais dois dias, vamos limpar todo o organismo, e começar a administrar os novos antidepressivos."

- "Muito obrigada Doutora, agora vou ficar com ela". Coitada dessa mãe, o marido doente e a filha nessa situação.

- "Bom, vou ver outro paciente, caso precisem me chamem". Falando isso ela sai da sala.

- "Rapaz, pode descansar, eu cuido dela, não precisa mais se preocupar". Percebo que seu tom de voz mudou.

- "Senhora, eu quero ajudar, ela me contou de o pai estar doente também." Ela respira fundo.

- "Olha eu sei que você quer ajudar, mais o problema é maior. E sobre o pai dela já está sendo cuidado, pode ir para sua casa, fazer suas coisas."

- "Eu não tenho nada mais importante..." Nesse momento ela me interrompe.

- "Você sabe o que da minha filha? Ela estava ótima até você aparecer. Você tem noção dos problemas que já passamos? A Samantha é uma guerreira, ela já passou por muita coisa, então se você puder vá embora e me deixe cuidar da minha filha". Ela pensa que vai me afastar com isso.

- "Eu já sei toda a história do tal Pedro, do abandono do pai e etc., e mesmo assim quero ajudar".

- "Você acha que sabe toda a história? Não sabe nem a metade. Quando o pai dela foi embora todo mundo virou as costas para nós, eu trabalhava 24 horas por dia, a Samantha vivia sozinha, praticamente passamos fome, muitas vezes ela comia apenas na escola, e quando essa fase passou, ela sofria muito preconceito na escola por não ter o pai, a coitada sempre me ajudou em casa, e quando tudo estava calmo perdeu o namorado, e se culpa até hoje. Eu tenho certeza que a culpa não é dela, todos os peritos falaram que não foi, os motoristas do outro carro também estavam alcoolizados, mas ela não se perdoa.". Já não estava falando comigo, e sim relembrando uma história muito triste e chorando.

Vou até ela tentando consolar.

-"Menino eu amo minha filha, mas nossa vida é complicada demais, você não vai aguentar, ela é durona e tudo mais, mas por dentro é toda quebrada, por isso fuja enquanto você não está envolvido, pode parecer estranho falar isso, mas eu conheço bem toda essa história. E eu sou a mãe e infelizmente boa parte dos problemas eu estou no meio, devido o trabalho fui muito ausente, ela se criou sozinha. Nunca me culpou, mas não teve uma infância e adolescência normal". Enquanto ela falava tentei imaginar a vida da Samantha, eu tive uma infância feliz, não éramos ricos, mas felizes e unidos.

Deixo ela chorar e quando percebo que está mais calma, tento novamente conversar – "Entendo toda a preocupação da senhora, e confesso que é uma situação totalmente nova, mas não vou desistir da sua filha, não sei o motivo, mas algo me liga a ela, parece loucura, mas estou disposto a ser jogado nesse poço junto com ela, então me deixe ajudar. Já me mandaram embora e mesmo assim eu não fui, e não vou a lugar algo, sei que ela é uma boa pessoa, só precisa descobrir isso."

Ela me abraça e chora mais ainda – "Rapaz, eu agradeço, mas se quiser desistir vá em frente, a Samantha não é fácil, e depois disso tudo será pior ainda".

Isso eu tenho certeza.

Ficamos ali em silencio, observando nossa menina-mulher. Sei que no futuro esse dia será lembrando como o inicio de uma historia, pelo menos espero isso.

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⏰ Última atualização: Sep 29, 2020 ⏰

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Devaneios de uma mulher de 30Onde histórias criam vida. Descubra agora