11 - Vera

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O tão esperado momento chegou, vamos encontrar o "papai", só Deus sabe como está sendo difícil para mim, tentei a todo o custo impedir a Sam de vir junto, mas minha filha é muito melhor que eu, e jamais me deixaria sozinha em um momento como esse, e aqui estamos nós.

Entramos na recepção do hospital, e vemos uma moça realizando a triagem.

"Bom Dia, viemos para visitar o Renato, ele esta no quarto 38, no terceiro andar".

A atendente olha para uma tela, em busca do quarto - "Vocês são familiares do paciente precisos dos documentos de identidade, como ele está na UTI, apenas familiares estão autorizados".

"Sou a Esposa dele, aqui estão nossos documentos" - Como foi horrível dizer isso, e só nesse momento percebi que fiquei todos esses anos presa a ele, em nenhum momento pensei em me separar formalmente, o trauma do casamento furado foi tão grande que nunca mais me relacionei com ninguém.

"Ok, vocês estão autorizadas, precisam de ajuda para localizar o quarto?" ·.

"ÑÃO!" - já estava sendo horrível, se ainda tivéssemos que entrar juntas em um elevador e contar toda nossa "linda historia familiar", eu surtaria e toda a minha aparência de mulher bem resolvida iria desaparecer, e o pior de tudo, minha filha perceberia que sua mãe não é tão forte quanto parece, e ela não merece passar por isso.

"Tudo bem" - a moça assente, e percebo seu constrangimento.

"Perdoe-Me, é tudo muito novo para-nos".

"Sem problema, só precisam seguir até o elevador, é o segundo quarto à esquerda".

Saímos do elevador e percebo que a Sam está tão tensa quanto eu. Pego em sua mão e digo: "Filha, você não precisa passar por isso, não sabemos como ele está, é tudo novo e doloroso demais para você".

"Mãe, nos estamos nessas juntas... somos uma dupla dinâmica, você não vai passar por isso sozinha, eu já falei". Nesse momento nos abraçamos, e percebo que estamos tentando encontrar forças para abrir a porta. - "Vamos abrir essa porta e enfrentar isso logo".

Dirijo-me a porta, e abro. A pessoa que vejo não lembra em nada, o marido agressivo e bêbado que vi há quase 25 anos atrás, ele está magro, com olheiras, o cateter próximo ao pescoço está bem visível, as veias grossas são a prova de que realmente seu estado é grave.

Continuamos em silencio, por longos segundo, e percebo que não conseguirei dar o primeiro passo.

Respiro fundo, vamos lá Vera, coragem, você já enfrentou coisas muito piores. Segura as mãos de Samantha e juntas falamos "Oi".

Percebo o desconforto nele, ao Responder: "Oi, tudo bem com você"?

"Não queria que esse reencontro fosse dessa forma"

"Mas foi, e agora estamos aqui certo, como você está? precisa de alguma coisa, o médico da manhã já passou?". Não consigo ser amorosa ou nada desse tipo, preciso ser pratica, estamos aqui apenas porque a justiça não me permite dar as costas a ele, como o mesmo fez a vida toda.

"Ainda não, acredito que ele virá agora que vocês chegaram, a assistente social já informou meu estado a vocês, correto?"

"Sim, a mamãe também está com as copias dos seus exames, e hoje vamos verificar se vocês ficaram na casa dela ou na minha casa, precisamos saber quanto tempo você ficará no hospital, se já tem uma previsão de alta para nos organizamos".

Minha filha realmente é muito melhor que eu, nunca nos meus piores pesadelos pensei que ela precisaria passar por isso, nesse momento com sua vida toda organizado, sua carreira fluindo, a coitada precisar parar tudo para ajudar a mãe, que não prestou nem para casar com um pai decente.

Nesse momento a porta abre.

Graças a Deus, o médico. 

Devaneios de uma mulher de 30Onde histórias criam vida. Descubra agora