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Aquela semana não estava sendo boa para Xiao, primeiro ele estava preocupado com as feridas de Xue e não conseguiu se concentrar no trabalho, depois ele simplesmente não conseguia esquecer o acontecido na sala do conselho estudantil e agora estava com muita dor de cabeça. Sem muita escolha ele passou na farmácia no caminho de casa e comprou um vidro de remédio para dor. Quando chegasse teria que esconder muito bem para a-Qing não visse que ele estava tomando algo sem permissão médica, mas marcar uma consulta apenas por uma dor de cabeça era exagero demais.

Como já estava de noite, a-Qing tinha trancado a porta e provavelmente estava dormindo, ele não tinha ideia se Xue já havia chegado, mesmo assim trancou a porta atrás de si e foi verificar. Havia apenas um prato de comida na mesa, então Xue provavelmente estava em casa e já tinha dormido também. Ele decidiu esquentar a comida e enquanto estava virado para o micro-ondas alguém o abraçou por trás.

-Xue Yang.

A-Qing nunca faria algo assim, ela sabe do passado dele, por isso sempre respeitou a regra de avisar antes de tocá-lo, mas por alguma razão ele tinha vergonha de contar para Xue sobre isso e simplesmente deixava que ele fizesse o que queria, apesar de ter um mini ataque cardíaco toda vez.

-Por que você sempre diz meu nome como se estivesse me dando uma bronca?

O rapaz reclama, mas não solta Xiao, desde que eles haviam ficado mais... íntimos Xue estava com a mania de tocá-lo livremente, não que fosse ruim, mas deixava o outro confuso.

-Porque eu normalmente estou, você me assustou. O que fez hoje?

Xue normalmente ajudava a-Qing nas tarefas de casa ou saia depois da escola e voltava um pouco antes dele, pelo menos era o que irmã havia lhe contato durante suas conversas por mensagens algumas vezes. Ele nunca perguntou onde o outro ia com medo de que a resposta envolvesse aqueles amigos nada confiáveis que havia encontrado da última vez.

-Eu fui buscar isso.

O rapaz soltou Xiao e colocou a mão no bolso, retirando um bolo de notas que colocou nas mãos do outro.

-O que é isso? Onde conseguiu?

Usando o tato Xiao determinou que era dinheiro e não era pouco, daria para fazer alguns reparos na casa e eles comeriam bem por alguns meses sem se preocupar em pagar a escola. O problema é que ele não queria dinheiro que trouxesse problemas e apesar de não achar que Xue seja uma pessoa má, ele não anda nas melhores companhias, por isso a procedência desse dinheiro não pode ser confiada.

-Eu faço alguns trabalhos as vezes, tinha um dinheiro guardado, já que você me deixa ficar, nada mais justo do que eu dar para você.

Quando o micro-ondas apitou, Xue foi sentar-se à mesa para esperar Xiao que colocou as notas no bolso e veio sentar com ele para comer.

-Você tem ficado fora até tarde e a-Qing disse que não é normal, imaginei que precisasse de dinheiro, então decidi ajudar.

O jovem ladrão roubava um pouco de comida do prato do companheiro pensando que ele não notaria, mas Xiao apenas fazia vista grossa porque não se importava em dividir.

-Que tipos de trabalho você faz?

Ele não gosta muito de se meter na vida de Xue, mas agora que eles estão morando juntos, há algumas coisas que ele gostaria de saber pelo bem de sua irmã principalmente.

-Tenho uns amigos que sempre precisam de caras fortes para fazer coisas, desde mudança até intimidação e luta, você ficaria surpreso com o quanto dá para ganhar numa casa de apostas forjando lutas.

O rapaz mais velho suspira cansado e Xue para de falar, envergonhado com o que devia passar pela cabeça de Xiao.

-Desculpe não ser tão inteligente quanto você para arranjar um bom emprego.

Xiao parou de comer e olhou para o rapaz ao seu lado, segurando o rosto dele para que as palavras não escapassem aos seus ouvidos.

-Você sabe porque eu preciso ser inteligente? Porque as pessoas pensam que alguém cego não pode fazer nada sozinho. Não é uma escolha minha, cada um de nós luta da sua maneira Xue, eu sei que você também está.

Xue estava agradecido que Xiao não podia ver seu rosto naquele momento, porque se não saberia o quão vermelho e a ponto de chorar ele estava. Ninguém nunca havia feito nem metade do que o vice-presidente estava fazendo, pareciam atitudes simples, mas para alguém que não tem nada, aquilo era como uma salvação.

-Apenas não se meta em negócios ilícitos e nem machuque outras pessoas, você pode trabalhar comigo, vou te apresentar aos meus chefes.

Ele tirou as mãos do rosto de Xue que por sua vez abraçou a cintura dele, enterrando a cabeça em seu ombro para esconder a vergonha e a gratidão expressas em seu rosto.

-Xiao Xingchen, você acaba comigo.

Era tudo que ele conseguia dizer enquanto dava risada para tentar se acalmar do turbilhão de emoções. Xiao apenas deu alguns tapinhas nas costas dele, sem saber o que havia de errado ou como ajudar.

O que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora