O que há entre nós

10

Somente Xue dormiu naquela noite, Xingchen tentou a todo custo adormecer, mas a dor de cabeça foi ficando mais forte, chegando em um ponto no qual ele precisou levantar da cama para lavar o rosto e tomar outro comprimido de remédio.

-Xingchen?

O outro rapaz chamou sonolento quando acordou e viu que estava sozinho na cama, nenhuma luz estava acesa porque não faria diferença para Xingchen, mas Xue detestava o escuro e correu para acender a luz do quarto e procura-lo, ainda não era de manhã para estar acordado.

Ouvindo a movimentação vinda do quarto e com medo de acordar a-Qing, Xingchen acendeu a luz do banheiro rapidamente para sinalizar que estava lá e Xue foi ao seu encontro.

-O que houve? Algo errado?

Xingchen estava debruçado sobre a pia, com a mão cobrindo os olhos e sem sua faixa, ele tinha vergonha de encarar as pessoas, ser cego já era ruim, mas perceber o choque, nojo e piedade que sentiam ao ver seu rosto era pior.

-Não olhe para mim.

Ele queria soar mandão, mas ao levantar o tom de voz sua cabeça parecia que ia rachar e até seus joelhos cederam, fazendo com que Xue se apressasse para segurá-lo.

-Eu não estou olhando, mas me diga o que há de errado.

Xiao tentou empurra-lo, mas não conseguiu e acabou se apoiando no peito do rapaz que o segurava.

-Minha cabeça.

Xue pegou o rapaz no colo, ignorando as reclamações se o levou para o quarto, colocando ele na cama. A quanto tempo Xiao não recebia cuidados de alguém que não fosse a-Qing? Ele tentava ao máximo não ser um fardo e fazer tudo sozinho porque sentia que ninguém se importaria mesmo que ele chorasse, no entanto, aqui estava Xue cuidando dele.

-Vou fazer uma compressa quente, espere aqui.

O rapaz foi até a cozinha, pegando água quente e um pano para tentar aliviar a dor de Xingchen, ver ele naquele estado era assustador, poucas coisas o assustavam depois do que viu nas ruas, mas ver alguém querido com dor conseguia fazer suas mãos tremerem.

Com as compressas quentes e o remédio, Xiao conseguiu adormecer por algumas horas. Xue também acabou dormindo sentado na cama ao lado dele e quando acordou de manhã estava sozinho novamente, temendo o pior ele foi atrás de Xingchen no banheiro, mas encontrou os dois irmãos tomando café na cozinha.

-Bom dia, finalmente acordou?

A-Qing perguntou enquanto comia. Xingchen estava sentado de frente para ela comendo devagar, desta vez ele estava usando sua faixa habitual para cobrir as cicatrizes nos olhos, aquele tipo de cegueira não era natural.

-Eu pedi para a-Qing embalar seu café para que pudesse comer no caminho, você não dormiu muito ontem.

Xiao apontou para uma marmita em cima da mesa, mas Xue ainda olhava para ele preocupado.

-Você também não.

O rapaz apenas sorriu em resposta, não parecia a mesma pessoa da note anterior, como se aquilo fosse apenas um sonho.

-Eu me sinto revigorado, não se preocupe.

A-Qing olhou de um para o outro desconfiada enquanto comia, aquela conversa estava estranha, mas sua mente tomou o caminho errado ao tentar desvendar o motivo.

-O que vocês dois ficaram ontem à noite?

Xue olhou para o rapaz sentado na frente da irmã imaginando o que ele iria responder, Xiao não queria que ela soubesse que estava com dor ou teria pedido a ajuda dela, então como explicaria o que havia acontecido?

-Xue e eu ficamos conversando ontem à noite depois que eu cheguei do trabalho e acabamos não dormindo muito.

Era uma boa desculpa, mas a-Qing não parecia muito convencida, apesar de não pressionar nada. Xiao se levantou para guardar o restante do café da manhã praticamente intocado na geladeira, assim como havia feito com o jantar na noite anterior, Xue ia reclamar, mas a-Qing foi mais rápida que ele.

-Não vai comer de novo? Tem algo errado com a comida?

Percebendo o erro que havia cometido, Xingchen anda de volta até a mesa e esfrega a cabeça dela.

-A comida está ótima, prometo comer mais hoje à noite. A propósito, poderia comprar bife, faz tempo que não comemos carne.

Xingchen entregou uma nota para a menina que olhou para ele desconfiada, mas guardou o dinheiro com ela.

-Tudo bem, vou fazer algo bem gostoso para o jantar, então estejam em casa cedo.

Xue acenou com a cabeça, mas seus olhos ainda estavam no outro que sorria angelicamente, mas agora parecia de alguma forma bem falso.