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Após a aula Xiao gostava de passar o tempo antes de ir trabalhar na sala do conselho estudantil e todos respeitavam seu momento ficando em silêncio quando queriam usar o ambiente, ele não tinha muito tempo para fazer os deveres e estudar por isso precisava usar sabiamente todo o tempo e silêncio possível para se concentrar. Normalmente Zichen lhe fazia companhia, mas o amigo havia ido visitar a família hoje, deixando o vice-presidente sozinho.

Enquanto resolvia um exercício de matemática complexo um rapaz entrou correndo na sala, dava para saber que ele não era do conselho pela forma brusca que o fez, assustando Xiao.

-O que houve?

Deveria haver uma razão para ele adentrar a sala tão rapidamente daquela forma e ter corrido o bastante para estar sem fôlego e precisar se apoiar na mesa.

-Sua irmã...

Ele já imaginava o que era apenas com aquelas palavras e saiu correndo deixando suas coisas onde estavam, indo até a parte de trás da quadra. Aquele era o lugar escolhido para toda e qualquer coisa que fosse feita fora do regulamento escolar, inclusive bullying. Apesar de cego Xiao não era burro para não saber que a irmã sofria ameaças, muitas vezes por conta dele, Zichen o defendia, mas não havia ninguém para defender A-Qing além dele.

Assim que chegou ao local correto ele ouviu as vozes de alguns estudantes gritando, dentre eles uma garota e não pode deixar de sorrir com o quão brava ela era de enfrentar a todos daquela forma.

-Qual é o problema hein ceguinha? Fala para o seu irmão pegar leve se não seu vestido vai ser só a primeira coisa que vamos rasgar.

Ouvir aquilo fez Xiao congelar no lugar, só de imaginar que eles pudessem ter tocado sua irmã o causava uma dor tremenda no peito.

-Quer rasgar? Vai em frente e dê uma boa olhada porque nunca vai ver outra mulher linda como eu... Ah...

Ouviu o tapa sendo deferido e fez menção de me mover, mas uma mão no seu ombro o para e ele ouve voz conhecida vindo de trás dele.

-Vem comigo.

Xue toma a dianteira estralando os pulsos e chamando a atenção do grupo.

-Hey.

Xiao ficou a alguns passos de distância como o outro sugeriu, seus punhos cerrados e respiração ofegante deixavam claro que havia corrido e com isso a adrenalina liberada havia deixado ele pronto para brigar.

-Precisa de tantos assim p intimidar uma garota? Vocês são uns bundões mesmo.

-Xiao.

A-Qing chama seu nome surpresa e vem correndo na direção dele que a envolve nos braços protetoramente enquanto a apalpa seu corpo em busca de feridas e rasgos na roupa.

-Sai daqui Xiao.

A voz de Xue era baixa e não deixava espaço para discussão, ele balança a cabeça e arrasta A-Qing de lá. Assim que estavam a salvo Xiao para e segura os ombros da irmã com cuidado.

-Vá para casa e tranque a porta A-Qing, só abra para mim.

A-Qing toca rosto do irmão preocupada que ele vá se meter em alguma encrenca para protegê-la, a situação dos dois já é precária, se algo mais acontecer eles estão a um passo de um orfanato.

-Certo.

Como ele é tudo o que ela tem, A-Qing respeita as ordens do irmão, foi assim que sobreviveram nos últimos anos e ele nunca a deixou na mão, só podia esperar que desse tudo certo para que Xiao voltasse a salvo.

Ela saiu correndo da escola para casa e trancou a porta como prometido esperando pelo irmão abraçando os joelhos. Enquanto isso Xiao voltou para pegar suas coisas e foi em direção a parte de trás da quadra onde havia deixado Xue. O lugar estava silencioso e cheirando a sangue fresco. Xiao tateou em busca de Xue, até encontrá-lo caído, pelo menos esperava que fosse ele.

-Xue, Xue Yang?

Ele dá batidinhas no rosto do outro que resmunga alguma coisa inaudível ates de se levantar.

-Você está bem? Precisa de um médico?

Xue esfrega o rosto e choraminga por causa de um corte nos lábios, os outros rapazes haviam fugido depois da briga, mas ele se deixou cair no chão e ficaria lá até ser encontrado, só não esperava que por Xiao.

-O que você faz aqui, Xiao?

Ele reclama cuspindo o sangue que havia se acumulado em sua boca. O rapaz de longos cabelos negros e face branca como a neve recém caída o encarava preocupado, fazendo seu coração bater de um jeito estranho e deixando ele envergonhado. Mesmo com a faixa sobre os olhos ele sabia que estava sendo analisado.

-Se alguém encontrá-lo aqui será expulso e meu esforço de hoje de manhã terá sido em vão.

Não é bem uma resposta, mas ele devia saber melhor do que interrogar alguém tão misterioso quanto Xiao. O rapaz tenta se levantar apoiando na parede com dificuldade e Xiao levanta com ele, segurando sua mão e sentindo os nós dos dedos esfolados.

-Obrigado pelo que fez por mim.

Xue não queria agradecimentos, ele se sentia envergonhado pelo que fez, mais do que jamais se sentiu quando estava fazendo coisas realmente vergonhosas.

-Estamos quites agora.

Tentou puxar sua mão quando estremeceu sentindo o toque gelado de Xiao, mas se desequilibrou e o outro teve que ampará-lo.

-Você precisa tratar essas feridas, eu te levo para casa.

Xue solta uma risada que termina em tosse, esse realmente estava sendo um dia estranho, pareceria até mesmo um sonho se não fosse pela dor.

-Eu não tenho casa, me deixa em algum banco.

Ele tenta cambalear em direção à saída do colégio, mas sua visão fica turva e ele sente o corpo amolecer nos braços de Xiao até ficar inconsciente.

O que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora