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A-Qing se sentou exausta em uma das cadeiras do hospital e Zichen sentou ao lado dela, puxando a menina para um abraço.

-Ele vai ficar bem, eu sei que sim.

-É tudo culpa minha.

Pela primeira vez ela chorou, era doloroso ouvir a angustia em sua voz. Xue sentou do outro lado dela e afagou suas costas de forma desajeitada.

-Você sabe que não é verdade.

-Como ele... se feriu?

Xue achou que era a melhor hora para perguntar, assim não traria à tona nenhuma memória ruim, já que a menina parecia estar pensando naquilo. Ela secou os olhos e se sentou direito para contar.

-Você não precisa falar nada.

-Eu sei, mas Xue merece saber.

Aquele assunto não era algo em que Zichen tivesse o direito de se meter, então aceitou a decisão da menina de contar a Xue.

-Nossa mãe morreu quando eu nasci, meu pai me odiava e descontava a raiva em mim depois de beber. Xingchen sempre me protegia e acabava sendo castigado no meu lugar. Ele ainda tem todas as cicatrizes. Quando tinha 10 anos nosso pai voltou tarde da noite e me arrancou da cama pelos cabelos, ele me arrastou até a sala e Xingchen veio atrás. Ele disse que não aguentava mais ver meu rosto e ia consertar isso, não sei onde ele conseguiu o ácido. Xingchen entrou na minha frente e aquilo pegou nos olhos dele, tinha tanto sangue. Nunca vou conseguir esquecer o quanto ele gritava, gritou até desmaiar, os vizinhos chamaram a polícia e desde então nosso pai está preso, mas não houve nada que pudessem fazer pelos olhos do eu irmão, a não ser cobri-los, ele nem consegue chorar porque só sai sangue.

Xue se lembrou do rosto ensanguentado de Xingchen quando entrou no quarto, ele estava chorando, por isso ficou daquele jeito. Não sabia o que dizer para confortar a-Qing naquele momento.

-A culpa não é sua, seu irmão fez aquilo porque queria te proteger, a culpa é toda do seu pai, não pense nisso.

Uma enfermeira saiu com a prancheta na mão e chamou pela família de Xiao Xingchen, a-Qing se levantou imediatamente.

-Como sabe, seu irmão tem uma lesão séria no rosto, o estresse e exaustão causaram uma inflamação que por sua vez levou ao aumento da pressão arterial e o sangramento da cavidade ocular. O estado dele no momento é estável, mas vamos precisar mantê-lo no hospital para tratamento.

A menina acenou com a cabeça, pensaria depois em como pagar por tudo, no momento o que importava era manter seu irmão vivo.

-Eu cuido de tudo, por favor não se preocupe.

Zichen assegurou abraçando a menina novamente.

-Eu posso vê-lo?

A enfermeira concordou e acompanhou a menina até o quarto, Zichen e Xue não podiam entrar por não serem parentes do doente.

-Por que você ainda está aqui?

-O hospital é público, você não pode me expulsar daqui.

Xue retruca sentando novamente nas cadeiras da sala de espera, Zichen esperava que ele tivesse o mínimo de decência de ir embora já que Xingchen ficaria internado.

-Será que você não entende? Ninguém te quer aqui, tudo o que você fez desde que apareceu foi causar problemas para o Xingchen. Ele não precisa de mais esse peso em cima dos ombros. O que alguém como você tem a oferecer? É só um delinquente inútil vivendo de favor. Se realmente quer o melhor para ele vá embora.

Xue não tinha como responder aquilo porque achava que era verdade, não estava vivendo de favor, mas o resto tudo estava certo. O que tinha para oferecer a Xingchen, dinheiro sujo ganho nos seus bicos desonestos? Uma companhia que não tinha nem metade da inteligência dele? Zichen era alguém muito melhor para estar ao seu lado e por saber disso que o odiava. Já era hora de acabar com aquilo, o delinquente nunca leva a garota no final da história mesmo.

-Por favor, cuide dele.

Não olhou na cara do rapaz, apenas saiu pela porta sem saber para onde iria. Não havia nada que precisasse pegar na casa dos Xiao, nunca houve um espaço dele lá ou em lugar nenhum. Ele nunca deixou de ser um nômade, foi tolice pensar que finalmente havia encontrado um lar.

O que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora